Quinta 25 de Abril de 2024

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DEPOIS DA VI CONFERÊNCIA DA FT-QI

Plenária Nacional da Ler-qi

26 Sep 2009   |   comentários

A plenária nacional da Ler-qi aconteceu nos dias 7 e 8 de setembro, para refletir sobre as discussões e orientações da VI Conferencia Internacional da Fração Trotskista pela Quarta Internacional e precisar nossas definições e intervenção nacional. A plenária contou com a presença de mais de 100 militante, que realizaram durantes esses dois dias um rico debate sobre a situação internacional no ano I da crise económica, as tendências a realinhamentos e disputas entre os países imperialistas, dependentes e semi-coloniais, a situação do movimento de massas e das organizações que se reivindicam revolucionárias e anti-capitalistas e a necessidade e as vias de reconstrução da IV Internacional.

O ano I da crise económica

No primeiro dia de debates, nos dedicamos a uma análise profunda da situação internacional. A pequena recuperação em curso não significa o fim da crise, pois não se dá em base a uma gigantesca ajuda económica e de um enorme endividamento publico aprofundando os profundos desequilíbrios económicos que estão na sua origem. A perspectiva, que se aceleraria com a possibilidade de uma nova queda, é de maiores disputas entre os países imperialistas, no marco de um processo profundo de decadência dos EUA. Sua aproximação com a China, no que vem sendo chamado de G2, e como ao contrário de significar um maior avanço da China como potência internacional que substituiria os EUA, expressa uma necessidade estratégica dos EUA em avançar na semi-colonização deste país, o que não vai se dar sem profundos ataques aos trabalhadores chineses. Pelas enormes contradições que acumula, o futuro histórico da China vai ser decidido em profundos enfrentamentos entre revolução e contra-revolução.

O movimento de massas, apesar do seu atraso em relação à dinâmica económica e política crise económica, realizou nesse ano I da crise importantes ações, que estão antecipando futuros processos mais agudos. A revolta da juventude grega, a volta à cena do movimento estudantil em vários países da Europa, principalmente no Estado Espanhol, as ações radicalizadas do movimento operário francês, com seqüestros de patrões e até ocupações de fábrica, e a greve geral em Guadalupe, colónia francesa, que foi o processo mais importante pois adquiriu uma dinâmica insurrecional, abortada pela suas direções e pelo boicote da burocracia sindical da metrópole. Esses são só alguns exemplos, que mostram como a crise vai recolocar na ordem do dia, inclusive nos países centrais, novas situações revolucionárias.

Apesar da América Latina em geral ter sido menos afetada pela crise até agora, se desenvolveram importantes acontecimentos políticos, como o golpe em Honduras, que marcam uma dinâmica de polarização entre o imperialismo e os países mais submissos como Colómbia e Peru, e os países que se alinham com Chavez e seu bloco da Alba, que debilita a política de Lula de se tornar o principal mediador das relações da América Latina com o imperialismo. Nesse marco, um dos elementos mais importantes é a possibilidade do fenómeno chavista estar começando um processo de decadência histórica, por sua impossibilidade de atender as demandas operarias e populares no plano interno, e no plano externo por incapacidade para fazer frente às medidas mais duras do imperialismo como deixar nas mãos de Obama a mediação em Honduras ou não ser capaz de impedir a instalação dos EUA das bases colombianas. Por isso, reafirmamos a votação da IV Conferência da FT-QI, de redobrar os esforços na campanha internacionalista de apoio à resistência em Honduras.

As vias de reconstrução da IV Internacional

Nesse primeiro dia de debates, apesar da riqueza da discussão internacional, o ponto que mais tomou a atenção da plenária foi a discussão sobre a IV Internacional. Como discutimos na conferência da FT, a crise reactualiza não só o programa da IV Internacional, como a necessidade da luta pela sua reconstrução, que não se dará por acordos em pontos gerais entre as correntes trotskistas, mas através uma intervenção comum na luta de classes e de acordos programáticos profundos. Não somente entre as organizações que reivindicam a IV internacional, mas através de uma fusão com as tendências mais a esquerda que surjam entre os trabalhadores.

Recuperamos em nossa discussão a tradição dos trotskistas, que enfrentaram o imperialismo e o stalinismo na década de 30 e na segunda guerra mundial. O exemplo do partido americano da IV na greve dos caminhoneiros de Mineapolis, que na base da democracia operária, de duríssimos enfretamentos com piquetes e de um jornal diário do sindicato, foram um exemplo para os trabalhadores americanos. Relembramos os atos heróicos de Ernest Mandel, que mais tarde adotou uma política oportunista, mas que na 2ª guerra escapou três vezes de campos de concentração nazista, através de propaganda revolucionária para os seus carcereiros e assim conquistando a simpatia destes. Isto é, aplicando a política de confraternização entre os soldados, preconizada por Lenin e Trotsky e renegada pelo stalinismo.

