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Ofensiva sionista e crise com os Estados Unidos

19 Mar 2010   |   comentários

O governo de Benjamín Netanyahu lançou uma nova ofensiva contra o povo palestino, aprovando a construção de 1.600 moradias em Jerusalém oriental para instalar novos colonos judeus. A iniciativa significa a anexação formal de uma zona historicamente árabe que as tropas sionistas ocuparam a sangue e fogo em junho de 1967, quando depois da Guerra dos Seis Dias, ocuparam a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, arrebatando do Egito e da Síria, o Deserto de Sinai e os Altos de Golan, respectivamente.

No entanto, a decisão gerou a pior crise diplomática com os Estados Unidos em 35 anos, pois foi anunciada no mesmo dia que desembarcou o vice-presidente Joe Biden com o objetivo de reativar as desanimadas negociações de paz desde a conferência de Anápolis, no fim de 2007. O “deslize” obrigou o enviado de Obama para o Oriente Médio, George Mitchell, a postergar sua viagem e dividiu a comunidade judaica norte-americana, a tal ponto que o poderoso lobby sionista AIPAC condenou a reação do governo norte-americano como “uma distração para não lidar com o programa nuclear do Irã” (Clarín, 16/3). Mesmo assim, o partido trabalhista ameaçou abandonar a coalizão de governo presidida por Likud, no entanto, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, rechaçou essas condições para voltar à mesa de negociações, apesar de sua política colaboracionista avaliando o assédio a Gaza.

O assessor de Obama, David Axelrod sustentou que o anúncio foi um “insulto”, enquanto a secretária de Estado Hillary Clinton dizia que o erro de Netanyahu “põe em risco os interesses norte-americanos em todo o Oriente Médio”, já que o governo israelense devia demonstrar “seu compromisso com a aliança com os Estados Unidos”, dado que “esta é a chave para a segurança de Israel em uma região hostil” (Clarín, 14/03). De todo modo, tanto Axelrod quanto Clinton afirmaram que “Israel é um aliado especial e forte” e seus laços com os EUA são “duradouros e firmes”, certificando assim o caráter dessa aliança estratégica (Página12, 15/03).

Evidentemente, a reação norte-americana não responde a nenhum interesse altruísta sobre o povo palestino, mas à sua crise de hegemonia no Oriente Médio (com frentes abertas no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão), produto do unilateralismo impulsionado por Bush, que paradoxalmente acabou beneficiando o Irã como potência emergente.

Assim, Netanyahu se viu obrigado a pedir desculpas pelo “importuno do pronunciamento” mas ratificou a aprovação do projeto, assegurando que a construção de novas moradias para colonos “levarão, provavelmente, vários anos”, enquanto o secretário de Gabinete Tzvi Hauser declarou que “a ampliação das colônias em Jerusalém oriental continuará em função das necessidades” (Israel se desculpa pelo incomodo do pronunciamento em plena visita de Bide, www.rebelion.org, 12/3). Como apontaram os dirigentes do Likud, faz 42 anos que o Estado de Israel promove a construção de moradias para colonos judeus em Jerusalém oriental com o financiamento dos EUA. Ao mesmo tempo, Lula se reuniu com o presidente israelense Shimón Peres com a intenção de colaborar como “mediador”,equiparando o “direito à segurança” de um Estado militarizado opressor com o “direito humanitário” dos que sobrevivem em Gaza (La Nación, 15/3).

Nem paz nem autodeterminação nacional

Centenas de ativistas palestinos foram reprimidos por se manifestarem contra a ofensiva de Netanyahu, que até dificulta o culto dos muçulmanos na Explanada das Mesquitas, o terceiro lugar mais sagrado para o Islã. Tal como denunciou o grupo pacifista israelense Ir Amim, o “deslize” de Netanyahu corresponde a um plano para instalar 50.000 moradias em Jerusalém oriental, arrasando os bairros palestinos históricos, na perspectiva de novos assentamentos de colonos judeus na Cisjordânia. Além do mais, apoiando-se na crise econômica internacional, a Agência Judaica promove a emigração de milhares de judeus da Inglaterra e da Índia para as colônias da Cisjordânia, com base na “Lei do Retorno”, a lei fundacional do Estado sionista que auspicia o “direito inalienável” dos judeus de “voltar” a “sua terra”, cerceando essa possibilidade de 4 milhões de palestinos que permanecem na diáspora. Essa orientação se complementa com o muro do Apartheid que dificulta as vias de comunicação entre as aldeias palestinas e expropria as terras mais férteis com reservas de água doce, enquanto mantém o assédio sobre a Faixa de Gaza, apesar do massacre da operação, que entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009 assassinou mais de 1400 palestinos e destruiu grande parte da infra-estrutura civil.

A experiência histórica dos últimos 62 anos (quando foi fundando o Estado judaico) demonstra que as genuínas aspirações de paz entre árabes e judeus se reduzem a uma mera ilusão nas mãos dos sionistas e do imperialismo, pois a vigência desse Estado colonialista e racista é incompatível com o legítimo direito à autodeterminação nacional do povo palestino.

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