Quinta 25 de Abril de 2024

Nacional

UM DEBATE FRATERNAL COM A DIREÇÃO DOS METALÚRGICOS DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Programa, tática e estratégia para enfrentar os ataques dos patrões

24 Jul 2012   |   comentários

Corretamente a direção do sindicato tem denunciado os altos lucros da GM e das montadoras, os subsídios que recebem do governo e o fato de que esses recursos aumentam os lucros das empresas e não garantem mais empregos, ao contrário custeiam PDVs e demissões. Também alertam que as medidas da GM são parte de um plano global das multinacionais montadoras em busca de competitividade, produzindo mais com menos trabalhadores e com menores custos. Além disso, convocam todos os sindicatos e centrais sindicais a se solidarizar e participar da defesa dos empregos na GM. Porém, não podemos deixar de abrir um debate fraternal a respeito do programa e da estratégia com os quais dirigem a luta contra a ameaça de demissões e pela garantia dos empregos.

No cartaz da campanha aprovada pelo sindicato podemos ler “SOS Empregos. A GM não pode virar as costas para São José. Não às demissões! Manutenção dos empregos! Investimentos, já!” Não resta dúvida que o eixo da luta é impedir as demissões e garantir os empregos na GM. Daí que tem sido muito importante a denúncia que o sindicato vem fazendo sobre os altos lucros da empresa e as possibilidades de, mesmo ajustando a produção, manter os empregos. Os burocratas sindicais – e os governantes – criam na mente dos trabalhadores a falsa ideia de que há patrões “bons” e “ruins”. Os “bons” são aqueles que “investem” e estão “interessados” em gerar empregos e desenvolvimento social. Com esses patrões “bons” os trabalhadores devem agir como “parceiros”, defendendo até mesmo os interesses patronais – pedindo, junto com os patrões, aos governos isenção de impostos, recuros do BNDES subsidiados etc. Muitos trabalhadores acreditam nisso e imaginam que, por exemplo, se a GM “investir” os trabalhadores garantirão seus empregos. Que os trabalhadores tenham essas ilusões, podemos compreender. Porém, é um enorme erro a diretoria do sindicato contribuir para alimentar essas ilusões. É o que podemos concluir do cartaz central da campanha “SOS Empregos” que a diretoria do sindicato divulga, trazendo a reivindicação de “investimentos, já”, assim mesmo, sem qualquer denúncia de que na realidade não há plano de investimento mas de superexploração, e de que a GM não está interessada em garantir empregos, mas apenas em “investir” para garantir seus lucros. Os “investimentos” da GM não têm objetivo de garantir empregos, salários e desenvolvimento social. Ao contrário, todos sabemos, cada centavo “investido” tem que gerar dezenas de centavos em lucros, mesmo que às custas da miséria e da vida dos trabalhadores e da catástrofe social. Somente colocando a produção sob seu controle os trabalhadores, organizados em sindicatos combativos e classistas que se coloquem a estratégia da expropriação dos captitalistas e do controle operário da produção, poderão garantir que os investimentos realmente sejam “produtivos” e “progressistas”, garantindo empregos, salários e direitos, ou seja, melhoria do nível de vida dos trabalhadores e das massas e desenvolvimento social. Então, quando a diretoria do sindicato reivindica, sem denunciar o papel reacionário dos capitalistas, mais “investimentos” termina, a despeito de sua vontade, deixando os trabalhadores à mercê da falsa consciência (estimulada pelos burocratas sindicais e governantes) do papel dos patrões, não tomando em suas mãos a tarefa imprescindível de ajudar a elevar a consciência dos trabalhadores em suas próprias forças e contra os capitalistas.

Em nossa opinião, a direção do sindicato deveria dar muita importância à denúncia do roubo que os capitalistas fazem todos os dias contra os trabalhadores e o país para garantir seus lucros e sugar tudo que for possível para as matrizes das multinacionais, mostrando que só os trabalhadores e sindicatos de classe, anticapitalistas e antiimperialistas, podem dar solução progressista diante da crise capitalista, orgnizando a produção – controle operário – e a economia – investimentos, planificação, finanças etc. – em prol do interesse da maioria da população e do desenvolvimento do país. A direção do sindicato – majoritariamente influenciada pelo PSTU, um partido que se reivindica trotskista – sabe bem que os revolucionários atuam nos sindicatos também para elevar a consciência da classe trabalhadora no sentido de compreender que sob o capitalismo e seus “ajustes” não restará mais que desemprego, miséria e catástrofe, e que portanto os sindicatos devem lutar incansavelmente pela unidade de todos os trabalhadores em torno de um programa independente da burguesia, isto é, contra os interesses da burguesia, demonstrando que não é possível conciliar os interesses dos trabalhadores e os dos capitalistas, e só nos resta avançar com programas de medidas transitórias que partam da defesa das demandas fundamentais – emprego, salário, direitos – e elevem a consciência de que sem controlar a produção nas fábricas e empresas essas demandas básicas estarão constantemente ameaçadas, e mesmo o que consquistarmos hoje poderemos perder amanhã, pois em última instância não há saída por fora de expropriar os capitalistas, tomar as empresas sob controle operário e planificar a economia a serviço das necessidades e interesses dos trabalhadores e da maioria da população.

