Quinta 25 de Abril de 2024

Juventude

INVASÃO DA POLÍCIA NO MALETTA

Repressão do Estado e dos governos em primeiro lugar aos jovens, negros e trabalhadores!

12 Nov 2012   |   comentários

A Policia Militar e Civil de Minas Gerais fizeram uma operação no prédio Maletta, conhecido historicamente pelos bares e concentração de jovens no centro de Belo Horizonte. Com dezenas de seus membros e seus cachorros mostraram mais uma vez a prática cotidiana desta polícia racista que se auto-intitula a "melhor do país": a militarização e moralização do espaço público, com especial repressão aos jovens.

O Edifífio Maletta foi invadido por dezenas de policiais, civis e militares, com cachorros no que chamaram de operação “Boemia Segura”. Com a desculpa de combater o suposto tráfico de drogas, os policiais impediram passagens, fecharam o prédio, fizeram revistas, usaram cães farejadores para intimidar as pessoas, apagaram vídeos e fotos e agrediram fisicamente jovens no local. Cinco pessoas foram detidas, dentre elas uma jovem que foi agredida pelos policiais e levada a força, semidespida, para a viatura.

A última operação policial de maior proporção que a recém ocorrida no Maletta foi em 2003, na prefeitura de Fernando Pimentel, o petista que articulou, junto a Aécio Neves, a candidatura do atual prefeito Márcio Lacerda. Naquele então, jovens foram obrigados a deitar no chão, sofrerem revistas humilhantes e constrangedoras por parte da polícia.
Passado os anos, num estado que tem seu governo nas mesmas mãos articuladas por Aécio Neves e com a prefeitura nas mãos daquela que foi uma articulação primeiramente entre petistas e tucanos, Minas Gerais continua sendo um estado de extrema violência para a juventude: BH é a 7ª capital brasileira com maior taxa de homicídios entre jovens de 15 a 24 anos, sendo que em 2008 alcançou o índice de 4 mortes a cada 3 dias entre jovens. Na grande BH, 3 cidades estão entre as 20 que mais registram homicídios na adolescência: Contagem em 13º ; Betim em 19º ; Ribeirão das Neves em 20º [1]. Entre estes jovens, grande parte são negros, pobres, trabalhadores e operários.

Enquanto a juventude negra e trabalhadora sofrem com os maiores índices de violência, o Estado se orgulha em dizer que é o que mais investe em segurança pública. Esses senhores batem no peito dizendo que são os pioneiros de programas de policiamento preventivo nos que se baseiam as UPP’s no Rio de Janeiro, como exemplo o Programa “Fica Vivo”, que faz uma parceria entre as polícias, o estado, prefeituras e universidades como a UFMG para reprimir e controlar a juventude. O programa foi criado em 2003, durante a prefeitura do petista Fernando Pimentel em convênio com o então governador Aécio Neves. Mais uma vez pode-se ver que nas mãos da burguesia de Minas Gerais, como do PSDB e do PSB e de seus representantes, como PT e PCdoB, a juventude segue como vítima e alvo preferencial dos índices de violência e da ação repressiva da polícia.

A polícia e o Estado tentam fazer demagogia com programas como “Fica Vivo” ao mesmo tempo que adotam sistematicamente uma postura ostensiva no policiamento como parte do caráter racista desta polícia que volta sua violência em primeiro lugar aos jovens negros e trabalhadores. Quantas ações policiais já não foram feitas no tradicional reduto de jovens no Duelo de MC’s? Quantas vezes os policiais não ameaçaram os jovens lá presentes, chegando inclusive a interferir no palco, desligando o som para tentar garantir um completo controle social no local? O raper Emicida, num show no Barreiro há poucos meses, não pôde sequer cantar uma música sem a intervenção policial. Quantos jovens não levam esculacho da polícia indo para suas casas ou saindo de seu trabalho, ainda mais em regiões como Venda Nova, Barreiro, Cidade Industrial, Santa Luzia entre outras comunidades, bairros pobres e bairros operários? Quantos foram os jovens professores e operários que foram reprimidos pela polícia nas greves da rede estadual e na paralisação recente da Belgo em Contagem? Quantas jovens não são vítimas cotidianas de abuso sexual ou estupros por parte de policiais? Para todas as perguntas a resposta é: muitos! Quantos são os jovens despejados e violentados pela polícia nas ocupações urbanas? Porém todos estes dados, propositalmente, não estão disponibilizados nos relatórios mensais da SEDS (Secretaria de Estado de Defesa Social).

