Sexta 19 de Abril de 2024

Internacional

Onde está o NPA?

17 Sep 2014   |   comentários

O texto abaixo, retoma na forma de um resumo da introdução e conclusão de Daniela Cobet para a CCR em meio ao debate organizado pelo Comitê Executivo do NPA quando de sua universidade de verão de 2014 (acampamento de verão)

O texto abaixo retoma na forma de um resumo da introdução e conclusão de Daniela Cobet para a CCR em meio ao debate organizado pelo Comitê Executivo do NPA quando de sua universidade de verão de 2014 (acampamento de verão).

Para responder a questão colocada no título deste debate é preciso voltar inevitavelmente para a crise que atravessa o NPA há vários anos. Os sucessos parciais que nós tivemos nos últimos meses não resolveram a crise, mesmo se nós pudermos tirar uma conclusão: o NPA se saiu melhor pois foi capaz de se delimitar da Frente de Esquerda (Front de Gauche). Primeiramente na Bretanha, o NPA, em torno da política de um polo operário no seio das manifestações chamadas pelos “gorros vermelhos”, em seguida, durante a greve dos ferroviários, na qual defendeu uma política radicalmente oposta às emendas Chassaigne, e, ainda sobre a Palestina, em que foi a única organização política a convocar manifestações proibidas pela Prefeitura.

Uma volta à fundação do NPA

As razões desta crise remontam à fundação do NPA. Esta respondia a um problema real, ou seja, de saber como organizar politicamente os milhares de trabalhadores, trabalhadoras e jovens que viam com muita simpatia a LCR e, particularmente, Olivier Besancenot, e que, para uma parte, havia participado de uma série de mobilizações no contexto do ciclo aberto em 1995. Seria justo questionarmos isto e refletirmos a forma para a extrema esquerda ultrapassar as forças de que até então ela dispunha. A aposta deveria ter sido então, nada menos do que começar com todos esses novos militantes as discussões e a prática comum que tornou possível convencê-los do projeto revolucionário.

Mas, ao invés disso, as sucessivas alas majoritárias fizeram a escolha de se esquivar dos debates estratégicos, congresso após congresso, tornando-os verdadeiros tabus. Acusaram as tendências e correntes que tentavam defender suas posições de “desagradar os militantes”. Os militantes não são hostis aos debates de ideias, como mostra esta sala lotada. O problema é que comumente os militantes têm o mal hábito de cercarem as divergências, que poderiam estar na origem das tensões tão importantes para o partido, deixando-as restritas à direção. Pois, para que não se discutam as questões estratégicas, nossos debates foram fracionados em questões de aparência tática, debates sobre as prioridades e sobre os problemas de funcionamento, sem coerência global. Sendo a tática nada mais que uma manifestação da estratégia num momento e num lugar específico, as prioridades ou o tipo de militância dependem de para qual perspectiva estratégica nos preparamos: ou a perspectiva estratégica de uma insurreição, ou apenas a perspectiva de um “governo de ruptura” ligeiramente apoiado por mobilizações.

Esta ausência de delimitações estratégicas cobrou um preço muito caro, notadamente a partir da criação da Frente de Esquerda. Pois, frente a um desejo, em parte legítimo, de grandes camadas de trabalhadores e jovens de uma “unidade da esquerda”, teria sido necessário dar razões sérias para manter sua independência, e o NPA não foi capaz disso. O NPA apareceu então como sectário e, necessariamente, cada vez menos útil. Como dizia um dirigente trotskista latino-americano, quando o mesmo filme é projetado em uma grande sala e numa pequena, as pessoas escolhem assistir na sala grande. Contrariamente às promessas por parte da ala majoritária, segundo as quais nossa aproximação com os reformistas serviria para lhes “fragilizar”, é em verdade eles que nos tornam “frágeis”.

Procurar respostas na luta de classes

É nesse sentido que a ala majoritária do NPA tenta agora fazer cristalizar nossos debates como uma divisão entre aqueles que gostariam de construir um grande ou pequeno partido, o que é tão mais falso quanto ela mesma que, com sua política “ampla”, é a principal responsável de que nosso partido tenha se tornado cada vez menor. Mas também experiências como as da FIT (Frente de Esquerda e dos Trabalhadores) na Argentina mostram que é possível ter boa votação nas eleições e ter grande repercussão sem abandonar os eixos centrais de nosso programa e de nossa estratégia, e de tentar transformá-los em força militante revolucionária, pois a questão não é apenas ter votos, mas saber o que estamos fazendo.

Os camaradas que se reconhecem na sensibilidade da Contracorrente [1] tentam evitar o debate sobre o tipo de partido que nós queremos construir pela fórmula-pirueta “partido revolucionário de massas”. De modo muito contraditório, trata-se dos mesmos camaradas que tecem um quadro tão sombrio sobre a situação política, a degradação da correlação de forças e o baixo nível da consciência de classe das massas. Como podemos então, colocar-nos a questão de construir um partido de revolucionário de massas numa situação que não é revolucionária e na qual as massas são ainda menos?