Esse resgate não é apenas uma questão de história, mas de política concreta. A partir da década de 50, as correntes da IV Internacional não souberam dar uma resposta revolucionária a situação que se abriu com o triunfo combinado dos Eua e do stalinismo da 2ª guerra. Hoje, o movimento trotskista se divide entre uma ala que caminha para abandonar até a referência histórica ao trotskismo, representada pela corrente francesa LCR, que se dissolveu num “Novo Partido Anticapitalista” . E outra ala, que mantém a reivindicação da tradição e do programa da IV Internacional, entre outras coisas, no movimento operário é uma corrente sindicalista de esquerda, não revolucionária, que atua fazendo pressão sobre a burocracia sindical e não com uma estratégia de independência de classe. Como exemplo, a corrente francesa Lutte Ouvriere, que teve peso dirigente na frente única que dirigiu a greve geral em Guadalupe, mas que não apresentou uma política alternativa, ou o PSTU brasileiro, da LIT, que apesar de defender o programa de transição, na pratica não representa mais que uma alternativa mais combativa para a mesma política da CUT, de pressão sobre a patronal, o governo e a justiça do trabalho, incapaz sequer de travar uma luta séria das 4270 demissões na Embraer, do principal sindicato da Conlutas.

É diante desse quadro, que discutimos o papel histórico da Fração Trotskista na luta pela reconstrução da IV Internacional. Partimos de reivindicar o conquistado, com os pequenos exemplos de uma atuação revolucionária e não sindicalista de esquerda no movimento operário latino-americano. Principalmente o conquistado pelo PTS, que acumula uma grande estruturação no movimento operário argentino, que se expressa em exemplos como o de Zanon, que demonstram a grande potencialidade de uma fusão entre os militantes e o programa marxista revolucionário e a classe operária. Nesse momento está em curso uma batalha que pode ser histórica para o movimento operário Argentina, que a luta da Kraft Terrabusi, uma das maiores fabricas da Argentina, e a maior fábrica deste gigante monopólio da alimentação fora dos EUA. O ativismo operário desta empresa, é parte de um processo estendido de militância operária nas fabricas argentinas e sua vitória pode colocar o movimento operário argentino em um novo patamar. Temos orgulho da intervenção do PTS, que está ligado organicamente a este novo ativismo operário, que está travando sua mais importante batalha até agora.

Em menor escala, todos os demais grupos da FT também avançaram na sua estruturação no movimento operário. Na Bolívia, nossos camaradas da Lor-ci são parte do processo de formação de novos sindicatos a partir de El Alto. No Brasil, o papel dirigente na greve da USP através de uma atuação em frente única com as demais tendências do Sintusp, trouxe para a nossa organização responsabilidades concretas na luta de classes a novas possibilidades de desenvolvimento. Essa greve foi para nós uma grande “escola de guerra” , no sentido profundo que Lenin dava à intervenção nas greves operárias. Foi uma greve que combinou a demandas políticas como a readmissão de Brandão e a luta contra a PM e a policia, com demandas salariais. Ela se deu num momento de isolamento no primeiro semestre, e acreditamos que demos um aporte fundamental, que foi o de pensar a estratégia da greve, as ações e as demandas do movimento, ligadas à alianças com outros setores, principalmente o movimento estudantil, e buscando a unidade dos própria trabalhadores incorporando as demandas dos terceirizados e através de uma solidariedade concreta com as vitimas das enchentes no nordeste, com os moradores de Paraisópolis e sua luta contra a polícia.

Acreditamos que esses exemplos de uma intervenção marxista revolucionária no movimento operário, contrários ao que é um sindicalismo de esquerda, são os principais aportes da nossa organização internacional para o movimento operário. Obviamente, não acreditamos que nossa intervenção por si só, por melhor que seja, vá levar à reconstrução da IV Internacional. Pelo contrário, apostamos que no marco da crise capitalista em curso e de mais agudos processos de luta de classes vão surgir correntes à esquerda nas organizações trotskistas e do movimento de massas, com as quais avançar para fusões. Conseqüentes com essa opção, buscamos desde já todo tipo de acordos concretos que possamos chegar com organizações combativas do movimento operário, popular e estudantil em cada país, e fazemos permanentes chamados às correntes trotskistas para a atuação comum em cada pais e a nível internacional, apesar das diferenças importantes que mantemos, buscando acordos programáticos concretos, que permitam uma atuação revolucionária comum.