A realidade da juventude pobre e trabalhadora em Minas Gerais é a realidade da intensa repressão policial, da militarização e moralização do espaço público legalizadas em nome do policiamento ostensivo da que se autointitula como a “melhor policia do país”... só se for em matéria de repressão! A ação da polícia no Maletta é parte do mesmo projeto de repressão cotidiana à juventude pobre e negra, com a diferença que a primeira, por hora, é esporádica; a segunda, cotidiana. Porém ambas atuam contra a livre organização, manifestação e sociabilidade da juventude.

O “choque de ordem” dado no Maletta não pode ser visto fora deste cenário de violência contra a juventude no estado, em especial em Belo Horizonte e na grande BH. A mesma polícia que apavora, esculacha, violenta e assassina jovens negros, pobres, operários e trabalhadores nos conglomerados, bairros operários e na grande BH é a mesma que precisa constantemente aplicar seus “choque de ordem” em áreas centrais, como ocorrido no Maletta. Tentam mostrar com seus "choques de ordem" que quem manda neste estado são as leis da burguesia branca e racista, que se volta cotidianamente contra a população trabalhadora e pobre e que também não aceita sequer a concentração de jovens por fora de seu controle direto.

Este plano só pode estar a serviço da maior intimidação daqueles que são os primeiros a sofrerem as mazelas de um sistema capitalista decadente; os jovens são os primeiros alvos da crise que impacta no Brasil com a intensificação da precarização da vida e a precarização do trabalho, com jornadas extenuantes de trabalho, horas extra, alta rotatividade. É o mesmo sistema que para manter e intensificar sua exploração e opressão tem que restringir os espaços sociais e políticos da juventude, manter esses espaços sob o controle direto do Estado e de seus representantes como a burocracia acadêmica nas universidades que interferem nas entidades estudantis assim como processam estudantes por lutar, que cortam o ponto também de jovens professores como na greve das universidades federais.

Apenas a aliança revolucionária da juventude com a classe trabalhadora é que pode apontar para um futuro digno para juventude da região! Apenas esta aliança pode ter força para lutar nas comunidades e instituições de ensino pela retirada da polícia das escolas, universidades, dos conglomerados e dos bairros operários; pelo fim do vestibular para que todos possam estudar; para que tenhamos direito a nossos corpos com o direito ao aborto livre, legal seguro e gratuito evitando nossa morte precoce devido ao aborto clandestino; para que as drogas sejam legalizadas e não gere mais violência e homicídio contra os jovens; pela escala móvel de horas de trabalho [2] para que não deixemos nossas vidas nas fábricas, sem sequer direito a finais de semana, e nos organizemos contra os ataques patronais, que desejam produzir mais com menos trabalhadores e menores custos; para lutar contra o controle estatal sobre a juventude, pelo livre acesso à cultura e ao esporte, passe livre aos estudantes e desempregados; pela efetivação e/ou contratação imediata de todos os trabalhadores precarizados, em sua maioria jovens!

Essas demandas democráticas só podem ser realmente conquistadas através de uma luta pela dissolução da polícia e de todos os órgãos repressivos do estado por via da auto-organização dos trabalhadores e do povo lutando por sua auto-defesa. Enfim, para que a juventude tome à frente do que cabe a ela: o futuro, junto à classe operária, por fora das amarras de toda opressão e exploração capitalista!

Abaixo a repressão!

Fora a polícia das comunidades, escolas e universidades!

Fora polícia dos espaços de convivência da juventude!

[1Dados retirados de “Mapa da Violência 2011: os jovens do Brasil”.

[2Ou seja, dividir as horas de trabalho entre todos os trabalhadores, adequando as necessidades de produção à manutenção dos empregos de todos, sem qualquer redução salarial ou flexibilização de direitos. Trabalhar menos para garantir todos os empregos!

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