Quinta 18 de Abril de 2024

Nacional

DIANTE DA ESCALADA INFLACIONÁRIA DE ALIMENTOS

Os sindicatos devem preparar um verdadeiro plano para a luta de classes

24 Apr 2008   |   comentários

A inflação, para os marxistas, não se resume apenas às “leis económicas” de oferta e procura, pois refletem movimentos políticos ’ relações entre classes. Quando há baixa inflação ’ estabilização ’ significa que a classe capitalista impós uma relação de forças que superou o “conflito de classes” , podendo então reger a economia e a política contando com a passividade dos “de baixo” , reduzindo a luta operária a “negociações” controladas e definidas apenas pela “resistência” . Algo lembra a década passada e os últimos anos?

A inflação, assim como a estabilização, são duas medidas capitalistas ’ faces da mesma moeda ’ para garantir sua dominação e apropriação da riqueza nacional. A inflação que se apresenta hoje reflete o movimento de frações burguesas que se lançam na corrida por mais lucros, aproveitando ao máximo a demanda mundial por commodities e a elevação desses preços antes que a crise financeira mundial aberta nos EUA leve à recessão mundial esperada por todos, acabando com a “festa das commodities” .

O que a classe trabalhadora necessita, agora, é preparar-se para não permitir que essa disputa interburguesa lance as massas numa catástrofe social. Necessita entrar na arena da luta de classes, sair da passividade, tomar o seu lugar e responsabilidade social como classe capaz de dirigir as demais classes exploradas e oprimidas. Precisa, enfim, preparar uma luta nacional contra a “ordem social” ’ a propriedade privada e a dominação dos monopólios nacionais e imperialistas. Preparar um verdadeiro plano nacional unificado para enfrentar o aumento dos preços, recuperar o poder aquisitivo dos salários, exigindo aumento geral dos salários, reajuste automático dos salários mensal de acordo com os índices reais do custo de vida (e não a inflação mascarada), salário mínimo conforme com as necessidades reais (R$ 1.881,32, para março, pelos cálculos do Dieese), nenhuma demissão ou PDV, salários e direitos iguais para os terceirizados, reforma agrária radical e crédito barato para atender as demandas dos sem terras, mais verbas para saúde e educação, e não pagamento das dívidas interna e externa (outra fonte de apropriação capitalista da riqueza nacional) para que subsidie um plano nacional que assegure alimentação barata e de qualidade, um plano de obras públicas que resolva as necessidades de moradia, saneamento básico, infra-estrutura, creches, escolas, hospitais, lazer.

Os sindicatos da Conlutas e da Intersindical, o PSTU e a esquerda do PSOL, em primeiro lugar, devem assumir suas responsabilidades, realizando imediatamente em seus sindicatos reuniões e assembléias que discutam a carestia de vida e um plano para enfrentá-la, incorporando na preparação do I Congresso da Conlutas os reais interesses da classe trabalhadora e do povo pobre. Essas assembléias devem convocar uma Plenária Nacional Emergencial com delegados eleitos nas bases de todos os sindicatos para concretizar esse plano e exigir que as demais centrais sindicais e do MST que rompam com seu atrelamento ao governo e preparem esse plano unitário, denunciando o atrelamento dessas direções ao governo e sua política de conciliação com a burguesia e o latifúndio.

Sindicalismo de data base ou luta de classes anticapitalista

O movimento sindical atual continua preso a uma prática sindicalista, economicista, que se pauta por datas base, dias de luta e marchas pré-concebidas e pré-determinadas, no marco “antineoliberal” sem enfrentar o sistema capitalista de conjunto. Essa prática só pode estar a serviço de um programa de conciliação de classes como foi o do PT e hoje é o do PSOL, no qual, por exemplo, a demanda pelo salário mínimo do Dieese é substituída pela reivindicação de R$ 700,00 para chegar ao valor do Dieese em quatro anos.

Agora mesmo, diante da inflação de alimentos que é tema internacional diário, os sindicalistas desviam as atenções para qualquer questão e “aguardam” a data base para “iniciar” uma campanha, seguindo com seus “calendários” como se tudo fosse como antes. Assim atuam até mesmo os sindicatos da Conlutas (e da Intersindical), reféns da estrutura sindical vigente e desse “modo petista-cutista” de militar.

Lenin, em O que fazer?, denunciava que essa “luta dos operários de uma determinada profissão [categoria] com seus patrões” apenas servia para que a classe trabalhadora negociasse o preço ’ salário ’ um pouco maior para vender sua única “mercadoria” ’ força de trabalho. Mas esse “preço” seria desvalorizado em seguida, quando os patrões elevassem os preços dos produtos básicos, retomando o que haviam “negociado” antes.

Para Lenin, ao contrário desse sindicalismo oportunista a luta deve ser de toda a “classe operária, não apenas para obter condições vantajosas na venda da força de trabalho, mas, também, para a abolição da ordem social que obriga os não possuidores a se venderem aos ricos” . Isso porque os revolucionários atuam nos sindicatos para representar a classe operária, de conjunto, “em suas relações não apenas com um determinado grupo de empregadores [categoria], mas com todas as classes da sociedade contemporânea, com o Estado como força política organizada” , e “conseqüentemente, portanto, não podem limitar-se à luta económica” . Esses são os ensinamentos que precisamos retomar para revolucionar os sindicatos, transformando-os em verdadeiras organizações classistas ’ para a luta de classes anticapitalista.

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