Quinta 25 de Abril de 2024

Nacional

Por um Partido Revolucionário dos Trabalhadores

11 Oct 2003   |   comentários

A nova situação aberta com a eleição de Lula está marcada pela possibilidade real de uma experiência ampla das massas trabalhadoras com suas principais direções históricas. A possibilidade de uma superação pela esquerda de toda a situação é concreta, porém os ritmos deter-minantes serão os da luta de classes. É preciso que os diversos setores em luta e da vanguarda que procuram uma saída frente à bancarrota do petismo, levantem a necessidade de uma ferramenta política dotada de um programa e uma estratégia revolucionária, a estratégia do poder dos trabalhadores.

Participamos ativamente de todos os debates que se realizam hoje envolvendo os setores descontentes, debates que para nós apenas se iniciam. É bem vinda toda iniciativa em favor de ampliar os setores de trabalhadores e da juventude nos quais se discuta a verdadeira face do PT de Lula e as perspectivas para a luta revolucionária dos trabalhadores daqui para frente.

Diante da discussão colocada publicamos um manifesto político direcionado aos trabalhadores e à juventude que saem à luta política; aos que hoje rompem com o governo e se põem em luta; aos que rompem agora com o PT e àqueles que já há tempos o fizeram; a todos os setores de vanguarda; pela construção de um partido com uma estratégia e um programa claramente revolucionários, de independência de classe, democracia operária e internacio-nalismo militante.

Mas é preciso que esta discussão seja determinada pelos próprios trabalhadores e da juventude com quais se discuta a verdadeira face do PT e de Lula e as perspectivas para a luta revolucionária dos trabalhadores, já que a ruptura de milhares de trabalhadores e militantes com o governo e com o PT é um movimento inicial que abre brechas para que se erga um movimento massivo de superação do petismo.

É preciso que os trabalhadores compreendam que a bancarrota do PT não se deve meramente a uma traição de Lula e consortes, mas é uma conseqüência do programa reformista e de conciliação de classes que o PT tem defendido durante mais de duas décadas, e que ao chegar ao governo nas condições atuais de crise estrutural capitalista e de agressividade imperialista adquire contornos dramáticos. Em contraposição à falência do PT é preciso agitar um programa que aponte para a ruptura e a superação da ordem capitalista e que tenha como eixo combater o imperialismo e resolver as demandas mais sentidas da população, com a estratégia de preparar as condições para que governem os que nunca governaram ’ os trabalhadores-, construindo seus próprios organismos democráticos de poder, quer dizer, uma estratégia de auto-organização das massas. Ter um programa revolucionário significa uma luta à morte contra todas as alas da burguesia, única maneira para que a independência de classe se expresse no terreno político e não fique limitada a uma mera independência organizativa.

Por isso é que o programa revolucionário deste novo partido deve ser discutido amplamente entre os trabalhadores e a vanguarda via suas comissões de fábrica, entidades de base, comitês nos locais de trabalho, sindicatos, locais de estudo e moradia. Consideramos que só a tomada do poder pela classe operária, aliada ao resto dos explorados, pode começar a resolver a calamidade que há décadas se abate sobre as grandes maiorias, mas isto só será possível se estiver dotada de um estado-maior, um partido revolucionário dos trabalhadores.

“Resgatar o PT” ? Uma política que busca impedir que os trabalhadores avancem na sua independência política

Hoje, correntes da esquerda petista como O Trabalho, Força Socialista, Consulta Popular, Articulação de Esquerda e Pastoral Operária lançam um movimento que pretende “resgatar o PT” , criticando a política pró-FMI de Lula e, principalmente, as ameaças que a direção do PT faz contra os petistas que criticam o governo. Estes setores propugnam um “resgate do PT” , tentando impedir que os trabalhadores tirem as conclusões necessárias do processo atual. Contudo um tal resgate é não apenas reacionário, mas inviável: não há propaganda ou discurso mistifi-cador capaz de impedir que a história retome sua marcha.

A esquerda petista está diante de uma enorme crise que somente poderá ser resolvida positivamente, do ponto de vista dos trabalhadores e dos socialistas, com uma ruptura incondicional com a estratégia reformista de esquerda de capitulação à colaboração de classes. Isso significa “cortar na carne” e romper com o PT, com a conciliação com a burguesia e com o regime democrático-burguês avançando para uma estratégia anticapitalista e antiburocrática. Os melhores militantes da esquerda petista estão convocados a dar um passo à frente e se desvencilhar das amarras burocráticas e pequeno-burguesas dos dirigentes da velha geração atrelados às benesses do estado, dos mandatos parlamentares e dos sindicatos burocratizados.

Toda a construção de fórmulas intermediárias só poderá trazer novas frustrações para os trabalhadores

Empurradas pela dinâmica da situação nacional e pelos processos de ruptura com o governo e o PT em setores de trabalhadores, importantes lideranças da esquerda petista ’ como a CST e MES, aliadas a outras correntes ’ ameaçadas de expulsão impulsionam a construção de um novo partido unindo os “socialistas” do PT. Ao mesmo tempo, a direção do PSTU tenta dar um novo ritmo à sua estratégia de construir um partido com a esquerda petista.

