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PSOL recebe dinheiro dos patrões para campanha eleitoral

18 Aug 2014   |   comentários

Nessas eleições, assim como em 2008, o PSOL recebeu financiamento de setores da patronal. O do Grupo Zaffari, quinta maior rede de supermercados do Brasil, já confirmou doação de mais de R$75.000,00 para sua campanha.

Chegam às eleições e nós trabalhadores somos bombardeados com promessas, imagens, discursos, enfim com a campanha dos candidatos dos diferentes partidos da burguesia, que na verdade mais parece uma propaganda enganosa.

Já estamos acostumados a cada eleição com as mesmas caras (e algumas poucas novas, mas com o mesmo discurso) que prometem “mundos e fundos”, dizem que com sua eleição tudo vai mudar e sabemos que quatro anos depois nada terá mudado e o mesmo candidato virá com a cara mais “deslavada” pedir nosso voto novamente. É esse o teatro da democracia dos ricos, que tenta fazer passar que escolhemos livremente, de forma democrática, nossos representantes para os diferentes cargos eletivos, quando na verdade sabemos que esse é um jogo em que os dados estão viciados e os ganhadores são sempre os adversários, os candidatos, os políticos, ligados ao interesse dos patrões.

Mas ainda grande parte de nossa classe, da juventude e demais setores oprimidos da população buscam uma alternativa nos partidos que se colocam à esquerda nas eleições, vendo neles uma válvula de escape para a podridão da política burguesa. Hoje a referência mais visível para os trabalhadores e a juventude, a população pobre em geral, que buscam uma opção por fora dos partidos mais diretamente ligados a patronal é o PSOL, partido que se apresenta como partido “ético”, que defende um capitalismo mais humano, preocupado com as questões sociais, tentando aparecer como diferente da “velha política” institucional.

No entanto, por trás de seu discurso de que seria uma alternativa à política tradicional, alguma forma de ruptura com as carcomidas instituições da democracia dos ricos, o PSOL nem de longe expressa uma efetiva alternativa às instituições políticas existentes; isso porque a corrupção, o estado de decomposição mesmo em que essas se encontram não são fruto de problemas puramente morais, de falta de ética política, da necessidade de renovação, etc, mas são partes fundamentais da democracia dos patrões, que não é construída de forma alguma para que a maioria da população, para que os trabalhadores e o povo pobre possam decidir de maneira livre quem os representará, mas para legitimar a exploração e a opressão exercida pelos burgueses sobre o restante da sociedade.

Uma efetiva alternativa a democracia dos ricos e dos patrões só pode ser construída através de uma política classista, independente, revolucionária dos trabalhadores, que busquem representar os interesses legítimos da juventude e dos demais setores oprimidos da população. Só com uma atuação que vise romper com as instituições políticas patronais e almeje construir uma efetiva democracia dos trabalhadores é possível construir uma nova forma de pensar-se e fazer política. Um dos elementos centrais para que se possa construir essa alternativa é manter total independência financeira e política em relação a qualquer setor ou grupo capitalista.

E isso é exatamente uma das coisas que a direção do PSOL não faz: manter sua independência financeira, que se reflete em independência política, em relação a qualquer setor da burguesia, inclusive em relação aos que se reivindicam “progressistas”. Buscando convencer uma parte dos trabalhadores e jovens que se colocam nas lutas de que existe um setor dos capitalistas que é ligado aos interesses das grandes empresas multinacionais, ao capital financeiro, etc, e um setor produtivo, nacional, que está interessado no desenvolvimento do país, esse partido apenas confunde os novos lutadores, não deixando claro que o conflito central em nossa sociedade não é entre diferentes setores burgueses, uns malvados e exploradores e outros éticos e progressistas, mas entre as classes fundamentais de nossa sociedade, a burguesia e a classe operária.