O que se deixou de fazer, no passado, agora cobrará seu preço

Nos parece um grave problema político ver que apesar de o PSTU estar à frente do sindicato há cerca de vinte anos não se conhece um firme e decidido projeto estratégico para que os trabalhadores encarassem a tarefa estratégica de se preparar para enfrentar os ataques patronais e se conscientizar que a única alternativa para garantir os empregos, salários e direitos está no controle da produção pelos próprios operários, e na administração operária das empresas que devem ser expropriadas e estatizadas para evitar que fechem ou demitam em massa. Estando há tantos anos com militantes e dirigentes na GM, não conhecemos batalhas pela constituição de uma comissão (ou comitê) de fábrica no sentido revolucionário – órgão com tendência ao duplo poder (quem manda na fábrica, na produção etc.). Se é importante aproveitar todos os espaços para organizar e dar cobertura aos ativistas – CIPA, por exemplo –, um sindicato dirigido pelos trotskistas deve ter como fundamento a estratégia de luta pela independência de classe para que setores da classe operária possam emergir como sujeitos políticos independentes da burguesia. As comissões de fábrica, nas mãos dos burocratas sindicais ou organizações reformistas e conciliadoras, são meros organismos de “colaboração de classes” a serviço de levar adiante a luta econômica (sindical), por isso as poucas existentes terminam funcionando como “auxilires” da gestão patronal. Para os revolucionários (trotskistas), ao contrário, as comissões de fábrica devem, obviamente, assumir a defesa dos interesses econômicos (sindicais) dos trabalhadores mas em completa ligação com a tarefa essencial de elevar a consciência e a prática operária no sentido de um programa de independência de classe para que os capitalistas arquem com suas crises e para que a classe trabalhadora, aliada aos setores mais explorados e oprimidos da população, possa dar uma saída de fundo às demandas mais sentidas do povo, o que só deve estar ligado à estratégia da eliminação do capitalismo e a instituição do poder operário. Tratando desta questão – o duplo poder, quem manda na fábrica –, o Programa de Transição (elaborado pelo grande revolucionário Leon Trotsky) ensina que “o comitê de fábrica confere a esta mesma questão uma expressão organizada. Eleito por todos os operários e empregados da empresa, o comitê da fábrica cria de imediato um contrapeso à vontade da administração [da empresa]. À crítica que os reformistas fazem aos patrões de tipo antigo – os que se chamam “patrões pelo direito divino”, como Ford – para favorecer os “bons” exploradores “democráticos”, nós opomos a palavra-de-ordem de comitês de fábrica como eixos de luta contra uns e outros.”

As comissões de fábrica, então, devem ser organismos de duplo poder, que aproveitem todas as circunstâncias para defender os interesses dos trabalhadores e preparar batalhas pelo controle da produção, única possibilidade realista para que – frente aos duros ataques com os quais a patronal se prepara para descarregar a crise sobre as costas dos trabalhadores, frente à possibilidade de que sejam concretizadas as demissões em massa com as quais nos ameaçam – os empregos sejam garantidos e a produção esteja voltada para os interesses da maioria e não do lucro da minoria parasitária (capitalistas). A prova de que este problema político – comissões de fábrica, controle operário da produção – não é um mero “debate” entre revolucionários agora se demonstra na realidade do que ocorre na GM. A empresa apresenta seu “plano de produção”, eliminando a produção de modelos, reorganizando (anarquizando) novos produtos etc., enquanto os trabalhadores da GM não têm seus organismos internos – no “chão da fábrica” – para desmascarar esse “plano” capitalista e debater e apresentar um “plano operário” que aponte para o controle operário da produção (reorganização da produção, planificação e investimetos) para lutar contra as demissões, agora, e os novos “ajustes” que virão como consequência da crise capitalista mundial.

