Quinta 28 de Março de 2024

Voto em branco para as presidências

Pelas “chapas populares” contra a investida da reação

07 Sep 2005 | O P.C.B ver-se-á forçado a assumir posição de vanguarda contra o neo-fascismo – A gravidade do momento não autoriza abstencionismo O apoio crítico dos trotskistas aos candidatos da “linha justa”   |   comentários

O problema que se põe diante das massas populares do Brasil, nesta hora, é o defesa ativa das nossas anêmicas liberdades: conquistadas e de seu robustecimento. A luta pelo socialismo ’ todos o sabemos ’ é inseparável das escaramuças cotidianas da classe operária pelas SUAS liberdades, isto é pela DEMOCRACIA PROLETÃ RIA dentro do Estado capitalista.

Em um país de estrutura económica-social como o nosso, em que pesam acentuados laivos [vestígios, traços] de uma era histórica pré-capitalista, o proletariado não se apresenta ainda inteiramente diferenciado como classe e por conseguinte, sua fração mais dinâmica, de objetivos mais lúcidos, deve arrastar atrás de si camadas plebéias socialmente amorfas, que seguirão aqueles que se mostrarem mais enérgicos ’ sincera ou insinceramente ’ na luta contra a miséria em que jazem submersas.

SUBORDINAÇÂO AO OBJETIVO HISTÒRICO

Desta constatação objetiva deve decorrer uma série de princípios táticos e estratégicos para os que se pretendem representantes do socialismo científico no seio do proletariado. Inútil reafirmar que toda manobra tática ou estratégica empreendida por um partido marxista leninista, não pode deixar de estar RIGOROSAMENTE subordinada à finalidade deste partido: a instauração do SOCIALISMO. Divorciados da meta final, essas manobras táticas e estratégicas, de MEIOS para atingir o alvo se transformam em FINS EM SI MESMOS o que quer dizer em adaptação diária e paulatina aos quadros do regime vigente. Esse partido estará, assim, lutando por reformas sociais; jamais pela emancipação da classe operária.

Agora que as forças reacionárias do Brasil estão se apresentando para retomar do proletariado e das camadas pobres em geral as migalhas democráticas que se viram obrigadas a conceder, o pleito eleitoral à vista trás profundo conteúdo e assumirá de fato, rude significado de luta de classes em torno das urnas.

REDUZ-SE O ELEITORADO DE CABRESTO

Já, hoje, o proletariado não participa dos pleitos de olhos vendados. O eleitorado de cabresto das velhas máquinas eleitorais de outros tempos sofreu fortes reduções. Entre a classe operária, figura como parcela ínfima. Mesmo os trabalhadores que se agrupam ao redor de Vargas e seus comparsas do “trabalhismo” , só o fazem porque ainda continuam intoxicados pela demagogia totalitária do Estado Novo com sua legislação social.

Na verdade, os setores menos entorpecidos do proletariado e das camadas plebéias formam sob a bandeira do P.C.B, cuja legenda simboliza, para eles, aspirações de um mundo melhor, que uns ainda vêem de contornos indefinidos e outros decididamente socialistas.

CARÃ TER REACIONÃ RIO DO STALINISMO

Todos os militantes operários realmente socialistas sabem como o partido de Prestes está longe de ser comunista. A mixórdia programática que impinge tem tanto de marxismo-leninismo como a “social-democracia” do general Dutra tem de social e democrática.Empolgada por um punhado de aventureiros que até há pouco cortejava o tirano Vargas, a direção do P.C.B que não passa de um apêndice da burocracia staliniana, ideologicamente nada tem a ver com o proletariado que diz representar. Pequeno-burgueses chovinistas e reformistas, pelas posições que assumem e defendem no âmbito nacional, poder-se-ia classificá-los de “jacobinos” retardatários num mundo burguês em franca desintegração. Daí o caráter REACIONÃ RIO do papel que desempenham, nesta hora em que a missão do proletariado não são as reformas pequeno-burguesas mas a edificação da sociedade socialista. Mais pernicioso ainda é o papel desses repulsivos pedinchões porque toda sua mendicância é feita em nome uma classe a quem cabe a última palavra no cenário da história contemporânea. Mesquinhos nos objetivos, dúplices na ação que buscam apresentar como socialista, confundem tática e estratégia proletárias com capoeiragem de capadócios suburbanos. Com isso outra coisa não fazem senão atrelar as massas trabalhadoras ao préstito dourado dos tubarões dos lucros extraordinários batizados por eles com o nome de “burguesia nacional” .

