Quinta 25 de Abril de 2024

Internacional

Parlamento turco permite Exército cruzar a fronteira com a Síria

06 Oct 2014   |   comentários

O Parlamento turco aprovou dar “permissão a seu Exército para combater grupos terroristas” nos territórios da Síria e do Iraque. Isto implica também que outras potências estrangeiras poderão utilizar bases militares turcas na luta contra o Estado Islâmico.

O Parlamento turco aprovou dar “permissão a seu Exército para combater grupos terroristas” nos territórios da Síria e do Iraque. Isto implica também que outras potências estrangeiras poderão utilizar bases militares turcas na luta contra o Estado Islâmico.

O Governo havia solicitado à Câmara estas permissões para “combater ataques dirigidos a nosso país por parte de todos os grupos terroristas” nestes dois países. Esta permissão já existia sobre o Iraque, onde tropas turcas podiam entrar para combater as milícias separatistas curdas do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão, considerados terroristas pela Turquia, pela União Europeia e os EUA, desde 1984 quando se levantaram pela independência do Curdistão, provocando um massacre de 40.000 curdos pelos imperialistas) e na Síria, se algum projétil disparado nos enfrentamentos da guerra civil síria contra o ditador Bashar Al-Assad atingissem solo turco.

Até agora, o primeiro ministro turco Recep Tayyip Erdogan havia se negado a participar na campanha liderada pelos Estados Unidos contra o Estado Islâmico, para evitar as conseqüências de represálias yihadistas em seu território (que tinham 46 reféns turcos) e a saída de turcos para participar das Unidades de Proteção Popular curdas. Mas nos últimos dias o governo turco endureceu as mensagens de advertência ao Estado Islâmico, e aprovou nesta quinta-feira no Parlamento a moção que permite o Exército turco cruzar o território sírio, e reforçar o já existente no Iraque.

Mas essa aprovação não chega sem contradições. A primeira preocupação de Erdogan convencer os Estados Unidos de estabelecer uma zona tampão e de exclusão aérea no norte da Síria que permita concentrar os refugiados sírios fora de seu território. Isso porque o governo turco teme que as operações contra o Estado Islâmico fortaleçam na Síria o regime de Assad, de quem é declarado inimigo e que considera a principal fonte do EI, e o fortalecimento dos separatistas que lutam contra os yihadistas. O temor de conseqüências políticas em seus países é o principal “desorganizador das vontades” dos países membros da coalizão liderada pelos Estados Unidos. Essas fricções geram tensões entre os países do Oriente Médio, dificultando a possibilidade de armar uma frente contundente que responda aos avanços do EI, que se aproveita destas condições. Hoje, autoridades iraquianas divulgaram que 90% da cidade de Hit, um enclave estratégico às margens do rio Eufrates e da represa de Haditha, no oeste do Iraque, foi tomada por uma milícia do Estado Islâmico.

O Exército turco destacou desde a segunda-feira 35 tanques de guerra e dezenas de veículos blindados na fronteira com a Síria, revidando disparos de artilharia depois de vários projéteis do Estado Islâmico terem atingido o território turco, fruto da ofensiva dos yihadistas que bombardeiam a região curda de Ayn al Arab (Kobane), no norte da Síria. O fortalecimento da presença militar de Ankara na fronteira se dá produto do rápido avanço do Estado Islâmico sobre a região curda que divide fronteira com a Turquia, e da crise humanitária com os refugiados curdos: mais de 160.000 ultrapassaram a fronteira nos últimos dez dias, que poderia aumentar para 400.000 se o Estado Islâmico se apodera de Kobane (fruto da guerra civil síria, a estimativa do governo turco era de 1,5 milhão de refugiados sírios). A região está sendo defendida pelas milícias locais curdas, as Unidades de Proteção Popular (YPG), que não contam com a confiança do primeiro ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, que teme o fortalecimento dos militantes separatistas curdos do PKK dentro do país. A aberta repressão das autoridades turcas contra as tentativas dos refugiados de passarem a fronteira revela as distintas tensões nacionais que fragmentam os objetivos da coalizão internacional.

Não está claro como se dará a intervenção terrestre turca, mas a possível entrada de tropas de um país-membro da OTAN na Síria agravará as tensões políticas com os aliados do regime de Assad, principalmente Rússia e Irã, que se opõem à intervenção, além da situação interna de um regime altamente questionado pela repressão às questões democráticas. O primeiro ministro Recep Tayyip Erdogan, apesar de reeleito, se encontra com baixo nível de apoio depois da rebelião em Taksim em 2013.

A extensão da campanha contra o Estado Islâmico para a Síria marca um cenário totalmente novo nesta nova guerra imperialista. Entretanto, apesar das contradições, grande parte do comércio estrangeiro da Turquia, inclusive a importação de petróleo da rica região de Kirkuk-Bagdá, depende da região ocupada pelo Estado Islâmico, o que força o governo a cogitar cenários de intervenção terrestre.

Artigos relacionados: Internacional









  • Não há comentários para este artigo