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PARTIDO

Que partido para que estratégia?

16 Feb 2008   |   comentários

Amplos setores da juventude e dos trabalhadores, cansados da política burguesa, têm se colocado “contra os partidos” . Repudiam os políticos que roubam e são serventes do capital contra os trabalhadores e o povo. Não podemos mais do que compartilhar esse justo rechaço. Mas este ódio é manipulado pela burguesia para voltá-lo contra a política em geral e assim separar a vanguarda operária e popular, sobretudo na juventude, de qualquer horizonte revolucionário e dos partidos de esquerda.

A burguesia utilizou a seu favor o retrocesso dos estados operários em processo de restauração capitalista como “prova” do triunfo do capitalismo. Soube utilizar a seu favor os regimes opressores stalinistas para criar enormes ilusões na sua atual forma de domínio: a democracia burguesa ’ que não é outra coisa senão uma cobertura da ditadura do capital. Por isso, não podemos concordar com o antipartidarismo em geral, já que desconhece os elementares limites de classe que separam os partidos e os políticos dos exploradores e os dos explorados e, ainda que não seja a vontade de muitos desses setores, acaba contribuindo para perpetuar a dominação burguesa.

Ainda que este sentimento seja um obstáculo para os revolucionários, somos otimistas porque acreditamos que estas tendências autonomistas serão transitórias. As guerras imperialistas recorrentes contra os povos oprimidos com a desculpa do “combate ao terrorismo” , as enormes desigualdades que impõe seu sistema social e sua degradada democracia para ricos, junto à escola da luta de classes, somados à essencial ação dos revolucionários, vão colocar a necessidade de um partido e virar a balança a nosso favor.

Poderíamos dizer que o atual fenómeno antipartidário internacional tem como uma de suas bases o êxito de uma ofensiva ideológica burguesa, a partir da ofensiva neoliberal e da queda da União Soviética. As direções tradicionais do movimento de massas (a social-democracia ’ no Brasil, PT ’ e o stalinismo ’ o PCdoB) não só não se enfrentaram com essa ofensiva, como foram muitas vezes implementadores diretos dos planos do imperialismo, se utilizando do prestígio que tinham entre as massas para isso. O PT é um enorme e trágico exemplo.

Nesse cenário internacional, com a traição dessas direções e a falta de novas que a superassem, a resistência a esses ataques foram parciais e o processo de recomposição do movimento dos trabalhadores a nível internacional vem sendo sustentado, porém ainda lento e tortuoso. A traição desses partidos e o retrocesso dos estados operários não somente fez sair do horizonte das massas a perspectiva da revolução socialista, mas provocou um fenómeno contraditório nas rupturas com essas direções tradicionais, pois, infelizmente, ainda não deram lugar a partidos que apontem claramente no sentido classista e muito menos revolucionário.

Até agora, a principal novidade é um espaço eleitoral deixado pelas antigas direções que organizações semi-reformistas ou centristas se apressam para ocupar e tem isso como sentido de existir, reproduzindo muitas vezes a estratégia, o programa e os métodos dos reformistas, como faz o PSOL de Heloísa Helena. Por isso é importante discutir que partido para que estratégia.

PSOL: eleitoralismo e sindicalismo

O PSOL é uma referência internacional desse tipo de partido, que vem se chamando “partidos amplos” . Surge com todos os defeitos do PT e sem a qualidade de ser um partido ligado às massas trabalhadoras como o PT nas suas origens. Tem uma estratégia que podemos chamar de “desgaste” que poderíamos sintetizar como sindicalismo e eleitoralismo [1], a mesma que fez o PT se transformar numa ferramenta cada vez mais funcional ao Estado burguês. É um partido antigovernista, mas seu programa não é classista, muito menos revolucionário. Para demonstrar isso, poderíamos escrever páginas, mas basta dizer que o PSOL: a) não defende a elementar demanda antimperialista de não pagamento da dívida externa, mas a “auditoria cidadã” ; b) não defende o salário mínimo do DIEESE que é o mínimo para se sustentar uma família trabalhadora. Nas eleições o programa de um salário mínimo que chegasse a R$700,00 em quatro anos o que demostra que é um partido antioperário; c) vota uma lei profundamente antioperária como o Super-simples; d) sua principal figura, Heloísa Helena, é contra o direito ao aborto seguro e gratuito, causa pela qual morrem centenas de mulheres por ano. Um leitor perspicaz verificará que é um programa feito sob medida para ganhar setores não monopólicos da burguesia nacional e as classes médias, mas não para os trabalhadores e o povo pobre. É por isso que dizemos que o PSOL é um partido pequeno burguês eleitoralista [2]. Além disso, por trás da falsa democracia interna da “liberdade de tendências” , se esconde a liberdade para que os parlamentares e carreiristas façam o que quiser em nome do partido, como no PT. Àqueles que queiram construir algo classista ou revolucionário que estão no PSOL, só podemos chamar a que rompam com esse partido.

E qual é a estratégia do PSTU?

