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ELEIÇÕES

Plínio e o PSOL retomando os erros do passado

17 Sep 2010   |   comentários

Nessas eleições, uma coisa é inegável: Plínio de Arruda Sampaio está sendo coerente com a sua tradição e com a sua trajetória, através das propostas que apresenta. Por isso, devemos nos questionar se essas posições são as que de fato representam as necessidades mais estruturais dos trabalhadores e da grande maioria da população brasileira.

Retomando a discussão sobre o caráter do PSOL

Esse partido é tributário de uma estratégia que foi fundamentada teoricamente por setores do trotskismo francês, cujo pilar foi o abandono da estratégia clássica do marxismo, de revolução socialista e de luta pela ditadura do proletariado, entendida como a democracia direta dos trabalhadores e do povo contra a burguesia, em prol da adoção de uma estratégia difusa, de democracia até o final, de luta por um estado popular sem definição de classe clara, em que a revolução social e a democracia dos conselhos deixa de ser o norte orientador da esquerda que se reivindica “anticapitalista”.

Essa posição tem duas conseqüências que é preciso ressaltar neste debate: no plano social o abandono da perspectiva classista, que vê no movimento operário revolucionário o articulador de uma aliança de classes entre os oprimidos capaz de derrotar a burguesia; no plano político, o abandono da perspectiva de um partido revolucionário de trabalhadores, pela de um partido amplo, sem definição de classe, que unifica reformistas e revolucionários.

No Brasil, o PSOL rapidamente passou a ser controlado por setores que, apesar de oriundos do trotskismo, adotaram uma política eleitoreira e oportunista, dirigida a dialogar com uma classe média cada vez mais conservadora, impactada pela onda consumista dos últimos anos de lulismo. Assim, em 2006, Heloísa Helena, abandonou até mesmo o projeto “democrático e popular” do PT, levantando um programa centrado na ética na política e na redução de juros, cedendo ao fiscalismo neoliberal e chegando a se colocar contra o aborto e as ocupações do MST.

Essa deriva programática do PSOL, possibilitou que os setores internos que entraram no partido a partir de 2005, como a corrente APS e Plínio de Arruda, defendessem uma política que de conteúdo nada mais é do que reaproximar o PSOL do programa histórico do PT. No Brasil, dentro do partido que unificou reformistas e revolucionários, a disputa pela direção acabou se dando entre reformistas mais à direita e reformistas mais à esquerda, com as correntes de origem trotskista ou que se reivindicam revolucionarias se transformando numa pequena minoria quase inexpressiva.

Uma avaliação histórica da política defendida por Plínio e pela nova maioria do PSOL

