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Nacional

PSOL: Um partido coerente... em não aprender com a história

04 Oct 2014   |   comentários

O PSOL, com a candidatura da Luciana Genro tem aparecido para um setor da juventude e dos trabalhadores como uma referência de alternativa para se votar. Queremos discutir quais são os limites que impedem que o PSOL seja, de fato, uma alternativa contra a democracia dos ricos.

O PSOL, com a candidatura da Luciana Genro tem aparecido para um setor da juventude e dos trabalhadores como uma referência de alternativa para se votar. Queremos discutir quais são os limites que impedem que o PSOL seja, de fato, uma alternativa contra a democracia dos ricos.

A repetição dos mesmos erros

O caminho do PT para o lado dos patrões foi longo e tortuoso, e principalmente porque a sua imensa base operária oferecia uma grande resistência a essa trajetória de traições. O PSOL, por outro lado, sem repensar o caminho do PT, segue pelo mesmo caminho, mas com uma diferença nada pequena: não tem uma base operária de massas.

Assim, em poucos anos o PSOL já repete erros que o PT levou décadas para consolidar: já recebem dinheiro da burguesia para financiar suas campanhas; já fazem as alianças “necessárias” em nome da “governabilidade” ou da mera possibilidade de se eleger, como com o PSB de Marina no Amapá, ou com o apoio do PSDB à candidatura de Heloísa Helena em Alagoas; já mostram na única capital onde governam, o Macapá, que estão dispostos a seguir à risca as regras ditadas pelos ricos para manter o Estado governando em seu interesse, seguindo a Lei de Responsabilidade Fiscal, que garante a reserva de uma gorda fatia do orçamento para o pagamento de dívidas que não servem para nada mais do que encher os bolsos de ricos capitalistas.

Isso tudo acontece porque, longe de rever a estratégia do PT, o PSOL a repete passo a passo: quer aparecer como um partido “viável”; mas não viável para organizar as lutas da classe trabalhadora, e sim viável como administradores éticos e responsáveis desse Estado. É isso que explica, por exemplo, que sua militância tenha dado às costas para as principais greves e lutas, como a dos garis do RJ ou da USP e das universidades estaduais paulistas, priorizando a sua campanha para tentar eleger parlamentares.

Ter uma voz no parlamento – um terreno dos nossos inimigos – para defender os interesses dos trabalhadores e do povo pobre e fortalecer cada uma das lutas seria fundamental; a atual experiência da Frente de Esquerda na Argentina demonstra isso.

Mas é completamente distinta a forma como o PSOL pensa sua atuação no parlamento. Vejamos uma declaração recente de Luciana Genro em uma entrevista à Folha que expressa bem isso: “Em junho de 2013 toda a população brasileira presenciou como os políticos tremeram diante do povo nas ruas, mas nem é necessário mobilizações tão grandiosas. Basta lotar as galerias da Câmara que se consegue aprovar medidas que provavelmente não teriam nenhuma chance de serem aprovadas.” O PSOL quer ocupar paulatinamente os espaços do regime político, onde os trabalhadores e a juventude entram com a “ajuda” de fora, enchendo as Câmaras.

Muito esclarecedor! Nós lutamos para que a classe trabalhadora se organize em partido e consiga aumentar as manifestações, dando corpo às demandas de junho a partir das greves operárias que podem efetivamente parar a produção e, por essa via, dobrar os patrões e os governos, como fizeram os garis e os trabalhadores da USP. Luciana Genro, por outro lado, diz que não são necessárias manifestações tão grandes, mas sim manifestações na galeria da Câmara para pressionar os deputados a aprovarem leis melhores. É a ilusão de que, por dentro desse Estado que serve à burguesia, é possível obter as nossas demandas.

Ao invés de colocar os trabalhadores como protagonistas de sua própria luta, para que tomem a produção em suas mãos e lutem pela estatização da saúde, transporte e educação sob seu controle, Luciana Genro sugere que eles sejam uma animada plateia para as decisões dos políticos da burguesia. Que troquem as ruas pela plateia dos deputados.

É necessário destruir essas engrenagens, não basta trocar suas peças

Por isso que Luciana não dá saídas que cheguem à raiz dos problemas que o capitalismo nos oferece: porque apresenta saídas que considera “possíveis” dentro desse regime. Ao invés de suspender o pagamento da dívida pública aos especuladores, propõe fazer “uma auditoria”, como se alguma parte dessa dívida pudesse ser legítima. Propõe taxar em 5% as fortunas acima de R$ 50 milhões, como se fosse possível que os ricos sejam menos ricos sem que os trabalhadores e a juventude arranquem isso à força. Não consegue sequer responder à altura os ataques homofóbicos que Levy Fidelix solta em rede nacional bem diante de seu nariz, se limitando a defender o matrimônio igualitário.

É por isso que, por mais que às vezes Luciana Genro tenha um discurso sedutoramente de esquerda, quando comparada ao mar de lama da política burguesa, ela frequentemente mal consegue se diferenciar de candidatos burgueses como Eduardo Jorge. Não consegue aparecer como uma alternativa para canalizar a revolta da juventude e dos trabalhadores e está muito longe de ser “a voz de junho” que alega ser. É isso que explica não apenas seu fracasso eleitoral, mas a falência do projeto do PSOL. Chamamos todos aqueles que queiram mudar efetivamente essa sociedade pela raiz a lutar pela construção de um verdadeiro partido revolucionário que reúna os trabalhadores que têm protagonizado a maior onda de greves do país desde a década de 80 e à juventude que saiu às ruas em junho do ano passado com uma perspectiva de se aliar aos trabalhadores para vencer.

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