Quinta 25 de Abril de 2024

Partido

FRENTE AOS DESAFIOS DE 2015

Por que construir um novo partido no Brasil?

10 Dec 2014   |   comentários

Ao construírem uma organização de base em que todas as decisões eram tomadas em assembleias e os representantes eram permanentemente revogáveis, os garis do Rio e os trabalhadores da USP plantaram uma semente de como deve funcionar um governo dos trabalhadores e do povo.

Vendo todos os dias que os partidos e a casta de políticos utilizam o poder para defender seus privilégios e os interesses dos ricos, fica difícil acreditar que é possível uma política que realmente expresse os interesses dos trabalhadores e do povo. Por outro lado, ver que a esquerda, além de ser fraca, está dividida em várias organizações distintas que competem entre si, torna ainda mais difícil acreditar e apostar em uma alternativa distinta de tudo o que está aí.

O que poderia, então, nutrir a esperança em uma nova forma de fazer política? Uma política que vem desde baixo, que se baseia na força dos trabalhadores, da juventude e do povo organizados nos locais de estudo e moradia. Uma política que utiliza os espaços da política contra os que têm poder e a favor dos que nada têm.

Um partido baseado na força das manifestações de rua e das greves

Essa esperança vem, em primeiro lugar, das manifestações de junho de 2013. Aqueles protestos mostraram uma nova forma de poder que vem das ruas, da unidade do povo lutando por suas demandas com suas próprias mãos, contra todos os partidos e governos dominantes.

Em segundo lugar, essa esperança vem das greves que sacudiram o país. Nessas greves se encontram sementes de uma nova forma de poder, que vem da força dos trabalhadores organizados e de sua ação independente.

Quando os trabalhadores da USP fizeram uma greve que não foi só por salário, mas também em defesa da saúde e da educação, eles nos ensinaram que as greves não precisam defender apenas os interesses corporativos de uma categoria, e sim que podem defender os interesses de todo o povo.

Quando os garis do Rio de Janeiro, os metroviários de São Paulo ou os rodoviários em várias capitais abriram verdadeiras crises paralisando os serviços estratégicos das principais capitais do país, se percebeu a enorme força política que pode ter as greves dos trabalhadores. Se colocarmos essa força a serviço das demandas de toda a classe trabalhadora, a serviço das demandas mais sentidas pelo povo que surgiram das ruas em junho, é possível criar uma nova forma de fazer política, uma política dos trabalhadores.

Recuperar os sindicatos como ferramentas de luta

Junho de 2013 não foi muito maior porque as direções sindicais atreladas aos governos e aos patrões – dos sindicatos da CUT, da Força Sindical, da CTB etc. – não mobilizaram os bastiões da classe trabalhadora para se unir à juventude com graves e manifestações. As greves do metrô e de rodoviários teriam sido muito mais fortes e com maiores possibilidades de serem vitoriosas tivessem contado com a solidariedade ativa não somente dos trabalhadores da USP, mas também dos poderosos sindicatos dirigidos por essas centrais.

Os trabalhadores ainda não se mobilizaram contra as demissões e retiradas de direitos que ocorrem nas indústrias, contra a falta de água que provoca enormes sofrimentos à população ou contra a impunidade que segue reinando entre os políticos porque as direções traidoras dos sindicatos desorganizam e freiam permanentemente a disposição de luta.

Mas os garis, os rodoviários e os peões da construção civil, ao organizarem a luta pela base passando por cima dessas direções traidoras, mostraram que é não só possível como necessário expulsá-las dos sindicatos e recuperá-los como ferramentas de luta. O mesmo potencial vimos nas assembleias de operários da indústria automotora que rechaçam os acordos traidores que seus dirigentes buscam fechar com a patronal, como ocorreu mais de uma vez esse ano e no ano passado no ABC. A recuperação dos sindicatos expulsando as direções traidoras é um passo fundamental para que a classe trabalhadora possa se colocar como um sujeito político em escala nacional.

Unidades que somam e a unidades que subtraem

Existe uma tendência natural a querer toda forma possível de unificação das distintas organizações da esquerda, como se isso fosse automaticamente fortalecer a luta. Entretanto, nem sempre isso ocorre, pois, quando se unem forças que apontam em sentido contrário, uma debilita a outra.

A unidade que precisamos construir atualmente é a de todos os sindicatos, oposições sindicais e organizações políticas que são independentes do governo e da patronal e estão dispostos a lutar. Essa união poderia construir uma mobilização com visibilidade nacional capaz de atrair trabalhadores que se encontram nas bases das direções sindicais traidoras para a luta. Esse é o único caminho possível para construir uma força política realmente capaz de resistir às tentativas de descarregar a crise sobre os ombros dos trabalhadores, de combater os privilégios e a impunidade da casta política, de lutar para que nenhuma família fique sem água.

Essa é a unidade necessária para que os distintos setores da esquerda possam confluir na luta de classes, e a partir dessa confluência debater o programa e a estratégia necessários para construir um partido realmente capaz de vencer os capitalistas.

