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RIO DE JANEIRO

Os muros da burguesia e governo carioca novo cerco e repressão aos trabalhadores

25 Apr 2009   |   comentários

A burguesia e seus governos no Rio de Janeiro estão descarregando uma odiosa ofensiva contra os trabalhadores, particularmente os mais pobres que vivem em favelas, e a outros setores populares como camelós e moradores de ocupações urbanas e ruas. Esta nova ofensiva deve ser entendida como um profundo ataque ao conjunto dos trabalhadores, pois este fortalecimento do Estado, quando a crise económica ainda não tocou a região metropolitana com a mesma força que outras regiões é um importante ponto de apoio que a burguesia está construindo para conseguir impor uma situação mais repressiva contra os trabalhadores e o povo, se preparando para maiores e decisivos enfrentamentos.

Nos anos de crescimento económico no País, e com o boom do petróleo no Rio de Janeiro, a política privilegiada aos morros e favelas na capital era as ocupações, as repressões e assassinatos, e o caveirão. Agora com a crise iniciam uma nova ofensiva, materializada em novas ocupações policiais de favelas, repressão a camelós, moradores de rua e movimento popular, e construção de muros em favelas. É a preparação da burguesia carioca para maiores enfrentamentos em sua política conhecida pelo massacre no Complexo do Alemão, no morro da Providência e os freqüentes impedimentos com bala de realização de manifestações por estas comunidades, como recentemente na Maré (próxima a Cidade Universitária e Galeão).

Muros da repressão e especulação

Com o absurdo argumento de defesa do meio-ambiente a mesma burguesia que grita contra “os entraves” das licenças ambientais e fiscalizações do IBAMA e FEEMA (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente), quer murar favelas na Zona Sul (região nobre do Rio de Janeiro). Esta iniciativa repressiva do governador Sérgio Cabral (PMDB) que não foi contestada pelo governo Lula, e que havia sido anunciada pela prefeitura do também pemedebista, Eduardo Paes visa transformar as desigualdades sociais, o problema da moradia em problemas de ordem e ecologia urbana, coisificando a pobreza e as pessoas que moram nestas comunidades para mais facilmente reprimi-las.

Esta coisificação da pobreza combina-se com uma ofensiva repressiva com maiores e mais extensas ocupações policiais ’ com projeto piloto no Dona Marta (Botafogo) e Cidade de Deus (Jacarepaguá) que incluem toque de recolher, ocupação permanente, adicional de R$ 500,00 aos policiais (pago pela prefeitura) e algumas declarações e promessas de presença do Estado como uma suposta instalação de Internet Wi-fi gratuita e alguns serviços médicos como UPAs.

Estes muros visam controlar a população destes morros, e impedir o crescimento da população nestas comunidades, pois concomitantemente o prefeito decretou um projeto-piloto em três comunidades de São Conrado onde haverá uma proibição de construção maior do que três pavimentos. Em outras regiões, como na Ladeira dos Tabajaras (Copabacana) o mesmo governo está derrubando construções “ilegais” . Esta ofensiva repressiva não é de se estranhar uma vez que o mesmo governador, mentor político do prefeito e que ergue os muros declarou que as mulheres da Rocinha eram “fábricas de produzir marginais” .
Por fim um objetivo que não é dos menos importantes nos muros é garantir a exclusividade da Zona Sul para a burguesia carioca, oferecer uma cidade maravilhosa sem favelados aos turistas e à especulação imobiliária. A lista de comunidades a serem muradas é: Dona Marta (Botafogo), Rocinha (Gávea/São Conrado), Benjamin Constant (Urca); Parque da Cidade (Gávea); Morro dos Cabritos e Ladeira dos Tabajaras (Copacabana); Morro da Babilónia e Chapéu Mangueira (Leme); Cantagalo (Ipanema), Pavão-Pavãozinho (Ipanema) e Vidigal (Leblon).

“A remoção de favelas não pode ser tabu”

Esta frase de Eduardo Paes estampada na capa do Globo de 12/4 mostra como a depender de setores da burguesia o que está em jogo é muito mais que muros. O prefeito e o vice-governador Pezão têm dado inúmeras entrevistas ao Globo mostrando-se abertos a remover favelas. Este jornal arqui-apoiador da ditadura militar e do assassinato de sem-terras tem dedicado várias páginas por dia a entrevistar supostos técnicos que defendem esta medida, e ainda tem defendido o “aporte paisagístico” que foi feito na cidade nos anos 60, com a remoção das favelas da Lagoa Rodrigo de Freitas (região muito valorizada também na Zona Sul). O velho argumento higienista e racista ganha contornos “ecológicos” e “paisagísticos” .

Por uma ampla campanha contra a repressão ao povo

A ofensiva que está sendo descarregada tem muitas facetas, passando pelo Choque de Ordem e sua repressão aos movimentos de moradia, popular e camelós, as ocupações e agora aos muros e remoções de favelas. É preciso conectar todos estes pontos que aparecem de forma isolada e mostrar claramente aos trabalhadores e ao povo o que está sendo implementado, e a maior ofensiva que está sendo planejada e defendida ideologicamente. É dever de toda organização de direitos humanos, movimentos populares, e organizações classistas, repudiar e se opor a toda ocupação policial e toda repressão promovida pelo Estado contra os trabalhadores e o povo, seja com seus muros ou com suas expulsões e apreensões de moradias e comércio “fora de ordem” . O direito democrático à moradia, não será garantido através de muros e ocupações mas sim através de uma reforma urbana radical partindo da organização independente de sindicatos e organizações operárias junto a comunidades e grupos de moradia. Esta mobilização deveria levantar como programa a ocupação de imóveis vazios e abandonados e expropriação de casas e apartamentos de especuladores, fim dos aluguéis, bem como defender um verdadeiro plano de obras públicas controlado pelos trabalhadores.


Marcelo Freixo (PSOL) defende as “novas” ocupações policiais

O deputado estadual do PSOL, símbolo para sua militância de um parlamentar ligado aos movimentos sociais tem se destacado pela defesa dos projetos repressivos alternativos praticados pelo Estado. Suas denúncias das milícias e defesa do Estado e reforma da polícia e outras instituições agora foram substituídas por sua defesa das ocupações policiais tal como são hoje. Em seu penúltimo boletim eletrónico (n.105) Freixo defendeu que a prefeitura de Niterói fizesse o mesmo que a do Rio e pagasse um adicional aos policiais da ocupação do morro do Cavalão como o que é pago no Dona Marta em Botafogo. Ou seja, ele defende este “novo” modelo de ocupações de Paes, Cabral e Lula. Este mesmo projeto impõe toques de recolher para “pacificar” estas comunidades e uma série de restrições à organização e movimentação dos moradores e agora também incluirá o odioso muro. A depender da atuação de Freixo o PSOL mostra à burguesia carioca que “sua nova cara contra a velha política” não tem nenhuma objeção à velha polícia e seus assassinatos e repressão.

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