Sexta 19 de Abril de 2024

Internacional

Rebelião estudantil na Universidade Técnica de Oruro (UTO)

10 Sep 2004 | Por uma universidade com governo tripartite e maioria estudantil e à serviço da luta operária e popular   |   comentários

Entre os estudantes bolivianos cresce um amplo descontentamento contra o autoritarismo e os escandalosos privilégios de catedráticos e autoridades. Na UTO, o descontentamento se transformou em rebelião e no mais radical questionamento às estruturas atuais.

Em fins de agosto os representantes dos docentes tentaram impor no Conselho Universitário um aumento de salário que foi rechaçado pelos estudantes, pois há catedráticos com salários muito altos, enquanto os funcionários que não são docentes, das categorias mais baixas, ganham uma miséria e faltam recursos e equipamentos para dar conta das necessidades mais elementares.

A maioria dos docentes se retirou do Conselho, mas ao permanecer um representante desta categoria, se votou legalmente o rechaço, que os docentes não aceitaram. Foi a faísca que terminou de acender a fogueira. Os estudantes se mobilizaram e foram às ruas, pediram e obtiveram o apoio dos sindicatos e da população.

Em 2 de setembro, uma combativa marcha estudantil tomou as instalações da Reitoria obrigando o reitor a renunciar. Posteriormente, outra multitudinária marcha foi agredida por elementos reacionários que ocupavam a Faculdade de Direito, generalizando o enfrentamento até que o edifício foi tomado pelos estudantes e vários direitistas foram presos, desnudados e golpeados.

Apesar das “expulsões” de dezenas de ativistas pelas ex autoridades e da repressão policial (houve vários detidos, liberados mais tarde), a luta, sustentada por uma importante vanguarda, se radicalizou e avançou até questionar a raiz do corrupto regime atual de governo universitário.

Um programa para transformar a universidade

Assim, dia 3/09, uma grande assembléia com mais de 2.000 participantes e com a participação de dirigentes da COD (Central Operária departamental), do Comitê Cívico, a FSTMB (Federação de Mineiros), grupos de mineiros, motoristas, pais de universitários e outros setores, adotou resoluções importantíssimas: conformar um “governo revolucionário da universidade” com representantes da COD, do Comitê Cívico e dos sindicatos, com os seguintes decretos:

Decreto Revolucionário Nº 1: Não reconhecimento de todas as autoridades Universitárias tomando o total controle universitário os seguintes setores: Federação Universitária Local, Federação de Mineiros, Central Operária Departamental e Comitê Cívico.

DR Nº 2: Destituição de todos os catedráticos. Cátedras livres, cátedras paralelas, e convocatória a docentes que reconheçam a este Governo Revolucionário.

DR Nº 3: Converter o Co-governo Universitário paritário em tripartite: docentes, trabalhadores, com maioria estudantil como única garantia para que a Universidade se transforme e se coloque a serviço do proletariado.

DR Nº 4: Reestruturação de todos os programas e matérias para que estas se adequem as lutas e objetivos do proletariado.

DR Nº 5: Assistência livre dos estudantes com plena participação na tomada de decisões e na política universitária.

Além disso se defendeu também uma escala de aumento salarial inversamente proporcional, congelando os salários muito altos e aumentando os rendimentos mais baixos (porteiros, pessoal da limpeza, cozinheiras, etc.). Estas determinações constituem um programa transicional extraordinariamente progressivo para a Universidade e começam a empalmar com as melhores tradições do movimento universitário boliviano, como a do pacto operário-universitário (gestado precisamente em Oruro na época da revolução de 1952) ou a Revolução Universitária de 1970.

A luta entra numa nova fase

Lamentavelmente a COD e alguns dirigentes estudantis começaram a retroceder (defendendo apenas o co-governo com maioria estudantil), com medo de romper o corrompido regime institucional vigente, e de terem sido arrastados pela radicalidade da vanguarda que encabeça a luta. Por outro lado, a direita está contra-atacando nas faculdades, apoiando-se em que entre a base existe o temor de "perder o ano", apesar de vejam o movimento com simpatia.

As ex-autoridades estão propondo como "saída" enganadora um Congresso Universitário da UTO para novembro, porém convocado por elas e segundo os caducos estatutos atuais.

Para a vanguarda que sustenta esta grande luta com sua combatividade, a chave é começar a efetivar as resoluções da Assembléia de 7/09, que resolveu realizar assembléias por faculdade para constituir Comitês revolucionários em cada uma delas, e selecionar em assembléia os docentes a serem reincorporados. Por esta via, ao começarem as aulas sob controle dos estudantes mobilizados, pode-se fortalecer a organização, disputar as faculdades contra os docentes reacionários, e mobilizar os setores ativos.

Apoio militante à UTO!

A UTO não pode ficar isolada. Sua luta é a de todo o movimento universitário, contra as camarilhas, por verbas, para transformar pela raiz o regime atual e colocar a Universidade a serviço dos trabalhadores e do povo.

Os universitários de Santa Cruz, La Paz, El Alto, Sucre e de todo o país, têm que rodear os estudantes de Oruro com o mais amplo apoio militante.

É urgente a mais ampla solidariedade ativa a nível nacional, por parte da COB (que já se pronunciou) e das organizações sindicais e populares.

Pedimos a solidariedade estudantil latino-americana e internacional para os estudantes da UTO que a partir de um canto do Altiplano, estão retomando o caminho das grandes lutas como a da UNAM no México, desafiando o regime existente, e colocando-se na trincheira dos operários e camponeses, contra os planos do imperialismo e seus aliados.

Barricada Roja é a agrupação irmã da Comuna e da JRS na Bolívia

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