O PSTU se reivindica revolucionário, faz propaganda do socialismo em alguns de seus materiais e reivindica a revolução russa, ainda que do ponto de vista teórico faça uma confusão eclética na reivindicação da revolução chinesa e cubana, herança do legado de Nahuel Moreno que reivindica até hoje [3]. Porém, na prática, desde que era corrente interna do PT, nunca deixou de reproduzir o modo petista de militar e de adaptar-se permanentemente à “estratégia de desgaste” .

Depois se adaptar à burocracia lulista na transição e no PT, de atuar durante vários anos praticamente como uma “corrente externa” do PT, chegando a votar em Lula nas eleições de 2002, agora segue o PSOL e Heloísa Helena. Sempre buscando de alguma maneira eleger parlamentares, se dispondo inclusive a se dissolver em frentes eleitorais que passam longe do classismo. Isso se explica por sua adaptação à “estratégia de desgaste” e sua concepção de “partido das lutas” , ou como eles mesmos costumam agitar: “lute e vote” . E isto vai acompanhado com um sindicalismo que copia o modo petista de militar por fora das necessidades da luta de classes e seguindo as pautas das data- bases [4].

Se fosse um partido que se preparasse seriamente para a revolução, o PSTU, em mais de 15 anos de existência, teria alguma história de intervenção qualitativa na luta de classes para contar [5], teria elaborações marxistas sérias e de alto nível que aportassem para o marxismo e teria uma política de formação de quadros para que fossem qualitativos nos momentos de maior radicalização. É justamente porque o PSTU não faz isso que consideramos que do ponto de vista da estratégia, é um partido centrista, quer dizer, oscila de forma eclética entre a reforma e a revolução.

A LER-QI e a construção do partido revolucionário

Essa debilidade estratégica do PSOL e PSTU cobra ainda maior preço frente ao atual cenário de crise económica internacional, que re-coloca a atualidade da definição de que vivemos numa época de “crises, guerras e revoluções” e é necessário se preparar para essa perspectiva.
Esses são alguns dos motivos que nos fazem construir uma organização independente e lutar para que novos trabalhadores e jovens impulsionem conosco essa tarefa desde já. Acreditamos que essa é a forma mais conseqüente de aportar na construção de um partido revolucionário dos trabalhadores, da juventude e do povo explorado e oprimido, com um uma estratégia revolucionária de luta pela tomada do poder pela classe trabalhadora aliada ao povo pobre. Porém, não somos como algumas seitas estéreis que pensam que se pode construir um partido revolucionário de maneira evolutiva, engordando aos poucos. Não temos dúvida que cedo ou tarde iremos nos fundir com valorosos militantes revolucionários de outras organizações, em particular os que reivindicam a tradição trotskista como o PSTU, porque um partido revolucionário só pode se construir a partir das inevitáveis rupturas e fusões que se dão em momentos mais agudos da luta de classes. Além disso, e sem abandonar nosso norte estratégico, também participaremos de todas as experiências da classe operária que tenda à independência política como poderia ser um novo partido de massas classista.

É por essas concepções que como LER-QI e Fração Trotskista, buscamos formar quadros, aportar com elaborações marxistas (que convidamos nossos leitores a conhecer) e dar exemplos na luta de classes.

[1Para aprofundar nesse “debate das diferentes estratégias na esquerda” , ver “debate de estratégias” no JPO 35. Nele, dizemos: “a Revolução Russa deu lugar à estratégia da tomada do poder pela classe operária e da ditadura do proletariado (...) outras grandes revoluções, como a Revolução Chinesa ou a Revolução Vietnamita, deram lugar a outras estratégias, a estratégia da guerra popular prolongada; e a análise da experiência da Revolução Cubana por Ernesto Guevara e Regis Debray deu origem à estratégia do foquismo (...) Frente a essas três estratégias que surgem das revoluções, está a formulação de Kautsky da “estratégia de desgaste” , surgida da ausência de revolução, mediante a qual se transforma a tática de participar de eleições e de participar em sindicatos em estratégia. Há trinta anos que não há uma revolução no mundo; há levantamentos, como na Bolívia, como na Venezuela, como na Argentina em 2001, porém revoluções proletárias clássicas, e muito menos triunfantes, não há desde 25 ou 30 anos (...) a “estratégia de desgaste” diz que participando das eleições, ganhando sindicatos, participando em manifestações de massas, etc., vamos desgastando o poder do inimigo até chegar um momento em que possamos nos impor ao poder do inimigo (...) mas em termos gerais quem termina se desgastando é ele, a menos que isso esteja ligado a uma estratégia maior (...) aqueles que lutam taticamente e não concebem a tática subordinada à estratégia estão gerando arrivistas pequeno-burgueses.”

[2Ver neste JPO o artigo: “PSOL: da tática à estratégia de braços dados com a burguesia"

[3Para aprofundar em nossa crítica sobre o morenismo utilize na barra superior a ferramenta "Busca"

[4Política que se pode seguir através do calendário de lutas de seu site.

[5Desperdiçou inclusive oportunidades históricas como na greve dos petroleiros de 95

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