Será que isso quer dizer que uma crise do capitalismo que beneficie não os anticapitalistas mas sim a extrema-direita é uma fatalidade? Nós não pensamos assim! Pois, contrariamente ao que afirmavam alguns, desde a criação do NPA houve enormes oportunidades no seio da luta de classes, ao redor de dezenas e dezenas de duras greves contra os fechamentos de fábricas, a luta contra a reforma das aposentadorias até a greve recente dos ferroviários. Se nosso partido tivesse capacidade de convergir e de se tornar uma alternativa nestas lutas para os milhares de trabalhadores e trabalhadoras da vanguarda, se tivesse adotado um perfil de luta de classe e revolucionário, radicalmente diferente daquele da esquerda institucional grandemente desacreditada, teríamos, talvez, tido condições de ter dado passos em direção à construção de um verdadeiro partido de vanguarda, quantitativa e qualitativamente superior ao NPA, capaz de oferecer a grandes parcelas de nossa classe uma perspectiva oposta àquela da FN (Frente Nacional) diante da ruína dos principais partidos do regime.

Em direção ao congresso: três posições parecem se desenhar.

É, portanto, dentro do contexto deste fracasso e de uma crise profunda e prolongada do NPA que ocorrerão os debates do próximo Congresso. Além das tendências previamente existentes, três grandes posições parecem se desenhar:

A primeira delas consiste em reafirmar cegamente os eixos de orientação que foram obtidos por uma (pequena) ala majoritária durante o Congresso anterior, a saber, a ideia de uma “oposição de esquerda ao governo” ligada à perspectiva estratégica de um “governo antiausteridade”; se nós já criticamos duramente, há dois anos, estas fórmulas extremamente ambíguas, o desenvolvimento da situação política as torna ainda mais graves. Pois o fato de continuarem afirmando essa fórmula, no contexto de uma grande disputa da “esquerda” indo até a EE-LV (Partido Europa Ecológica-Os Verdes) e os descontentes do PS (Partido Socialista) visando as próximas eleições para saber quem hegemonizará o espaço deixado pela política cada vez mais liberal do governo Hollande, coloca o NPA, queiramos ou não, no mesmo campo que todos estes políticos institucionais amplamente rejeitados pelas classes populares e em torno do projeto político de uma esquerda plural renovada. A seqüência de tal orientação será o aprofundamento da crise do partido, diluindo-o politicamente neste ambiente frente-populista.

Frente a isso, uma parte da maioria se orientou em direção à idéia de um tipo de “reforma” no NPA; o que deriva desta orientação seria enquadrar o partido novamente em torno de uma espécie de volta idílica ao “NPA das origens”, mas sem colocar os debates estratégicos indispensáveis e por muito tempo evitados. Se trata de uma fuga para frente que em nenhum caso poderá tirar de forma duradoura o partido de sua crise.

A terceira posição, a que nós defendemos, consiste em se enfrentar com os debates de forma aberta, propondo destacar três questões fundamentais em sua conexão interna:

 A perspectiva estratégica da tomada do poder pela via insurrecional, por meio da destruição do Estado burguês, o que determina o caráter abertamente revolucionário de nosso partido.

 A afirmação da centralidade da classe trabalhadora, não num sentido mistificado e exclusivista como pode entender a LO [2] , mas sim, como sujeito hegemônico capaz de articular ao redor de si os combates do conjunto dos explorados e dos oprimidos.

 A questão que decorre disso é a de um partido para a luta de classes, um partido de combate, de militantes convencidos e felizes por consagrar a maior parte de seu tempo e de sua energia para a tarefa apaixonante de preparar a destruição do sistema capitalista e deste mundo de exploração e de miséria.

Alguns chamam nossa atenção hoje para a “responsabilidade” e nos acusam de apenas querermos construir nossas próprias minorias sem procurar ganharmos a maioria do partido. Vamos tranqüilizá-los (ou não): nós procuraremos reagrupar, para além das fronteiras de nossas correntes e tendências atuais, todos os camaradas que compartilhem desta perspectiva e que desejam desenvolver uma prática militante coerente com ela, para nos tornarmos majoritários e contribuir enfim para uma resposta de fundo para a crise do partido. As discussões já iniciadas em particular entre a CCR e a corrente Anticapitalismo e Revolução visando uma plataforma comum para o Congresso são um passo neste sentido. É, para nós, a única atitude verdadeiramente responsável.

[1Ala conservadora da agrupação “Anticapitalismo e Revolução”, antiga Plataforma Y do NPA, do Secretariado Unificado.

[2“Lutte Ouvrière” (Luta Operária), corrente política do centrismo trotskista francês.

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