A IV Internacional e os intelectuais marxistas

No marco de uma discussão viva, a partir do plenário foi aberta uma discussão muito importante para nós, especialmente num país como o Brasil, onde os intelectuais participam tão ativamente na política e onde existe uma importante camada de intelectuais marxistas que tem suas pesquisas ligadas ao movimento operário.

Para além de uma discussão em aberto que envolve os conceitos de Gramsci sobre intelectual orgânico, para o nós trata-se de romper com a atual divisão de trabalho entre intelectuais e esquerda, onde uns estudam e os outros constroem partidos e organizações, que não é mais do que um desdobramento da divisão entre a luta económica e a luta política. Parte importante da nossa atuação vai estar voltada para o aprofundamento da teoria marxista em polemica com os principais referentes teóricos da nossa época e para forjar uma nova camada de jovens intelectuais marxistas revolucionários, que assumam para si a tarefa de participar organicamente da construção de um partido revolucionário de trabalhadores no Brasil e não apenas em serem conselheiros das organizações e sindicatos.

A situação nacional e as tarefas da LER-QI

Hoje no Brasil as tendências a maior polarização que se expressam na América Latina estão contidas pela recuperação económica e pelo grande peso de Lula entre as massas. Ainda assim, apesar da passividade e do conformismo social serem muito fortes, se dão lutas e explosões sociais importantes. No campo, um enfrentamento permanente entre os sem terra e os latifundiários. Nas cidades, explosões sociais e revoltas recorrentes nas favelas e bairros pobres contra a repressão policial, por moradia e transporte. Além disso, como estamos vendo nas campanhas salariais do segundo semestre, a recuperação económica baseada num aumento da exploração, combinada com a intransigência da patronal podem gerar importantes lutas.

A intervenção dos revolucionários nesses processos iniciais devem ser tomadas como “escolas de guerra” , como fizemos com a greve da USP, como preparatórios para o futuro de maior luta de classes no Brasil. Uma nova recaída da crise económica afetaria fortemente o Brasil e poderia acelerar todos as contradições do regime, mas, mesmo com a recuperação atual, a sucessão de Lula e a crise de representatividade do congresso nacional, apontam para uma crise profunda do regime político, no marco de maiores disputas até as eleições de 2010, que vão trazer elementos de instabilidade política. Ao mesmo tempo, as explosões sociais e a volta a cena do movimento estudantil podem estar antecipando lutas importantes do movimento operário.

A partir da greve da USP, a possibilidade de uma intervenção concreta num setor do movimento operário. No Sintusp queremos aprofundar nossa relação com o novo ativismo que surgiu com a greve, buscando o máximo de frente única possível com as demais tendências do sindicato e com os independentes, para enfrentar a reitoria e a ofensiva do governo Serra contra o Sintusp, para organizar uma atuação classista e combativa a partir da Conlutas e dos nossos trabalhos iniciais em outras categorias, levando solidariedade as lutas de outros setores e buscando levantando um programa de independência de classe nas lutas que se desenvolvam. No movimento estudantil, através da Anel, vamos lutar por uma orientação combativa. De luta contra os regimes universitários, buscando radicalizar a democracia interna nas universidades publicas para lutar pelo fim do vestibular e colocar a universidade a serviço dos trabalhadores. De unidade com os estudantes das universidades particulares, pela estatização do ensino privado. De aliança concreta com os trabalhadores, buscando levar solidariedade concreta as suas lutas, a começar, no estado de São Paulo, pelo apoio ao Sintusp na luta contra o governo Serra.

Nossa perspectiva é formar uma forte liga revolucionária de trabalhadores e estudantes, com presença em alguns estados do Brasil, com uma ligação orgânica em setores do movimento operário e com uma profunda elaboração teórica sobre a realidade brasileira e internacional, que seja capaz de aportar com exemplos concretos de uma intervenção revolucionária nos conflitos operários e estudantis. No próximo período, a partir das posições conquistadas, queremos colocar nossas forças no sentido da formação de um bloco classista para a intervenção na luta de classes, fazendo um chamado à esquerda do PSOL e ao PSTU para que abandonem sua política de Frente de Esquerda e lutando para que a fusão entre a Conlutas e a Intersindical se dê em função de uma política comum de coordenação das lutas para que estas possam triunfar. Dessa forma esperamos colaborar para frente aos próximos grandes embates de classes, exista uma camada de combatentes operários capazes de se colocar à altura dos desafios.

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