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Por que comecei a militar na LER-QI

11 Dec 2013   |   comentários

"Quero fazer um chamado para debater a importância da construção de um partido revolucionário a cada companheira e companheiro que compartilhou conosco a experiência de sair às ruas em junho com todos os debates que foram colocados e, em especial, àqueles que participaram das assembleias de base da Filosofia e compuseram nas ruas o Bloco da Filosofia tirado em assembleia de base e também do processo de eleições do (...)

Está claro que hoje muitas pessoas, apesar do espírito de época individualista, têm sede de mudar a sociedade. É importante que esse sentimento seja estudado e esclarecido para que as pessoas vejam a importância da união e militância perante o que causa todos os males da nossa sociedade: o capitalismo. Junho foi um exemplo disso: as pessoas saíram às ruas de forma espontânea para protestar, movidas pela indignação com a falta de direitos democráticos, como transporte, saúde e educação, em oposição aos gastos abusivos com a Copa. O individualismo, forte expressão de nossa geração, se deve, principalmente, à restauração burguesa – que fortaleceu a concepção de fim da história e da luta revolucionária – à traição das direções históricas do movimento de trabalhadores e à confusão entre o que são os partidos operários e os partidos burgueses, o que está diretamente relacionado ao sentimento antipartidário, tão presente nas pessoas atualmente. Esse antipartidarismo nasceu com a decepção com os partidos que estão hoje no poder, afinal, há tantos escândalos de corrupção que acabam em pizza, políticos que ganham dezenas de vezes o salário de um operário; e tudo isso acontece por trás de uma máscara de democracia na qual a cada dois anos votamos quem melhor nos explorará.

O PT, um partido que nasceu no seio da classe trabalhadora nos anos da ditadura, hoje reprime fortemente manifestantes e privatiza o petróleo com a ajuda do exército, mostrando como está, na verdade, ao lado de burgueses, banqueiros e capitalistas corruptos, assim como o PSDB e outros partidos burgueses do Brasil, reprimindo e apoiando perseguições políticas, e fazendo promessas vãs. Esse partido dito dos trabalhadores, que vem traindo a classe trabalhadora, tem hoje uma mulher na presidência, o que, diferentemente do que defendem as correntes feministas institucionais atreladas aos interesses desse governo, como a Marcha Mundial de Mulheres (MMM), não apenas não apresentou avanços para as mulheres, como aumentou a ofensiva conservadora a partir da aliança com setores da Igreja, com deputados como Marco Feliciano e com torturadores civis e militares. Apesar de o PT ter apresentado uma lei progressista como a Lei Maria da Penha, nada mudou de fato e o índice de violência contra a mulher segue aumentando.É necessário compreendermos que estamos inseridos em um sistema baseado em opressões e exploração e as leis foram criadas para proteger este sistema e, por isso, não há uma saída institucionalizada para todas as injustiças e mazelas sociais impostas aos trabalhadores e às mulheres, negros e LGBTTIs. Nesse sentido, é importante ter clareza de que, por meio de falsas promessas de reformas e através dos burocratas no movimento estudantil e de trabalhadores, o governo tenta maquiar os problemas apresentados, tentando desarmar movimentos independentes da juventude, das mulheres e dos trabalhadores sem apresentar mudanças reais.

Junho mostrou que a espontaneidade dos indivíduos é importante, mas que para avançar e vencer é preciso organização. Estrategicamente, a classe trabalhadora, junto aos setores oprimidos da sociedade, precisa se organizar para lutar não apenas contra seu explorador direto, a burguesia, mas contra todos que se colocam como obstáculo a sua luta: as direções traidoras do movimento de massas e os que vacilam entre a reforma e a revolução, a quem chamamos centristas. A classe trabalhadora deve tomar consciência de seu poder de mudança, já que, por ser a mão de obra necessária para a produção, possui também em suas mãos o poder de exigir suas reivindicações fazendo, por exemplo, greves e piquetes, onde deixa claro concretamente quem são os sujeitos que de fato possuem o controle da produção. Uma vez que essa classe se une para derrubar a opressão da burguesia presente em todos os detalhes deste sistema, ela poderá emancipar-se e também emancipar todos os setores oprimidos da sociedade. As mulheres, que, além de serem exploradas dentro de suas próprias casas e duplamente exploradas quando trabalham fora, pois na maioria das vezes recebem menores salários e têm que lidar com todos os tipos de assédio, devem ser linha de frente do processo de emancipação da sociedade. “Não haverá emancipação das mulheres desta barbárie em que vivemos se não acabarmos com este sistema que explora e oprime milhões, reproduzindo o patriarcado ao seu próprio proveito.” [1]. A socialista norte-americana, Louise Kneeland, disse em 1914: “O socialista que não é feminista carece de amplitude. Quem é feminista e não é socialista carece de estratégia.” A classe trabalhadora e as mulheres, que produzem todas as riquezas da sociedade, riqueza que lhes é expropriada pelos capitalistas, são aqueles que podem acabar com este sistema de opressão.

