Sexta 19 de Abril de 2024

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A REITORIA DA USP ASSUME QUE É A VOZ DA DITADURA

Organizar um grande movimento para enfrentar a Reitoria da USP

03 Apr 2012   |   comentários

Em meio à antecipada disputa eleitoral pela prefeitura da cidade de São Paulo, com as candidaturas de Fernando Haddad pelo PT e de José Serra pelo PSDB com o apoio do PSD de Kassab, a movimentação política na Universidade de São Paulo permanece intensa. Se por um lado não há uma mobilização ativa, por outro o impacto que tiveram as lutas estudantis e ataques da Reitoria levaram à formação de uma importante vanguarda, que se expressa no quórum histórico das eleições estudantis. É neste cenário que está colocado o desafio para trabalhadores, estudantes e professores organizarem um grande movimento de massas na universidade.

A Reitoria da USP assume que é a voz da ditadura

Nem bem havia sumido dos jornais a imagem grotesca de um policial apontando a arma para um estudante negro, a Reitoria volta a se colocar na ofensiva, desta vez assumindo decididamente o lado dos assassinos e torturadores da ditadura. Diante da movimentação de professores, intelectuais e familiares de mortos e desaparecidos que protestavam contra a construção de um monumento em homenagem às vítimas da “Revolução de 1964”, a Reitoria utilizou seu boletim institucional para dizer que estes que assinavam tal manifesto são “autointitulados perseguidos pelo regime militar, parentes de companheiros assassinados… e defensores dos princípios por eles almejados”.

Não é de se estranhar que Rodas, o responsável pela absolvição do Estado no caso dos assassinatos de Zuzu Angel e de Edson Luís considere que os familiares de ambos, que assinam o manifesto, na verdade não são perseguidos da ditadura militar. A publicação desta nota é a maior expressão de que a ditadura vive na USP. Por isso queremos lutar contra a repressão de ontem e hoje. Exigimos a retirada de todos os processos, o fim das perseguições, a incorporação imediata de Claudionor Brandão e dos estudantes expulsos, a anistia dos presos políticos e o fim das ameaças à diretoria da Adusp. Ao mesmo tempo, exigimos julgamento e punição de todos os torturadores e assassinos da ditadura.

Salto de qualidade na quebra da autonomia universitária

Não bastasse tudo isso, a Reitoria abertamente decidiu incluir entre o quadro administrativo da USP três coronéis da Polícia Militar. Com a tentativa de passar este ataque como algo “necessário” ou então argumentando que o coronel Luiz Castro Junior é ligado aos direitos humanos, o Reitor não apenas segue sustentando a presença da Polícia Militar na universidade, como quer fazê-la parte da comunidade universitária.

Este ato representa um salto de qualidade na quebra da autonomia universitária. Se desde o ano passado já se havia construído um enorme movimento pela retirada da PM da USP, agora se coloca a necessidade urgente de retomar este movimento, principalmente pelo questionamento da estrutura de poder que hoje é tão anti-democrática que permite que um Reitor dirija a universidade conforme seus interesses. A este escandaloso fato se somam a política de espionagem, conforme denunciado pela Revista Fórum, através de uma chamada “Sala de Crise” chefiada por Ronaldo Penna, policial que coordena as empresas terceirizadas de vigilância da USP. O que está colocado agora é a institucionalização desta “Sala de Crise” através de 3 coronéis da PM que trabalharão na USP para garantir a “segurança” – que para a Reitoria significa perseguição, espionagem e repressão.

Esta política está em consonância com o governo do Estado, dirigido pelo PSDB, que tanto apóia as medidas repressivas na USP e que já aponta como favorito para assumir o comando-geral da Polícia Militar de São Paulo ninguém menos que César Franco Morelli, quem hoje está a frente da Tropa de Choque, e que liderou a reintegração de posse na USP, tendo seu efetivo também atuado na Cracolândia e no Pinheirinho. Sendo assim, a luta pelo Fora PM da USP deve se reatualizar exigindo a saída dos 3 coronéis da Polícia Militar, a dissolução imediata do Conselho Universitário e a imposição, através da mobilização, de uma estatuinte livre e soberana, aberta a todos os setores da universidade, incluindo os terceirizados, para discutir os rumos da universidade que consideramos que deve ser dirigida por um “governo tripartite”, representando os 3 setores maioria estudantil, o que significa propor que a maioria dos que constroem a universidade, que são os estudantes, sejam também maioria neste “governo” democraticamente.

