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ELEIÇÕES

Os trabalhadores e as eleições

19 Sep 2008   |   comentários

No próximo dia três de outubro milhões de trabalhadores (as) e jovens irão votar acreditando que com isso podem mudar as coisas para melhor. Os meios de comunicação e os partidos burgueses, com sua propaganda massificante, buscam o fortalecimento dessa ilusão.
De fato, os trabalhadores e o povo pobre não devem esperar nada dos partidos da burguesia como o PSDB, PMDB, DEM, etc., nem dos políticos patronais como Serra, Alckmim, Kassab, Maluf, Soninha e companhia, nem mesmo dos que falando em nome dos trabalhadores governam para os patrões, como Lula e Marta, PT e PCdoB.

O próprio processo eleitoral é uma enganação, um instrumento utilizado por esses e outros políticos, destes e de outros partidos patronais, para incutir nos trabalhadores essa ilusão de que podem conquistar melhores condições de vida e trabalho simplesmente votando.

A verdade, no entanto, é muito diferente. Nas últimas duas décadas os trabalhadores brasileiros têm ido às urnas de dois em dois anos para eleger prefeitos e vereadores, deputados, senadores, governadores e presidentes de todos esses partidos. Entretanto, suas condições de vida só pioraram.

Para saciar a ganância dos banqueiros e dos empresários, os governos impuseram políticas económicas que resultaram em aumento do desemprego, da fome e da falta de moradias, enquanto os salários diminuem. Os parlamentares aprovaram leis e reformas constitucionais que retiraram muitos dos nossos direitos e conquistas sociais, em troca de receber muita grana dos empresários. Juntos, todos os políticos e partidos da burguesia entregaram as estatais mais lucrativas aos banqueiros nacionais e internacionais através das privatizações.

O trabalhador empregado trabalha quatro meses por ano apenas para pagar impostos. Entretanto, a arrecadação dos impostos acaba desviada para pagamento das dívidas interna e externa e para financiar a corrupção e os privilégios dos próprios políticos.

Para dar continuidade à corrupção e manter os seus privilégios, para seguir com as reformas que estão acabando com o que resta dos direitos trabalhistas e das conquistas sociais da classe trabalhadora, os partidos da burguesia e os políticos patronais esperam contar, outra vez, com o voto dos próprios trabalhadores.

Por isso mesmo, se votarmos em qualquer candidato de qualquer partido patronal seremos vítimas do nosso próprio voto.

Os sindicatos combativos e os partidos operários deveriam cumprir a tarefa de discutir e debater o processo eleitoral com os trabalhadores mostrando a eles todas as armadilhas e artimanhas usadas pelos partidos e candidatos da burguesia a fim de enganá-los; esclarecendo os verdadeiros objetivos dos enganadores e ajudando a classe trabalhadora a encontrar uma forma de participar do processo eleitoral com uma política e um programa independente da burguesia; chamando os trabalhadores a se organizar para desenvolver a luta extra-parlamentar, e assim inverter as regras do jogo passando a usar o processo eleitoral burguês contra a própria burguesia.

Nestas eleições não há uma clara alternativa de independência de classe

Infelizmente, nessas eleições, os trabalhadores brasileiros não têm uma alternativa com um perfil classista, pois a maior parte dos sindicatos, especialmente os da CUT, Força Sindical e demais centrais aliadas dos governos e dos patrões estão ajudando a enganar os trabalhadores chamando-os a votar nos candidatos dos partidos patronais como PSDB, PDT, PMDB, PFL-DEM etc., e nos que se passaram para o lado dos patrões (PT e PcdoB).
No que se refere aos partidos de esquerda, o PSOL revelou seu caráter antioperário no primeiro teste a que foi submetido, votando junto com os partidos burgueses, o PT e o PcdoB, a lei do "Supersimples" que retirou os direitos trabalhistas de mais de 60% dos trabalhadores brasileiros. Nessas eleições, deu um passo definitivo na sua consolidação como partido de colaboração classes ao aceitar R$ 100 mil do Grupo Gerdau para financiar a campanha de Luciana Genro em Porto Alegre. Por isso, a vanguarda operária e popular não pode apoiar nem votar no PSOL.
Por sua vez, o PSTU e o PCO poderiam ter construido juntos uma verdadeira frente classista que tivesse como candidatos dirigentes reconhecidos pelos trabalhadores que usassem todo o seu tempo de rádio e televisão para denunciar a farsa que é essa democracia dos ricos, esclarecer aos trabalhadores de que suas necessidades mais básicas só podem ser asseguradas sob a égide de um governo operário e popular que jamais será conquistado através do voto ou qualquer outro instrumento da democracia dos ricos. E poderiam haver utilizado o cenário eleitoral para fazer uma forte agitação de um programa operário diante da crise internacional, e para denunciar o ataque racista contra os camponeses e operários bolivianos.
Finalmente, uma frente classista como essa poderia pedir o voto dos trabalhadores contra a burguesia, um voto que expressasse um avanço na consciência e na independência de classe dos trabalhadores. No I congresso da Conlutas nossa corrente lutou para que os sindicatos e o PSTU adotassem a política de construir uma frente classista para travar essa luta. Porém, o PSTU e o PSOL não permitiram que o congresso deliberasse sobre as eleições, para assim saírem livres: o primeiro, para reeditar a Frente de Esquerda das últimas eleições, com partidos que praticam a colaboração de classes (PSOL e PCB); o segundo, para fazer frentes eleitorais com partidos burgueses (como o PV).
Ainda assim, votar nos candidatos do PSTU é votar contra os candidatos dos partidos patronais. Por isso propomos a vanguarda operária, estudantil e popular que nessas eleições votem criticamente nos candidatos do PSTU.

Claudionor Brandão é diretor do Sindicato de Trabalhadores da USP (SINTUSP).

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