Por outro lado, o PT e a CUT buscam construir uma unidade em defesa do governo Dilma, que sofre dificuldades por causa do fortalecimento da oposição de direita tucana e das chantagens do próprio PMDB, que é o principal partido da base governista no Congresso. Eles vendem a ideia de que qualquer questionamento pela esquerda ao governo, ao contribuir para debilita-lo, estaria favorecendo a oposição de direita. Com isso, permanentemente debilitam e paralisam as tentativas de organização e mobilização de uma força política própria dos trabalhadores, que combata nas greves e nas ruas as medidas da direita tucana que o governo petista tomou para si, e que recoloque na ordem do dia as demandas de junho e das greves.

Consequentemente, qualquer tentativa de construir uma força política dos trabalhadores precisa se dar em aberto combate contra essa unidade paralisante que o PT e a CUT buscam construir.

Entretanto, essa não é a conclusão que tiram as organizações políticas mais conhecidas da esquerda no país (PSOL e PSTU). O PSOL, com Luciana Genro, apesar de se propor a construir uma oposição pela esquerda ao governo, participou do ato em defesa de Dilma que a CUT e outros movimentos sociais organizaram na Avenida Paulista dia 13 de novembro. E o PSTU, apesar de não ter participado desse ato e estar organizando um Congresso da “Central Sindical e Popular – Conlutas” para o meio do ano que vem, se negou a organizar encontros de trabalhadores de base nos estados que preparem a luta desde o início do ano, com o argumento de que é necessário esperar para ver se surgirão dissidências dentro desse bloco impulsionado pela CUT.

Por que essas organizações não concordam em desde já concentrar energias na construção de uma força política dos trabalhadores a partir das bases, independente do governo e das direções sindicais traidoras?

A luta por uma estratégia revolucionária

E estratégia do PSOL não é organizar os trabalhadores a partir das bases para que esses façam política com suas próprias mãos, com seus próprios métodos de luta. Pelo contrário, o PSOL tem a mesma estratégia que tinha o PT quando surgiu, ou seja, utilizar o apoio dos trabalhadores para eleger seus candidatos, como se fosse possível conciliar os interesses dos trabalhadores com o capitalismo e a democracia dos ricos em que vivemos hoje, sem necessidade de uma revolução. É por isso que o PSOL já realiza inúmeras alianças com o PT e outros partidos capitalistas, governa a capital do Amapá como se fosse o PT, e recebe dinheiro de empresários nas eleições.

O PSTU não tem a mesma perspectiva reformista que o PSOL. Mas se une ao PSOL na medida em que também não tem como estratégia a organização e na mobilização dos trabalhadores a partir das bases para construir uma nova força política. Pelo contrário, o PSTU aposta sempre no deslocamento de direções reformistas para a esquerda como forma de construir uma nova força política. Entretanto, essa aposta estratégica já fracassou inúmeras vezes, apesar do PSTU nunca tirar as conclusões necessárias desses fracassos.

A aposta na organização cotidiana a partir das bases nos locais de trabalho busca preparar as condições para que, quando a classe operária fizer uma ofensiva de lutas que coloquem em cheque o capitalismo, se possa construir uma greve geral política onde esta assuma o governo do país baseados em suas próprias organizações de combate. Ao construírem uma organização de base em que todas as decisões eram tomadas em assembleias e os representantes eram permanentemente revogáveis, os garis do Rio e os trabalhadores da USP plantaram uma semente de como deve funcionar um governo dos trabalhadores e do povo.

Construamos um novo partido revolucionário

Hoje temos no Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS) da Argentina um exemplo de como deputados podem se colocar a serviço não de reformar o capitalismo conciliando com os patrões e sim de fortalecer a luta e a organização dos trabalhadores nas bases, preparando as condições para uma revolução. São deputados que colocam seu corpo junto aos operários em cada combate, sofrendo a repressão do Estado junto com eles; e constroem um mesmo partido junto com os trabalhadores mais destacados das principais lutas que ocorrem naquele país. Foi o que vimos representa-se no ato realizado neste dia 6 de dezembro, onde esta unidade mostrou uma enorme força com mais de 6.000 pessoas reunidas no estádio Malvinas Argentinos Juniors em Buenos Aires.

Aqui no Brasil lutamos para construir essa mesma tradição que o PTS constrói na Argentina, como parte de uma mesma organização internacional que busca construí-la no México, no Chile, na Bolívia, na Venezuela e também na Europa.

Junto aos companheiros independentes do Movimento Nessa Classe, lutamos pela construção de uma nova tradição de luta no movimento operário a partir das lições das manifestações de junho de 2013 e da onda de greves que vivemos recentemente. Junto aos companheiros independentes da Juventude Às Ruas, lutamos por entidades estudantis militantes, por uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo e pela aliança da juventude com a classe operária em cada uma de suas lutas. Junto às companheiras independentes do Pão e Rosas, lutamos para que as mulheres estejam na linha de frente da luta pela revolução.

Todas essas batalhas se unem no jornal e no site Palavra Operária, que no mês de novembro recebeu 54 mil acessos. Ao mesmo tempo em que batalhamos para construir bastiões de combate no movimento operário e no movimento estudantil, queremos atingir centenas de milhares de pessoas através da internet como parte da luta pela construção de um novo partido. Chamamos todos os trabalhadores e jovens que compartilham da mesma perspectiva a impulsionar essas ferramentas junto conosco.

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