Para justificar seus ataques os capitalistas alegam crise econômica, queda nas vendas etc., e os burocratas sindicais e governantes ecoam essa cantiga para fazer os trabalhadores acreditarem que os capitalistas “estão mal” e a saída está em “juntos nos sacrificarmos”. Os revolucionários denunciam que isso não passa de mentiras! As alegações da direção da GM escondem a verdadeira situação, os escandalosos lucros obtidos em tantos anos, a fuga de capitais para fora do país e os subsídios recebidos pelos governos. Abaixo o segredo comercial, industrial e contábil que permitem aos capitalistas mentir para toda a sociedade, escondendo seus vultosos lucros e negociatas às custas do nosso suor! Na ausência de um comitê de fábrica na GM, o sindicato deve exigir que a direção da GM mostre a contabilidade real da empresa nos últimos 10 anos, e aí todos veremos a riqueza arrancada dos trabalhadores, para onde vão esses lucros e como poderiam ser realocados a serviço de organizar a produção em prol dos empregos, diretos e salários. Por que devemos continuar acreditando nas mentiras da empresa e na enganação dos burocratas sindicais e governantes que ajudam a esconder a verdadeira situação da economia e da produção capitalista para favorecer os lucros patronais? A sociedade, em primeiro lugar os operários da GM, devem conhecer a situação real da empresa, não aceitando “planos de ajuste” mascarados por crises. No Programa de Transição podemos ler que “as primeiras tarefas do controle operário consistem em esclarecer quais são as receitas e as despesas da sociedade, a começar pela empresa isolada; em determinar a verdadeira quota do capitalista individual e de todos os exploradores em conjunto na renda nacional; em desmascarar os acordos de bastidores e as fraudes dos bancos e trustes; em revelar, enfim, perante toda a sociedade, o espantoso desperdício de trabalho humano que resulta da anarquia capitalista e da exclusiva caça ao lucro.”

As táticas de luta – atos, paralisações, greves etc. – devem responder ao desenvolvimento concreto da situação. As importantes paralisações havidas na GM demonstram que os operários compreendem a gravidade da situação e estão dispostos a atender aos chamados da diretoria do sindicato na defesa dos empregos. Todavia, um plano de ação exigirá medidas mais duras para enfrentar a firme decisão da empresa em impor seus objetivos, e para isso a diretoria do sindicato, além do que já vem fazendo, chamando a solidariedade dos sindicatos e centrais sindicais, deve começar a preparar o conjunto dos metalúrgicos para batalhas em defesa dos operários da GM, pois os ataques patronais não se resumirão a essa empresa, e atingirão muito fortemente as médias e pequenas empresas. A luta da GM não pode ficar isolada dos demais metalúrgicos, mesmo que venha a ter grande solidariedade de outras categorias. Assembléias nas fábricas e assembléias gerais dos metalúrgicos de São José dos Campos devem ser parte fundamental do plano de luta, garantindo solidariedade ativa e medidas conjuntas de luta (atos, atrasos na produção, paralisações etc.).

Preparar-se para a radicalização da patronal: ocupar a empresa para barrar as demissões

É necessário preparar os operários da GM e toda a categoria para enfrentamentos mais decisivos. A empresa não cederá facilmente, pois é um plano mundial e ainda conta com o apoio dos burocratas sindicais, do governo da cidade (PSDB) e do governo federal (Dilma). Com essa força a empresa poderá radicalizar seus ataques, com fechamento de turnos, paralisação da produção e outras medidas para forçar a aceitação de demissões (mesmo que seja um número menor do que o anunciado). A diretoria do sindicato deve preparar os operários e a categoria para responder a essa situação, e não se pode deixar para depois o debate, agitação (ainda que não esteja já, para a ação) e preparação da necessidade de ocupar a empresa e a preparar-se para colocar a produção – tarefa difícil numa empresa tão complexa – sob controle operário em caso de radicalização patronal, ou seja, demissão em massa ou ameaça de fechamento da planta industrial. Somente com um plano bem preparado, partindo da solidariedade operária ativa (todos os metalúrgicos de São José dos Campos, primeiro, e demais categorias) e popular (movimentos populares, movimento estudantil, organizações políticas e democráticas), que contemple a gravidade da situação e a clareza de que um monopólio como a GM, com seus aliados, é um inimigo fortíssimo que não se deterá em reuniões de negociação ou pressões de ministérios, políticos e governantes, e que somente uma sólida e firme decisão do sindicato pode dar confiança e decisão aos operários da GM e da categoria para buscar (e encontrará) solidariedade e apoio para a sua luta pelos empregos e contra os planos patronais.

Os capitalistas e seus auxiliares – governos e burocratas sindicais – não podem nos reservar outra coisa que não seja crises, desemprego, arrocho salarial, retirada de direitos, miséria e catástrofe. Somente os trabalhadores, organizados e unificados, poderão encontrar os caminhos para garantir emprego, salário e vida digna à maioria da população, enfrentando firmemente os lucros dos patrões.

SOLIDARIEDADE OPERÁRIA E POPULAR INCONDICIONAL AOS OPERÁRIOS DA GM E AO SINDICATO NA LUTA EM DEFESA DOS EMPREGOS!

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