Assim como o PT dos anos 80 e 90, esses companheiros do PSOL são capazes de importantes gestos à esquerda. Como por exemplo nos momentos (raros, é verdade) em que Plínio chega a defender o salário mínimo do Dieese, a redução da jornada de trabalho sem redução dos salários e as ocupações do MST. Ou então quando o deputado estadual do PSOL/SP, Carlos Giannazi, faz propaganda da luta da USP em seus panfletos de campanha, conquistando a simpatia de muitos trabalhadores combativos da universidade. No entanto, esses pequenos gestos não alteram o fundamental da sua estratégia “democrática e popular”: o maior desenvolvimento econômico e social possível no interior do capitalismo, tendo como objetivo alcançar, por essa via, uma melhora real na situação de vida dos trabalhadores e do povo pobre e a superação dos problemas mais estruturais de país atrasado que o Brasil carrega ao longo período da sua história.
Esse programa é a retomada tardia de uma estratégia que já se demonstrou falida na década de 60, quando o PCB e a maioria das correntes de esquerda apoiavam o governo Jango (do qual Plínio fazia parte) e as suas “reformas de base”, sendo incapazes de articular qualquer resistência ao golpe. Enquanto os marinheiros se insubordinavam contra os almirantes e esperavam diretrizes para unificar a resistência armada com estudantes e operários contra os militares, Jango, para evitar um processo que pudesse sair do seu controle, fugia para seu exílio na Argentina, e a esquerda que o apoiava assistia a tudo paralisada. A esquerda que apoiou esse governo foi impotente, pois em nome da unidade com uma inexistente burguesia progressista e na ilusão em relação aos supostos “militares nacionalistas”, deixou de organizar a unidade operária e popular para enfrentar pela ação direta a real burguesia golpista e pró-imperialista. Foi justamente por conta dessa impotência que o PCB acabou como partido de massas e até hoje não conseguiu se recuperar.
Já na década de 80, a direção petista que se colocava como inovadora e superadora dos erros do PCB, inovou muito pouco nas questões fundamentais. Num novo contexto, e se adaptando ao processo de transição democrática negociada entre os políticos do MDB e os militares, a cúpula do PT, da qual Plínio fazia parte, manteve uma estratégia de unidade com setores burgueses progressistas, apesar da tendência ao classismo que era muito forte no movimento operário. Essa política democrática e popular significava defender uma política econômica unificada com setores burgueses e se adaptar aos limites da luta democrática que estes mesmos setores colocavam, em nome de não romper a unidade da luta contra a ditadura. O resultado histórico dessa estratégia pudemos ver ao longo dos anos 90, com o triunfo da ofensiva neoliberal e na atuação do PT nas prefeituras e estados.
Ainda assim, os setores do PSOL que apóiam Plínio reeditam essa estratégia sem nenhum balanço do passado. Um dos pontos principais dela é a visão, tomada das teorias furtadianas e cepalistas de que “para assegurar um padrão de vida digno a toda a sua população, o Brasil precisa substituir o modelo de exportador pelo modelo de desenvolvimento do mercado interno. ” Isso seria feito, segundo Plínio, através de três medidas: reforma agrária, reforma urbana, e aumento do gasto social, através do alongamento da dívida publica (sequer defende o não pagamento da dívida) e de uma reforma tributária que tire dos ricos para dar aos mais pobres. Será que o destino que tiveram as “reformas de base” de Jango não foram suficientes para mostrar até que ponto a burguesia brasileira está disposta a chegar para não abrir mão de absolutamente nenhum dos seus privilégios? Nenhuma moderação das propostas com o fim de torná-las palatáveis à setores burgueses – como o abandono da luta pelo não pagamento da dívida – vai tornar essa perspectiva possível. Assim, somente se preparam novas tragédias para o movimento de massas. Para se justificar, o programa de Plínio coloca o exemplo de quatro países onde parte deste programa foi possível: China, Japão, Coréia do Sul e Taiwan. O que não se entende é se Plínio está propondo uma revolução social como houve de fato na China (apesar da estratégia de conciliação de classes da direção burocrática de Mao Tse Tung), ou se está propondo uma aliança estreita com os EUA, como houve nos outros três países (no caso de que o Tio Sam aceitasse, o que parece bastante improvável já que não existe mais nenhuma ameaça “vermelha” a ser contida).
Outro aspecto do programa apresentado por Plínio de Arruda mostra uma leitura mais equivocada da história brasileira do que a própria direção petista tinha na década de 80: “pode-se dizer que, dos anos trinta aos anos oitenta do século passado, o avanço da classe operária seguiu pari passu o desenvolvimento da indústria, da urbanização e do sentimento de nacionalidade. Esta marcha ascensional foi interrompida na década de 1990. ” Essa idéia ignora cabalmente os anos de arrocho da ditadura, ou a miséria do enorme proletariado agrícola brasileiro durante todo esse período, como se esses não fossem parte da classe operária. Ignora à repressão à organização independente dos trabalhadores por parte de Getúlio Vargas e a penúria das condições de vida dos trabalhadores ao longo das décadas de 40 e 50, que levou a dois importantes ascensos de greve. Isto é, ignora os elementos fundamentais da história brasileira do século XX, em troca de adotar um ponto de vista desenvolvimentista, de apologia à industria capitalista, que deixa de lado, por outro lado, que é impossível recriar as condições econômicas que permitiram essa política que Plínio tanto reivindica. Nas condições da crise capitalista, tudo o que esse sistema poderá oferecer aos trabalhadores e a juventude serão ataques ainda mais fortes e profundos do que aqueles que vivemos a partir dos anos 90.

“Objetivo básico: distribuição de renda”. www.Plínio50.com.br
“Voltar a andar pra frente”. www.Plínio50.com.br

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