Nessas eleições, assim como em 2008, o PSOL recebeu financiamento de setores da patronal. O do Grupo Zaffari, quinta maior rede de supermercados do Brasil, já confirmou doação de mais de R$75.000,00 para sua campanha.

Esse é apenas um dos fatos que mostram que longe de ser uma alternativa para os trabalhadores para que esses se organizem em sua luta contra os patrões, ainda mais frente a crise que se avizinha e que tende a estourar de forma mais contundente após as eleições, o PSOL é um partido de conciliação de classes, que ao invés de ser elemento para maior coordenação e disciplina de nossa luta ele jogará um papel de freio, buscando não afrontar os interesses dos patrões em nome de nossos interesses de classe, mas tentando harmonizar os conflitos e construir uma aliança entre os trabalhadores e os “bons patrões preocupados com o emprego e o desenvolvimento nacional”.

Não só a aceitação de recursos de setores patronais mostra o quão distante está o PSOL de ser um partido que represente os interesses dos trabalhadores em sua luta contra os patrões e mesmo na luta mais imediata contra os efeitos da crise que se fazem cada vez mais presentes. A declaração de Luciana Genro de que está de luto pela morte de Eduardo Campos do PSB, político intimamente ligado com os interesses do agronegócio e dos latifundiários mais reacionários, fazendo coro com a mídia e os partidos capitalistas, a aceitação como candidata para essas eleições de Solange Pacheco, que mesmo frente ao assassinato em massa do povo palestino por parte de Israel defende o direito a auto-defesa do estado racista judeu, mostram o quão distante está essa organização dos interesses dos trabalhadores, da juventude, dos oprimidos, que buscam uma alternativa classista e revolucionária para a podridão da política burguesa.

O oportunismo do PSTU em sua frente eleitoral com o PSOL

No dia 9 de agosto o PSTU lançou nota como se fosse uma grande surpresa o fato de o PSOL ter aceito tal financiamento, dando conselhos para um partido que caracteriza como de esquerda socialista sobre a que levaria receber dinheiro de grupos capitalistas, à degeneração do partido, a compra de sua ideias, a perda de sua independência política fruto da não independência econômica frente à burguesia. Em sua nota lemos inclusive que “após todos os protestos de junho e as greves que sacudiram o país, logo quando os trabalhadores e a juventude, aos milhares, foram às ruas e ousaram lutar e vencer, o PSOL entra no vale tudo para eleger.” Como se só agora, só a partir dessas eleições, a direção do PSOL tomasse esse caminho de adaptação ao eleitoralismo e ao vale tudo para eleger seus candidatos.

Partido sem uma demarcada posição de classe, com um abstrato e superficial discurso "progressista", por um capitalismo mais humano, quando chega a tanto, fruto não de um processo de mobilização de massas e de lutas reais, mas de uma mesquinha ruptura parlamentar, o PSOL não é um partido de “esquerda socialista”, ainda menos um partido que representa o interesse dos trabalhadores, mas um partido predominantemente pequeno-burguês, reformista, de conciliação de classes. Se é correto que um setor importante de ativistas dos movimentos sociais e da juventude tem referencia nessa organização isso só mostra o quão mais crítica deveria ser a nossa relação com esse partido, desmascarando frente a um setor importante da vanguarda seu caráter conciliador.

Desde 2010 o PSTU vem soltando notas contra o PSOL por receber dinheiro da Gerdau, da Taurus, de empreiteiras, da Marcopolo e desta rede de supermercados, se "auto-afirmando" por não receber (o mínimo para um partido que se diz "revolucionário"), mas continua nas coligações com o PSOL por puro pragmatismo eleitoral - espera colher parte dos votos do PSOL para tentar eleger um candidato seu.

