Sexta 29 de Março de 2024

Internacional

Bolívia

Ofensiva "autonomista" da burguesia cruzenha desnuda a crise política

20 Jan 2005 | Uma semana depois do triunfo da mobilização operária e popular de El Alto que expulsou a transnacional francesa “Aguas del Illimani”; a ofensiva do Comitê Cívico de Santa Cruz, paralisou completamente este estado por vários dias. O governo de Carlos Mesa, que aplicou o “gasolinazo” cumprindo as exigências do FMI, está nas cordas em meio ao terremoto social e político que sacode o país.   |   comentários

Os objetivos dos empresários e “cívicos” de Santa Cruz

A partir da reivindicação de revogar do “gasolinazo” , a burguesia se lançou sobre o legítimo descontentamento popular e passou a exigir autonomia regional, com ocupações de edifícios públicos, marchas dos empresários e a fascistóide “juventude cruzenha” .

Aos latifundiários e agroindustriais de Santa Cruz não interessa a vontade dos trabalhadores e do povo pobre: querem autonomia para seguir dominando Santa Cruz como se fosse sua própria fazenda, proteger-se da instabilidade política e das lutas sociais que “vem do Altiplano” e garantir seus lucros com a exportação de gás pela Repsol YPF e Petrobrás. Contrapõem a sua demanda ao plano de Carlos Mesa de convocar uma Assembléia Constituinte este ano porque vêem riscos em qualquer debate sobre o latifúndio.

Está em jogo uma redistribuição do poder político e económico, onde a burguesia de Santa Cruz, setor capitalista mais forte do país, quer uma ampliação de seus lucros às custas das camarilhas de La Paz, que hoje se beneficiam do caráter unitário do Estado.

Uma crise política explosiva

O triunfo da paralisação em El Alto em meio a uma onda de conflitos e pro-testos operários, camponeses e populares, foi um duro golpe das massas a Carlos Mesa, mas, ao mesmo tempo empurrou a burguesia a endurecer suas exigências, levando a enfrentamentos na classe do-minante, a enormes “brechas nas alturas” , e a crise do Estado boliviano.

O débil governo, frente ao ascenso de massas, tem poucas cartas para jogar, ainda que tenha aberto canais de negociação através do Parlamento, da Igreja e dos principais prefeitos recentemente eleitos que chamam a “unidade nacional” e a sustentar Mesa.

A polarização social e política faz tremer o terreno sob os pés do presidente e está enfraquecendo a convocação a uma Assembléia Constituinte “consensuada” , peça chave de sua estratégia de “reação democrática” para recompor o regime e isolar o perigo de novos Outubros. Ante a enorme crise política, o próprio futuro do governo é questionado e há setores que começam a buscar novas localizações.

Parar a reação e retomar o caminho de Outubro

O novo ascenso, com destaque para El Alto, e a efervescência e politização entre as massas mostram que é possível retomar o caminho aberto pelo levante de Outubro de 2003.

Contudo, as direções reformistas estão jogando um papel nefasto. Evo Morales e o MAS sustentam Mesa com o argumento do “mal menor” frente à direita cruzenha. A direção da COB, apesar dos discursos “vermelhos” não fez nada para coordenar a luta de massas, nem para que os trabalhadores levantem sua própria política ante a crise. A assembléia operária de 20/01, que podia ter sido um grande passo adiante, foi convocada sem a menor preparação na base.

Desde Palabra Obrera insistimos

É necessário preparar uma Assembléia Popular, com representantes de base com mandato de todos os setores operários, camponeses e povo pobre para discutir uma posição política independente das frações burguesas. Um plano de luta que culmine na greve geral política com bloqueio nacional de caminhos, é a via para quebrar os intentos da reação, impor as demandas operárias e populares e abrir o caminho a um governo operário e camponês. Faz falta a mais ampla democracia direta em todos os sindicatos e organizações de massas, para por em pé órgãos de poder operário e camponês, junto à autodefesa de massas, que possam levar ao triunfo a mobilização.

”¢ Nem a “autonomia” imposta pela burguesia cruzenha, nem a falácia da constituinte que quer Mesa respondem às legítimas aspirações democráticas dos trabalhadores e do povo pobre. Só uma Assembléia Constituinte revolucionária, imposta pela mobilização, com as formas de representação que as massas decidam, rompendo com as amarras do regime atual seria verdadeiramente livre e soberana, e permitiria decidir como “refundar o país” com base na expulsão do imperialismo, fim do latifúndio, plena autodeterminação dos povos originários, livre cultivo da coca, salário e emprego para todos. Somente um governo das organizações operárias e camponesas garantiria uma Constituinte assim.

”¢ Nem apoio a Mesa, “para que governe” , como dizem Evo Morales e o MAS, nem “golpe branco” para levar outro reacionário ao governo, nem eleições. Contra todas as variantes burguesas, é necessário discutir como impor uma saída política de classe: um governo das organizações operárias e camponesas.

”¢ Em uma situação convulsiva como a da Bolívia, a classe operária não tem expressão política própria. É necessário forjar um Instrumento Político Revolucionário dos Trabalhadores [IPRT] baseado na COB e em suas assembléias de base, que defenda a independência política dos trabalhadores e lute pela aliança operária, camponesa e popular; com um programa para impor uma saída operária e camponesa à crise nacional, apoiado nos melhores aportes dos documentos históricos da COB, como a Tesis de Pulacayo e as Tesis Socialistas de 1970; e organizado segundo os métodos da democracia operária, com dirigentes responsáveis ante a base e com liberdade de tendências. A luta por este IPRT é a melhor maneira de construir uma direção revolucionária.

”¢ Neste caminho, seria um grande passo adiante construir uma forte juventude da COB, combativa, antiimperialista, agrupando aos mais avançados da nova geração operária e popular.

É necessário discutir estas propostas, e somar esforços para impulsioná-las todos os dirigentes que vêem a necessidade de uma política operária, os trabalhadores e as trabalhadoras das fábricas e minas, os jovens dos centros de trabalho ou de estudo, em bairros ou comunidades que querem ocupar uma trincheira de vanguarda na luta.

A Liga Obrera Revolucionaria por la Cuarta Internacional (LOR-CI), é a organização irmã da LER-QI na Bolívia, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

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