MEDIDAS COERCITIVAS

A reacionária e medrosa “burguesia nacional” nada quer, contudo, com os “jacobinos” brasileiros de bandeira vermelha. com a argúcia que lhe dá a consciência de classe percebe que existe, NA REALIDADE, profundo contraste entre o envoltório do P.C.B. ’ representado pela direção pequeno-burguesa ’ e seu conteúdo feito de ponderável maioria proletária. E se não logrou ainda estabelecer acordo unânime sobre a “necessidade” do fechamento do partido prestista, marcha para isso, através de medidas coercitivas das liberdades operárias. Depois das tentativas da C.N.T e da “Lei Monstro n.2” , temos a “Liga Brasileira de Defesa da Democracia” contra “todos” os extremismos...de esquerda, bem entendido.

O Partido Comunista de Prestes está empestando os meios socialistas do Brasil. Isto, todo militante proletário consciente percebe. Sua obra de mistificação confunde a massa, retarda sua educação política, atrasa-lhe, portanto, a formação socialista. Mas desempenha igualmente, ação revulsiva que faz emergirem camadas ainda há pouco inertes no cenário político. Isto é, com efeito, o que não quer a burguesia, que vendo está vendo a “linha justa” , apesar de todo o seu oportunismo, assenhorear-se dos sindicatos, penetrar em todos os cantos [ilegível] bandeira REFORMISTA em punho.

A tolerância contrafeita da U.D.N, que, mais que organização partidária representa um esqueleto total descarnado cuja ossatura está se desconjuntando, vem de [ilegível] situação semi-oposicionista.

A reação apenas adiou o golpe contra o “comunismo” , o que vale dizer, contra todas as conquistas da DEMOCRACIA PROLETÀRIA: partidos, sindicatos, jornais, etc.... O governo Dutra não conseguiu galvanizar o corpo agonizante do integralismo. A disputa eleitoral vai dificultando a soldagem das [ilegível] no campo burguês.

Mas este, tão pronto veja dirigindo suas querelas através das decisões as urnas, buscará uma base de entendimento contra a [ilegível] das massas asfixiadas pelo peso da inflação ascendente. As cócegas oposicionistas da U.D.N, que como organização quase nada significa no plano popular, tenderão a cessar ’ é claro ’ à medida em que o proletariado se for tornando mais “exigente” .

NÃO HÀ OPOSIÇÃO REALMENTE DEMOCRà TICA

Todos reconhecemos uma coisa, oposição realmente democrática não existe no Brasil de nossos dias. O que pensamos da U.D..N. a esse respeito, já o dissemos. A “Esquerda Democrática” , por seu turno, não passa de mera ficção partidária, um grotesco estado-maior sem comandos. A timidez política dessa agremiação de “maiorais” se espelha no caráter eclético de seu programa pequeno-burguês. O P.T.B., em que pese a base proletária sobre a qual repousa, não passa de uma cloaca onde desaguaram os mais imundos detritos do estadonovismo. Com Getúlio ou com Borghi, é situacionista. Secundará o governante se este empreender a jornada de regresso à ditadura, não tenhamos dúvidas.

