Quinta 25 de Abril de 2024

Internacional

Balanço e perspectivas do Ensaio Geral Revolucionário

Por um Partido de Trabalhadores Revolucionário

14 Nov 2003 | É necessário construir um partido que se prepare para a Revolução e a guerra civil   |   comentários

A classe dominante com seus planos de entrega do gás tem sofrido um formidável golpe. Se viram na obrigação de sacrificar a “rainha” e dois sanguinários “bispos” [1] para tentar continuar o jogo. Mas o jogo que preparam é um jogo perigoso, está cheio de armadilhas e de violência. A burguesia latifundiária, os banqueiros, as multinacionais estão dispostos a nos arrastar a um crescente enfrentamento e à guerra civil se observam que seus fabulosos negócios, obtidos sob a base do saque do país e a sobre exploração dos trabalhadores do campo e da cidade, correrem risco.

A vanguarda operária, camponesa e popular está compreendendo instintivamente que entramos numa nova situação política e que é necessário se preparar e se organizar para enfrentar os planos que dos imperialismo e seus agentes locais. A ação espontânea de milhares de lutadores durante o levantamento de outubro foi o ponto forte que permitiu o desenrolar de toda a iniciativa criadora do movimento de massas, rompeu os limites sindicais, setoriais e departamentais e permitiu que centenas de milhares se erguessem como um único homem.

Na vanguarda existe um sabor de que “algo faltou” , o que se expressou em várias reuniões ampliadas da COB, em diferentes assembléias das Juntas Vecinales (Juntas de Vizinhos) e alguns sindicatos. Este sabor não é novo, é um sabor que vínhamos sentindo em cada grande crise nacional. Importantes setores da juventude, dos combatentes da cidade de El Alto, dos mineiros de Huanuni, dos estudantes que observam atentamente o desenvolvimento dos acontecimentos coincidem em que se não podemos ir mais além é por falta de uma estratégia de poder operário e popular, que conscientemente lutasse para consumar a revolução socialista.

Todas as direções do movimento de massas sistematicamente se subordinam às variantes e saídas que oferece a classe dominante. Assim, o MAS [2] tem declarado sua intenção de melhorar esta democracia, de torná-la mais participativa e não romper as regras do jogo. Esta corrente junto com o MIP [3] de Mallku, tem-se limitado a diálogos e negociações, dividindo as possibilidades de unir os trabalhadores do campo e da cidade e permitindo uma “sobrevida” a esta democracia degradada dos ricos, da Igreja e militares. Precisamos construir um Partido de Trabalhadores Revolucionário que tenha como eixo de sua atuação acionar a luta para dotar a classe operária e o movimento de massas de formas de poder concretas que permitam, em primeiro lugar, materializar a aliança operária, camponesa e popular; formas de organização que possam avançar em constituir-se num verdadeiro conselho ou parlamento operário capaz de fazer uso do poder quando as condições o permitam.

Este partido não existe, tem que ser construído. Ao não dar passos audazes e acelerados na construção deste partido, a sensação de “ausência” pode dar lugar à desmoralização da vanguarda, perdendo-se a coesão do movimento de massas e vivenciando a exasperação das classes médias que ao não verem uma saída nas fileiras da classe operária se joga nos braços da ala dura da burguesia. Não temos tempo a perder!

Por onde começar?

A matéria prima para a construção deste partido já se manifestou. Está em cada uma das barricadas e das Juntas Vecinales da cidade de El Alto, está nos trabalhadores, homens e mulheres, curtidos pela flexibilização trabalhista, que não têm um lugar nos sindicatos mas que encontraram um lugar privilegiado nas ruas e nas barricadas; está nos mineiros de Huanuni que mostraram o caminho a seguir e destravaram o conflito dando um golpe decisivo no governo; está nos jovens e estudantes como os da UPEA que cumpriram um papel destacado na mobilização. Este partido não poderá surgir sob o legado da velha esquerda stalinista, maoísta, ou guevarista acostumada a apoiar-se em algum figurão da classe dominante ou de algum advogado no qual depositar todas suas esperanças. Tampouco poderá surgir do POR [4], organização que nos últimos acontecimentos se negou a impulsionar uma política que tendesse à construção de órgãos de poder do movimento operário e de massas, que confia na possibilidade de “recuperar” a polícia e o exército e não na criatividade, resolução e armamento independente dos explorados e oprimidos. Este partido que necessitamos não pode surgir sob a base dessa esquerda adaptada que não tem nada a oferecer.

Este partido só pode surgir da fusão entre a vanguarda operária envolvida nas experiências mais avançadas de combates da luta de classes como os de outubro (tanto a escala nacional como internacional), com o programa, a estratégia, os métodos e a moral do marxismo revolucionário, ou seja, do trotskismo, síntese que se irá construindo através de uma luta frontal para dotar a classe operária de formas de organização independente e contra as direções traidoras.

Desde a Liga Obrera Revolucionaria por la Cuarta Internacional nos colocamos a serviço desta apaixonante tarefa; queremos aprender com as novas gerações de combatentes, com os mineiros de Huanuni, com os combatentes e jovens altenhos, com todos aqueles cansados de sentir que “algo faltou” e estão dispostos a ajustar contas com a velha esquerda para construir juntos este partido operário, socialista e internacionalista.

A Liga Obrera Revolucionaria por la Cuarta Internacional (LOR-CI), é a organização irmã da LER-QI na Bolívia, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

[1Nomes das peças no jogo de xadrez.

[2MAS ’ Movimiento al Socialismo, de Evo Morales.

[3MIP ’ Movimiento Indígena Pachacutik, de Quispe Mallku.

[4POR ’ Partido Obrero Revolucionario, de Guillermo Lora.

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