A necessidade da defesa incondicional dos moradores da São Remo

É neste cenário também que a Reitoria, com a mesma “desculpa” da segurança, começa a dar início a um projeto de “reurbanização” da favela da São Remo, ao lado da USP, que na verdade é um projeto de higienização e expulsão dos moradores, pois a Reitoria busca convencer a classe média de que o perigo na USP vem da São Remo. Este discurso elitista ganha força com as denúncias que relacionam o tráfico de drogas com a PM da USP, que buscam também criminalizar a São Remo, e não apenas denunciar as relações espúrias que a PM mantém, não somente na USP, em primeiro lugar com os ladrões de colarinho branco que são grandes empresários e políticos burgueses, mas também com o tráfico de drogas.

A partir do Sindicato de Trabalhadores da USP, cuja Diretoria compomos como minoria, viemos tendo a política de nos aliarmos aos moradores da São Remo, para que a luta contra qualquer política de despejo seja tomada pelo conjunto dos trabalhadores, estudantes e professores, uma vez que uma grande maioria dos moradores da São Remo são trabalhadores terceirizados da USP, inclusive muitos que participaram de importantes lutas, como a da Dima em 2005, e da União e BKM em 2011, colocando em evidência o grave problema do trabalho semi-escravo dentro de uma universidade considerada de grande “reputação” internacional.

Esta aliança pode ser explosiva contra a Reitoria, porque devemos não somente defender a São Remo da política de higienização, contribuindo para auto-organização dos moradores, como devemos lutar para que as crianças e jovens desta comunidade possam entrar na universidade, impondo o fim do vestibular, e para que todos os terceirizados sejam efetivados sem concurso público. E que seja levada adiante um plano de obras públicas para garantir infra-estrutura e condições de moradia na São Remo, sob controle dos moradores e trabalhadores, com participação ativa de professores e estudantes da USP, por exemplo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

O movimento democrático e a política dos revolucionários

No “Manifesto Pela Democratização da USP”, que denuncia a política de perseguição e espionagem relacionando-a com a ditadura militar, centenas de professores, intelectuais e familiares de vítimas da ditadura exigem a instauração de uma estatuinte livre e soberana e o fim das perseguições, e nós, a partir do Sintusp, incorporamos este chamado para construir a mais ampla frente-única democrática.

Como revolucionários, entretanto, é necessário, sempre que se participa de uma frente-única ampla, reconhecer os limites e clarificar nosso próprio programa. Há, obviamente, estratégias distintas entre as centenas de pessoas que assinam este manifesto, que tendem a se aprofundar conforme o acirramento da disputa entre PT e PSDB aumentar por conta das eleições – não esqueçamos que Rodas é representante de José Serra na USP, e que a intelectualidade petista está à frente deste manifesto. Sendo assim, se por um lado consideramos progressista a frente-única, pois tem a capacidade de influenciar um setor de massas mais amplo do que a vanguarda já convencida da necessidade de lutar contra os ataques repressivos da Reitoria ligando isso à luta por justiça contra os defensores da ditadura; por outro lado não temos ilusões de que aqueles que representam a política do governo Dilma e do PT estariam preocupadas de fato em democratizar radicalmente a USP ou questionar o pacto que constituiu a Lei da Anistia.

Sendo assim, apesar das estratégias distintas, atuar nesta frente-única é fundamental para começar a construir um movimento de massas dentro da universidade, fazendo ecoar a luta da USP como uma luta que reverbera importantes problemas nacionais. É por isso que, a partir do Sintusp, defendemos levar adiante a política da Comissão da Verdade na USP defendendo que a mesma mantenha sua independência e autonomia perante a estrutura da universidade. Nesse marco, atuamos como parte dessa frente-única para impulsionar uma mobilização independente que possa impor, pelos métodos da luta de classes, o fim da impunidade dos torturadores, a democratização radical da universidade e a defesa dos moradores da São Remo.

Construir um movimento de massas na universidade para enfrentar a Reitoria!

Enquanto a Reitoria comemora sua localização nos rankings internacionais, que nas palavras do próprio diretor do THE (Times Higher Education) está relacionada com o momento econômico pelo qual passa o país, a crise capitalista internacional continua avançando e causando impactos principalmente na Europa, mas que colocam como perspectiva seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Diante deste cenário internacional, e da conjuntura que vive-se hoje na USP, os trabalhadores, estudantes e funcionários precisam se preparar construindo um grande movimento político de massas para enfrentar a Reitoria. Nós da LER-QI buscamos atuar neste sentido a partir das eleições estudantis como maioria da chapa “27 de Outubro”, e seguiremos atuando em toda a frente-única democrática levando o programa dos revolucionários que é o único que pode responder os problemas mais profundos da sociedade que também se expressam nas universidades.

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