Resta, pois, como força política de MASSAS, fora dos quadros do situacionismo, o P.C.B.. A despeito de seu vergonhoso oportunismo e de sua volúpia colaboracionista o “ordeiro” partido de Prestes ver-se-á constituído o alvo central da reação. A burguesia brasileira nunca chegou a fazer uma experiência “democrática” , em toda a plenitude. Apesar de sua formação histórica híbrida, marca-lhe ainda a fisionomia a mesma ronha [sarna que ataca cavalos e ovelhas; malícia] latifundiária que determinou a política de um Império cujas instituições representativas eram exercidas por dois únicos partidos. O “salto” republicano foi indolor, porque representou a culminação de um processo de transformações económicas quantitativas num mundo burguês já em etapa bem avançada. disso provém o caráter combinado do desenvolvimento económico-social do Brasil. Precocemente envelhecida, a burguesia nacional, trás todas as taras de um mundo histórico superado de há muito e um mínimo das “virtudes” da civilização capitalista agora em agonia mortal. Esta, igualmente, a razão porque nosso proletariado, embora de formação recente, já teve, várias vezes, ocasião de mostrar-se aguerrido; por isso mesmo, a apavora. Embora pelado por um partido oportunista ’ cuja direção carreia, com grande atraso, uma ideologia “tenentista” empalidecida pelo tempo, somada aos chavões da metafísica stalinista, - os setores mais ativos de nosso proletariado têm se lançando em vogas grevistas sucessivas e em batalhas anti-fascistas memoráveis que denunciam seu rápido processo de amadurecimento como classe com objetivos próprios.

LUTA DE CLASSE NO CAMPO ELEITORAL

O pleito que se avizinha assumirá ’ repetimos ’ aspectos de rude luta de classes. Parece que malograram as tentativas para frustrá-lo, ou, pelo menos, para dele afastar as camadas mais combativas do “povo” , que marcharão sob o estandarte conspurcado do partido de Prestes.

Só os cegos voluntários não estão vendo que se trama, de modo particular em nosso continente, feras arremetida contra o movimento operário, sob a égide do imperialismo americano, a pretexto da luta “contra todos os extremismos” . É uma velha história que se repete. Antes da 2ª. Guerra foi isto mesmo. E agora que preparam a 3ª. chafurdam as mãos banhadas de sangue no antigo arsenal das provocações anti-proletárias.

Um “plano Cohen” para as Américas foi arquitetado há dias pelo Sr, Adamson, conselheiro-geral do Comitê de Investigações das atividades anti-americanas da Câmara dos Representantes dos EUA. Talvez venha representar o toque-de-rebate. Sabemos que, o que constitui o fundo disso tudo, é o ódio do imperialismo mundial à U.R.S.S. que,apesar do Estado Operário degenerado, continua sendo a grande dor-de-cabeça do Capitalismo.

Na frente nacional, o P.C.B., pelas massas que movimenta sob a gloriosa legenda que há muito deixou de pertencer-lhe, passa a ser o objetivo principal da ofensiva reacionária. O P.C.B., porém não é apenas a medíocre e safada camarilha prestista-enopista que empolga sua direção. São cerca de 150 mil membros organizados em suas fileiras que ’ excluindo-se os pequeno-burgueses reformistas congênitos e, muitos deles, arrivistas ’ representam, nas atuais condições históricas do Brasil, grande parte do que há de melhor em nossa classe operária. Se esses trabalhadores aceitam a orientação pecebista é porque ainda crêem nela encontrar seus melhores guias.

Ao redor do P.C.B. se situam também mais alguns milhares de operários, sem filiação partidária, que não encontraram, ATÉ AGORA COISA MELHOR. Sob a influência do prestismo estão, igualmente, centenas de sindicatos.

Este quadro dos stalinistas nos mostra que, por enquanto, eles representam, DE FATO, a legalidade do movimento proletário, exprimindo-se pelas suas camadas mais esclarecidas.

Longe de nós a intenção de atribuir ao P.C.B. virtudes políticas que nem remotamente possui. Não passa de uma organização de estreita ideologia pequeno-burguesa, reformista, colaboracionista, e tudo o mais que representa a NEGAÇÃO do marxismo-leninismo. A maioria do proletariado militante não pensa, todavia, assim.

