Quinta 25 de Abril de 2024

Nacional

POR UMA POLÍTICA INDEPENDENTE DO GOVERNO E DA BUROCRACIA SINDICAL

A esquerda frente a reforma política

03 Jul 2013   |   comentários

É evidente que a situação política nacional mudou radicalmente em poucas semanas. Pouco resta do clima de passividade e gradualismo que predominou nos anos do lulismo. O levante popular e de juventude que varreu o país mostrou que é possível impor nossas demandas ao invés de esperar passivamente as migalhas que os governos podem oferecer. O sentimento antipartidário muito estendido nas manifestações é em grande parte dirigido contra o PT, que agora começa a pagar o preço por ter governado todos esses anos a favor da burguesia e do imperialismo.

Tentando conter seu desgaste e descomprimir a situação o governo Dilma está defendendo uma reforma política combinada com um plebiscito. Apesar da resistência dos partidos que apóiam o governo – inclusive dentro do próprio PT – são medidas pontuais que não teriam a força de mudar profundamente nada no país, apenas serviriam para dar uma nova envoltura para um regime carcomido. É apenas uma forma de fazer valer a velha máxima de que “as coisas precisam mudar para permanecer como estão”, aplicando medidas cosméticas que não mudam o caráter burguês e antidemocrático do atual regime, fruto de pacto com os militares. Inclusive alguns pontos cogitados, como o voto distrital com clausula de barreira, só tornariam ainda mais antidemocrático um sistema eleitoral que exclui as organizações sociais e políticas da juventude e dos trabalhadores.

É o cúmulo da cara de pau a negociação que Randolfe, senador do PSOL pelo Amapa, iniciou com o governo federal, sobre quais pontos deveriam constar no plebiscito da reforma política. É impossível que um governo que está a serviço do capital financeiro, dos monopólios internacionais e do agronegócio implemente reformas no regime a favor da maioria da população! Negociar os termos da reforma política com o governo é fortalecê-lo e negociar a forma de enterrar as mobilizações. Mas não é surpreendente que o PSOL que hoje governa a capital do Amapá, Macapá, em conjunto com a elite local, esteja colaborando com o governo para desviar as manifestações. Clécio Luis, o prefeito do PSOL em Macapá demorou praticamente uma semana depois do dia 20 de junho para reduzir as passagens de ônibus nesta cidade, enquanto as manifestações em Macapá eram reprimidas pela tropa de choque. Manteve até o último momento sua aliança com a máfia do transporte contra a população e, mesmo agora, se esquiva de abrir a discussão de estatização do sistema de transporte municipal. Ivan Valente, deputado federal, não foi à reunião com Dilma, mas através de nota assinada pela liderança da bancada na Câmara de Deputados se posiciona a favor do plebiscito e da reforma política, divergindo apenas quanto a questão do prazo (70 dias seria muito pouco, o que significa manter todas as regras inalteradas para as eleições do ano que vem e bloca o PSOL com a posição dos partido mais espúrios da base governista).

Algumas vozes já se levantam internamente contra a negociação de Randolfe com Dilma, como a CST, corrente do ex deputado Babá, pedindo medidas que seriam a preparação da sua expulsão. Randolfe, no entanto, não é um parlamentar isolado. A nota que citamos de Ivan Valente está escrita em nome da liderança do PSOL na Câmara e a direção do PSOL apóia essa política. Todos os militantes do PSOL que se opõe a essa farsa de “democratização” que propõe o governo federal, e que desejam lutar realmente pelo desenvolvimento independente das mobilizações que tomaram as ruas, precisam vir a público para denunciar a política de desvio das mobilizações que está sendo aplicada pelos parlamentares do seu partido (sentando publicamente com Dilma ou não). É preciso também tirar as conclusões sobre a falência das bases estratégicas do projeto do PSOL – de radicalização da democracia nos marcos do atual regime, levando o PSOL e repetir como farsa a história do PT – para recuperar a perspectiva da revolução operária e socialista e da construção de um partido revolucionário para triunfar sobre a burguesia.

PSTU: um debate sobre a política de frente única no dia 11

Consideramos que PSTU está defendendo pontos programáticos parciais corretos, como a estatização dos transportes públicos, além de denunciar o plebiscito de Dilma como uma política para desviar as mobilizações. São defesas corretas, ainda que incompletas, em base às quais seria possível iniciar uma articulação dos sindicatos da CSP-Conlutas para a construção de um frente classista para combater o governo e a burocracia sindical. O problema é que esses pontos corretos acabam se dissolvendo numa política de adaptação, ainda que crítica, à burocracia sindical governista. O acordo entre as 11 centrais sindicais levantou uma série de pontos mais ou menos progressistas, que inclusive poderiam ser base de ações unificadas. No entanto, a CUT, em nome da liberdade de cada central levar suas próprias demandas, coloca seu aparato em defesa do plebiscito do governo Dilma e vai tentar dar um caráter de apoio ao governo no dia 11. O acordo em questão não trata de uma frente única para golpear juntos o mesmo inimigo, enquanto se mantém total liberdade de critica entre as organizações. Uma coisa seria se a burocracia cutista se dispõe realmente a mobilizar suas bases pelos pontos progressistas anunciados pela frente ou até mesmo pela extinção do senado ou contra a cláusula de barreira. Mas, definitivamente, não é isso que está em curso. Já está claro que a CUT não vai mobilizar suas bases pelos pontos progressistas da frente, e se vai mobilizar algo vai ser seu aparato burocrático para apoiar a política de desvio do governo.

Ao invés de uma política que nas organizações do movimento de massas se cala frente ao plebiscito e à reforma política de Dilma (apesar da denuncias no jornal e nas reuniões partidárias e da juventude), por que o PSTU não defende que a CUT rompa com o governo e lute por Assembleia Constituinte Livre e Soberana? Na crise do mensalão cometeram o mesmo erro, do qual posteriormente fizeram uma autocrítica superficial. Como desenvolvemos neste jornal, essa é uma política que se contrapõe não só ao programa de desvio do governo, mas também se contrapõe ao programa “mais à esquerda” de desvio da burocracia, de mera pressão sobre o governo.

Manter a política atual leva os sindicatos da CSP-Conlutas a ter uma política de adaptação a burocracia. No último jornal do sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos, publicado em 2 de julho, não encontramos uma palavra sequer de crítica a reforma política de Dilma ou a política da burocracia sindical para o dia 11 de julho. Na assembléia dos metroviários de São Paulo, categoria onde o PSTU ocupa a presidência do sindicato, com a presença de representantes de todas as centrais sindicais, o PSTU se colocou contra a moção apresentada de rechaço ao plebiscito e à reforma política de Dilma. É urgente que a CSP-Conlutas modifique essa política e oriente seus sindicatos a convocar manifestações independentes do governo, que se coloquem claramente contra a política de desvio da reforma política e do plebiscito, seja da Dilma e da CUT, seja dos partidos burgueses, e impulsione um plano de ação para desenvolver a mobilização independente das massas nas ruas aliando a classe operária com a juventude.

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