Essa indispensável organização da qual os trabalhadores necessitam para vencer deve-se dar a exemplo dos processos revolucionários triunfantes da História, como a Revolução Russa de 1917, a partir da organização de um partido revolucionário democraticamente centralizado. Tal revolução apenas se tornou real, mesmo em um país de capitalismo atrasado e em desenvolvimento como a Rússia de 1917, devido ao papel que cumpriu o partido Bolchevique, partido operário revolucionário, que reivindicava a auto-organização dos trabalhadores a partir dos soviets - conselhos operários das fábricas que funcionavam a partir da democracia direta e eleições de delegados. Tal partido operário, independente das burguesias nacionais e internacionais e a serviço da classe operária, foi capaz de dirigir o movimento que levou à tomada do poder pelos trabalhadores, colocando em suas mãos o controle de toda a produção do país,e implementando, após a revolução, os mais avançados direitos que garantiriam a igualdade e início da superação da opressão, como o direito das mulheres ao divórcio e ao aborto.

Tal legado bolchevique, perdido após a degeneração do Estado Operário pelas políticas stalinistas que defendiam a necessidade de se defender o socialismo russo sem que se avançasse para a conquista do socialismo mundial e que levaram inevitavelmente à restauração capitalista na Rússia, seguem vivas no trotskismo e na luta pela reconstrução da IV Internacional. Essa internacional declara em seu programa que “uma política correta é composta por dois elementos: uma atitude inflexível frente ao imperialismo e suas guerras, e a capacidade de desenvolver um programa à luz da experiência das massas.” [2]

Nesse sentido, à luz da experiência das massas que foi as jornadas junho, a LER-QI foi a única organização a chamar um Encontro onde pudéssemos debater as lições de junho para uma perspectiva revolucionária, se mostrando uma alternativa revolucionária de reorganização dos trabalhadores, estudantes, jovens, mulheres, negros, LGBTTIs, que enxergam e se colocam a apaixonante tarefa de lutar por uma outra sociedade; colocando, inclusive, a necessidade da reconstrução de um movimento revolucionário internacional, a IV Internacional. Por isso quero fazer um chamado para debater a importância da construção de um partido revolucionário a cada companheira e companheiro que compartilhou conosco a experiência de sair às ruas em junho com todos os debates que foram colocados e, em especial, àqueles que participaram das assembleias de base da Filosofia e compuseram nas ruas o Bloco da Filosofia tirado em assembleia de base e também do processo de eleições do CAFCA, no qual queremos, desde a chapa Jornadas de Junho, trazer para dentro da Universidade o que foi junho nas ruas. Nesse processo, derrotamos o governismo que tenta se esconder por trás das bandeiras da UNE, retomando um projeto de entidade estudantil militante, combativa e anti-governista, construído pelas bases e tendo como central a mais que necessária aliança operário-estudantil, por uma universidade aberta, a serviço e controlada pelos trabalhadores, estudantes e a população.

Termino o texto citando um trecho da fala da camarada Diana Assunção, dirigente da LER-QI, ao fim do Encontro: "Por fim companheiras e companheiros, queria dizer a vocês que ser comunista não é acrescentar uma atividade a mais, a tudo aquilo que já fazemos no dia a dia e que, no mundo de hoje, não nos deixa mais tempo para nada. Ser comunista é enxergar tudo aquilo que fazemos de outra perspectiva, e buscar dar um sentido de libertação a cada passo que damos em nossa vida. No mês que se completam 96 anos da mais profunda obra da classe operária internacional, quando operárias e operários russos tomaram o céu por assalto, comemoramos a perspectiva internacional da revolução, porque queremos enterrar este sistema e abrir caminho a uma sociedade onde possamos desfrutar do tempo livre, da cultura e da arte, colocando fim às guerras, a fome e à miséria. É por esta perspectiva que nós da LER-QI militamos todos os dias, a perspectiva que corre pelas nossas veias. Como dizia Leon Trotsky, o grande revolucionário russo ao lado de Lenin, a vida é bela, que as novas gerações a livrem de todo mal, violência e opressão e possam desfrutá-la plenamente."

[1Pão e Rosas – identidade, guerra e gênero

[2Programa de Transição, citado no livro Pão e Rosas – Identidade de gênero e antagonismo de classe no capitalismo.

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