PRESERVAR DO FASCISMO A CLASSE OPERÃ RIA

Nosso dever de socialistas é preservar do fascismo a classe operária e suas organizações. Malgrado sua estrutura TOTALITÃ RIA e a nociva ideologia da direção, o partido “comunista” é, PELA SUA BASE, uma organização de trabalhadores, que aspiram ao socialismo. Colocando-nos ao lado desses trabalhadores estamos defendendo a legalidade operária que nos permitirá a divulgação da plataforma autenticamente socialista, que, em futuro breve, poderá agir como centro de atração do que há de melhor na classe operária.

Prestes e seu partido, seja porque os legítimos sentimentos anti-fascistas das massas os forcem, seja porque seus interesses de CONJUNTURA os obriguem, vêem-se impelidos a encabeçar a resistência ’ com “métodos” próprios, é evidente ’ a todas as arremetidas do reacionarismo. Só na legalidade essa organização desvirilizada pelo oportunismo, pode sobreviver a si mesma. E como abarca larga porção do proletariado, sua sobrevivência legal, interessa a todos nós. Estendemos nossa decisão de luta pela legalidade do P.C.B. até no campo eleitoral.

Não desconhecemos como é precário e aleatório o anti-fascismo prestista. A clique enopista que comanda o P.C.B. pode descer às mais torpes transações com a burguesia para manter-se nos quadros da legalidade capitalista. Mas não é ela que nos interessa e, sim, a massa, os sindicatos, que desejamos, fazer chegar até nós, até ao socialismo científico.

O momento não autoriza ABSTENCIONISMO. Torna-se imperioso lutar em todos os planos contra a avalanche de direita que ameaça afogar novamente no lodo totalitário as organizações operárias e populares. A cena eleitoral está agora, à nossa frente. Nem todas as tendências do movimento socialista foram “brindadas” pelo Estado burguês com a permissão de participar dos pleitos.

A lei eleitoral vigente escamoteia aos militantes marxistas-leninistas o direito de disputarem a tribuna parlamentar. Mas a estes se impõe o dever, NA HORA PRESENTE, de se empenharem a fundo na pugna para dela sacar o máximo proveito para a classe operária.

VOTO EM BRANCO PARA AS PRESIDÊNCIAS

Participar do pleito não implica nas condições especialíssima em que o devem fazer os marxistas-leninistas, em renúncia de princípios.

Tal o motivo porque, diante dos candidatos burgueses que se disputam as presidências estaduais, só uma deve ser nossa posição: voto em branco, como manifestação de repúdio às suas plataformas capitalistas e às suas administrações que não poderão deixar de ser, igualmente capitalistas.

O P.C.B. FORÇADO A RESISTIR

Extensas camadas proletárias e PLEBÈIAS já se definiram pelas “chapas populares” do P.C.B. que, em que pese seu conteúdo pequeno-burguês, lhes reflete parte dos anseios. Já ficou dito: de comunista o partido de Prestes não apresenta senão o nome. Sua ação na arena proletária é de pura mistificação. Obrigado contudo por contingências alheias À vontade de sua direção timorata e capitulacionista, ver-se-á forçado a assumir a posição de vanguarda da resistência organizada contra o neo-fascismo. Por pouco tempo; não se pode ter ilusões. Mas de qualquer modo será tempo ganho pelos trabalhadores.

Daremos, igualmente, apoio CRÃ TICO às “chapas populares” , advertindo, por isso mesmo, o proletariado de que o P.C.B., no parlamento ou fora dele, não mais representa e nunca mais virá a representar os interesses históricos da classe operária.

Não obstante o apoio CRÃ TICO que emprestamos às “chapas populares” do P.C.B. contrapomos ao seu chamado “programa mínimo” , o plano de reivindicações transitórias que estampamos em outra parte deste jornal, e para ele chamamos a atenção de todos os proletários conscientes, e de todos os elementos oprimidos do povo, na certeza de que compreenderão tratar-se das reivindicações que correspondem REALMENTE ao progresso político e à melhora económica dos trabalhadores. Exigir da parte dos chefes do P.C.B. e de seus candidatos aos parlamentos estaduais a luta POSITIVA pela aplicação dos itens desse plano constitui um dever elementar de todo aquele que confia no futuro socialista da classe operária.

Orientação Socialista, 5 de janeiro de 1947









  • Não há comentários para este artigo