Contudo, essas correntes não fazem o balanço necessário do passado, dos vinte anos da experiência do PT quando o esforço de milhões de trabalhadores foi usado por um bando de políticos pequeno burgueses e arrivistas como base de manobra para governar a serviço dos interesses da burguesia1 . Correntes como a CST e o MES ainda concordam com toda a política histórica do PT ao longo dos últimos vinte anos. Eles afirmam que “as bandeiras [...] que o PT levantou nesses últimos vinte anos são bases sólidas para começar a construção desse partido... Bandeiras que garantem, sem infin-dáveis discussões, a base progra-mática para pór de pé uma ferramenta política num tempo relativamente rápido” . Nada mais longe da realidade. As bandeiras que o PT levantou nesses 23 anos foram as que levaram as massas trabalhadoras de derrota em derrota, administrando os negócios capitalistas e impulsionando a conciliação de classes, em todos os governos estaduais e municipais, nos acordos com a patronal via a ala sindical desse partido, e no fortalecimento desta democracia dos ricos.

Por sua parte a direção do PSTU levanta uma política que se expressa no título do manifesto que lançou: “Precisamos de um novo partido que unifique a esquerda brasileira” . Esta política não deixa de ser uma variante daquela da CST e MES modificada pela inclusão do PSTU. Ou seja, a política da direção do PSTU é construir um partido “novo” de “unificação da esquerda” em geral, sem uma clara estratégia revolucionária, juntando as mais diversas tendências políticas, desde populistas a reformistas de esquerda, como se expressa, por exemplo, em suas discussões até com setores da ala esquerda da igreja católica, além de burocratas sindicais diversos. Assim, nunca poderá ser criado um partido revolucionário que lute pela independência de classe, levando a editar um segundo capítulo de engano dos trabalhadores.

Sem claras definições estratégicas, estas correntes se envolvem numa disputa meramente aparatista

O que divide estas correntes não é sobre as grandes estratégias que estão colocadas e sim uma insólita luta de aparatos sobre quem imporá a hegemonia na futura organização que possa vir a surgir. Afirmamos que isso está longe das reais necessidades objetivas que estão colocadas e em nada interessa aos verdadeiros sujeitos: os próprios trabalhadores. Esta disputa tem se expressado mais agudamente após a ruptura do acordo de cúpulas que estava fechado entre estas correntes, devido ao movimento dos deputados Babá e Luciana Genro de colocar até uma nova sigla para a organização que pretendem construir, com o claro intuito de evitar a hegemonia da direção do PSTU no novo projeto. A direção do PSTU se diz surpresa com esse movimento do bloco liderado pelos deputados petistas, mas ficou surpresa mesmo porque se romperam todos os acordos de cúpulas3 . Com que autoridade vem agora o PSTU falar que “o novo partido que precisamos construir não pode ser fruto de um decreto de cúpula, nem apenas de um acordo entre correntes” quando revelam na mesma declaração tudo o que estava negociado?3 Afinal eles, que agora querem posar de “democráticos” , nem mesmo pensam em colocar este debate entre os trabalhadores que dirigem por meio de seus sindicatos, através de assembléias ou comissões de fábrica, de maneira tal que sejam os próprios trabalhadores que decidam seus destinos políticos. Assim a direção do PSTU inverte sua retórica, sem modificar um milímetro sua lógica de cúpula. Tanto é assim que seguramente estarão novamente discutindo seu projeto de “novo partido” daqui a alguns meses, com toda probabilidade, com aqueles que assinam hoje o manifesto “Resgate do PT” , da mesma maneira como faziam, aliás, poucos meses antes da vitória de Lula.

O partido revolucionário que se necessita deve ser construído pelos trabalhadores em seus organismos, onde sejam eles os próprios sujeitos da discussão e elaboração da política

Por isso, contra essas estratégias que obedecem à velha lógica petista de luta dos aparatos, o que propomos é que sejam os próprios trabalhadores os que decidam seus destinos, e não unificações através de acordos a portas fechadas. Para nós, os próprios trabalhadores devem ser os verdadeiros sujeitos e dirigentes da elaboração e execução da política, e não como foi nas duas décadas do petismo quando eram meros espectadores ou eleitores.

Apenas avançando dessa forma, sem qualquer privilégio para os políticos profis-sionais, é que se pode materializar a pers-pectiva de que a libertação dos trabalha-dores será obra dos próprios trabalhadores. Só um forte partido revolucionário pode avançar na independência política dos trabalhadores, ao contrário de meras “alter-nativas de esquerda” , “união dos socia-listas” ou “frente dos descontentes” que propugnam algumas correntes que sob uma maneira ou outra terminam defendendo a conciliação de classes. Nenhuma formula intermediária poderá elevar-se à altura das tarefas que estão colocadas.

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