Os revolucionários devem atuar nas eleições burguesas, aproveitar esse momento de politização que a burguesia é obrigada a propiciar, fruto das contradições da forma democrática do exercício de sua ditadura de classe, mas tendo claro todos os riscos e perigos que encerra atuar numa trincheira que é eminentemente a trincheira do inimigo. Os revolucionários atuam nas eleições burguesas para agitar e propagandear um programa revolucionário, para apoiar e propagar as lutas em curso, para eleger representantes da classe operária, representantes que sejam efetivos tribunos do povo, que denunciem e desmascarem o cretinismo e a falsidade da política burguesa, que usem a tribuna parlamentar para apoiar e disseminar as lutas do proletariado, para que possamos construir uma efetiva alternativa operária. Isso só é possível se na construção de frentes e blocos eleitorais esses tenham um claro corte de classe, uma clara demarcação operária com independência financeira e política total em relação a qualquer setor da burguesia.

Se o PSTU agisse como um partido revolucionário primeiro não faria coligação com um partido que defende a conciliação de classes com setores burgueses nem governos capitalistas, isto é, um partido que não entrega os interesses dos trabalhadores e das massas, mesmo que este partido não recebesse dinheiro diretamente dos burgueses. [1] O PSTU critica corretamente as partes mais "escandalosas" do PSOL, como receber dinheiro de burgueses (para qualquer classista é um princípio não receber), mas faz vista grossa para o fato de o PSOL governar a prefeitura de Macapá em aliança com partidos burgueses como DEM e PPS, negando as reivindicações dos professores que em sua maioria votaram no prefeito se iludindo que seria uma "alternativa dos trabalhadores".

O PSTU deveria, como sempre dissemos, ter utilizado seu peso sindical na CSP-Conlutas e estudantil com a Anel e sua legalidade partidária para convocar ativistas, sindicatos e organizações de esquerda para construir uma verdadeira Frente de Esquerda e dos Trabalhadores pela independência política e material diante de todas as frações burguesas e governos capitalistas com o objetivo de coordenar e unificar uma vanguarda classista e revolucionária, abrindo sua legenda para os mais expressivos lutadores operários e sociais para uma agitação revolucionária contra a burguesia, o Estado burguês, a democracia dos ricos e pelos interesses da classe operária, da juventude e do povo pobre. Ao contrário, o PSTU negou a legenda para lutadores operários como Diana Assunção e Pablito (da USP), Marília Rocha (do metrô de SP) e tantos outros em todo o país que poderiam ser parte de uma verdadeira frente eleitoral classista - sem patrões, sem dinheiro dos patrões, sem aliança programática com setores da burguesia.

Se o PSTU fosse consequente com esses princípios revolucionários não faria uma frente eleitoral com um partido de conciliação de classes como o PSOL, muito menos os chamaria de “socialistas” e venderia a ilusão de que são “representantes dos trabalhadores”. Resta saber se mesmo depois de confirmado o recebimento de dinheiro da burguesia o PSTU seguirá mantendo as frentes eleitorais com esse partido e aceitar que seus votos tenham também essa “ajuda”.

Um exemplo de uma frente eleitoral classista na Argentina

O grande contraponto a adaptação expressa pela direção do PSTU em relação a frente de esquerda com o PSOL no Brasil é a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT na sigla em espanhol) na Argentina, impulsionada por partidos operários (PTS, PO, IS) e que mantém total independência financeira em relação a qualquer setor da burguesia, o que lhes permite ter um programa classista, combativo, revolucionário, para apresentar nas eleições, utilizando essa trincheira de luta como o que ela deve ser, espaço de propaganda e agitação de ideias revolucionárias, suporte efetivo as lutas que estejam em curso, eleição de candidatos que representem e expressem os interesses dos trabalhadores e dos oprimidos nos parlamentos, que sejam realmente tribunos do povo.

[1Leia artigo em que criticamos a frente oportunista que o PSTU realizou com o PSOL em Belém nas eleições de 2012: http://www.ler-qi.org/O-PSTU-para-eleger-um-parlamentar-abandona-os-ensinamentos-de-Trotsky

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