Quarta 24 de Abril de 2024

Nacional

Os estudantes da USP têm que vencer!

10 Nov 2011   |   comentários

Por Bruno Gilga, estudante das Ciências Sociais da USP e militante da Juventude Às Ruas, e Diana Assunção, diretora do Sintusp, dirigente da LER-QI e uma dos 73 lutadores presos na USP

No dia 08/11 o campus da USP amanheceu completamente militarizada. Foram mais de 400 efetivos da PM, entre vários setores de suas forças especiais de enfrentamento da tropa de choque, a cavalaria, dezenas e dezenas de carros por todos os lados, helicópteros, etc. O prédio da reitoria e o prédio da moradia dos estudantes foram cercados. Policiais montaram a guarda em várias faculdades. Muitos dizem que desde a ditadura militar nunca houve uma militarização de tal envergadura na USP, inclusive em 2009, quando uma greve dos trabalhadores provocou uma brutal repressão.

O operativo foi montando para terminar com a ocupação da reitoria que era protagonizada pelos estudantes desde o dia 01/11. Os estudantes foram presos quando ainda era noite, às 5 horas da manhã, enquanto dormiam. Depois de passar horas dentro da reitoria, sofrendo terrorismo psicológico e agressões físicas, foram levados à delegacia, na qual ficaram detidos até às 2 horas da manhã do dia seguinte. Foram 73 presos políticos, entre os quais se encontravam quatro trabalhadores da USP, que estavam na reitoria apoiando o movimento dos estudantes. Até agora, estão todos processados por depredação de patrimônio público e desobediência civil.

Os estudantes tinham a reitoria ocupada em protesto a presença da Polícia Militar na universidade, que no dia 27/10 já havia reprimido fortemente a centenas de estudantes que decidiram se enfrentar com a PM para impedir a prisão de três estudantes que fumavam um cigarro de maconha.

Apesar de toda a propaganda reacionária que vem sendo feita pelos meios burgueses, que tratam o movimento como uma minoria isolada e com objetivos mesquinhos, a grande resposta deflagrada pelos estudantes e a alta moral dos presos políticos trataram de demonstrar o contrário. Desde a manhã do dia da repressão, os cursos de Letras, Geografia, História, Arquitetura e Artes pararam total ou parcialmente e foram concentrar-se em frente à reitoria para repudiar a ação da PM.

Depois marcharam até a delegacia em centenas e estabeleceram um ato permanente até que os presos fossem libertados. A noite, dois mil e quinhentos estudantes realizaram uma assembleia que aprovou greve geral estudantil pela retirada da PM da universidade, pela liberdade e a anulação dos processos dos presos políticos, além do fim de todos os processos administrativos e judiciais com os quais os estudantes e trabalhadores de vanguarda tem sido perseguidos nos últimos anos, como parte de uma escalada repressiva que busca quebrar a resistência ao projeto de fazer uma USP ainda mais elitista e racista do que é hoje.

A luta dos estudantes da USP abriu um debate nacional sobre a polícia e o papel da universidade. Os principais meios burgueses, a reitoria e o governo do estado e a intelectualidade tucana, ao qual o mando da USP é subordinado, buscam transformar este conflito em um exemplo de disciplinamento de toda forma de luta na universidade, buscando inclusive fortalecer sua relação com a base social mais de direita que sempre votou neste partido. Os setores mais democráticos e reformistas ligados ao espectro petista, apesar de defender a atuação da polícia na universidade para efeito de “segurança pública” contra crimes, se coloca contra o usa da mesma para a repressão política e social dos estudantes. E uma intelectualidade mais de esquerda, com um sentimento republicano mais consequente, se sente fortalecida pela luta dos estudantes da USP para questionar a naturalização da repressão policial sistemática como um “mal necessário” frente a violência urbana gerada pela monstruosa pobreza crônica do país, dos milhões que vivem nas favelas, que vivem do trabalho precário, que morrem nas filas de hospitais, que não tem acesso a educação, que perdem suas casas e familiares levados pela chuva todos os anos, que são vítimas da “bala perdida” da PM contra pobres e negros.

Essa intelectualidade volta a ter coragem de colocar a violência urbana como um problema de raízes sociais, que só pode ser resolvido com emprego, moradia, educação e saúde digna para todos. Ela volta a discutir a autonomia universitária não como uma questão administrativa e sim como um problema político, ligado a grandes processos nacionais de luta de classes, de direito das universidades ou parte delas se constituírem como pólos questionadores de valores mais profundos que tem determinados momentos históricos.

A luta dos estudantes da USP contra a polícia tem este conteúdo: ainda que não tão consciente, questiona um dos pilares fundamentais de um projeto de país baseado numa monstruosa desigualdade social estrutural, que é a naturalização da política como mecanismo de controle permanente das tensões sociais. Para que seja triunfante, os estudantes em greve precisam desenvolver esta consciência para massificar sua luta entre os estudantes, conquistar fortes aliados e estender seu apoio na população. A campanha pela anulação dos processos dos 73 presos políticos da USP deve se transformar numa grande luta nacional, que sirva de referencia a todos os trabalhadores e jovens que são perseguidos e reprimidos por lutar. A luta pela retirada da polícia da USP e a anulação dos processos dos lutadores deve se ligar a luta pelo fim da violência policial nas favelas, por encarar a solução da violência urbana como um problema de raízes sociais, por colocar a necessidade de que os filhos da classe trabalhadora e o povo pobre tenham ingresso livre e direto na universidade e para que o conhecimento nela produzido esteja à serviço dos interesses da maioria explorada e oprimida da população. Esta deve ser a perspectiva do comando de delegados revogáveis eleitos nas assembleias de base das faculdades, tal como aprovado na assembleia geral que deflagrou a greve.

Para que esta perspectiva se concretize, será necessário combater a estratégia política do PSOL e o PSTU, que desde o início do conflito tem se oposto a seu desenvolvimento tanto porque seus partidos defendem nacionalmente o programa da reforma da policía como pelo pragmatismo, num momento de eleições estudantis, de não querer se enfrentar com o sentimento comum de amplos setores de estudantes que querem a polícia desde que se imponha limite a sua ação.

A LER-QI, que teve 13 militantes entre os 73 presos políticos, tem buscado aportar neste sentido, tanto a partir da atuação de nossos militantes da Juventude às Ruas! no movimento estudantil da USP, como a partir de nossa atuação no Sindicato dos Trabalhadores da USP (SINTUSP). Temos destinado todos os nossos esforços a cercar esta luta de solidariedade, chegando a deflagrar greves estudantis de apoio em outras universidades do interior de São Paulo, chegando caravanas de estudantes para estar lado a lado com os estudantes da USP em luta.

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