Sexta 29 de Março de 2024

Juventude

LIÇÕES ESTRATÉGICAS DO CONFLITO DA USP

Ocupe or not ocupe: mais do que uma divergência “de método"

27 Nov 2011   |   comentários

Na luta para massificar o movimento pelo Fora PM da USP com um conteúdo não elitista e não corporativo, se abrem dois debates fundamentais, contra duas outras perspectivas estratégicas que foram apresentadas ao movimento. Apesar de dizerem que estão a favor do Fora PM da USP, o PSOL e o PSTU, ao defenderem desde o início que essa luta se ligasse a um “plano de segurança alternativo”, demonstram uma perspectiva estratégica distinta, de adaptação à ideologia dominante de “segurança pública” e ao caráter elitista da universidade. Insistimos com os companheiros que o discurso de defesa da segurança pública é um mecanismo burguês que busca vender a repressão policial como uma necessidade natural frente à violência urbana nascida da pobreza estrutural no país. Colocamos que não era necessário ser socialista e revolucionário, mas apenas um reformista consequente, para combater a militarização da pobreza questionando as raízes sociais da violência urbana. Não podemos querer uma “segurança ideal” para os filhos da classe média branca que estudam na USP, enquanto os pobres e negros seguem sendo massacrados pela polícia real fora da USP. Por isso defendemos que nosso Fora PM - com um conteúdo de ódio de classe à polícia - estivesse ligado à defesa do fim do vestibular, de emprego, de salários e direitos iguais para os terceirizados, saúde, educação e moradia dignas para todos.

Mas o PSOL e o PSTU não acham que é necessário fomentarmos o ódio de classe contra a polícia e essa sociedade de exploração e opressão. Pelo contrário, com o pretexto de “se ligar às massas” se adaptam ao nível de consciência atrasado das mesmas, que assimilam o discurso da “segurança pública” imposto pela burguesia. Isso faz com que enquanto na USP defendem uma “segurança alternativa”, fora da USP defendem uma polícia mais democrática, chegando ao ponto de defender os policiais como “trabalhadores da segurança”, como se as forças de repressão do Estado não fossem um instrumento de manutenção do domínio da burguesia sobre a classe trabalhadora e o povo pobre. Essa concepção estratégica de se ligar às massas adaptando-se à consciência atrasada das mesmas está a serviço de uma estratégia que privilegia a conquista de espaços superestruturais em entidades sindicais, estudantis e parlamentares pela via eleitoral. É uma concepção oposta pelo vértice à estratégia de conquistar posições de força ligando os setores mais avançados e de vanguarda aos setores mais atrasados e de retaguarda através da luta de classes.

Apesar do PSOL e do PSTU insistirem em dizer à imprensa que nós éramos uma minoria isolada, dando argumento para o discurso do próprio Rodas, a maior prova de que a política de massificar o movimento pelo Fora PM com um conteúdo não elitista e através dos métodos combativos de luta das centenas de estudantes que se enfrentaram com a polícia no dia 27 estavam dispostos a adotar, se mostrou na própria pesquisa realizada pelo Datafolha, assim como nos apoios recebidos por setores da intelectualidade, jornalistas de esquerda e estudantes de outras universidades. Apesar de toda a campanha reacionária dos meios de comunicação de massas, apesar dos ataques das duas correntes mais fortes do movimento estudantil da USP (PSOL e PSTU), a tendenciosa pesquisa do Datafolha indicou que pelo menos 24% dos alunos de toda a USP apoiava a ocupação e 36% eram contra a polícia no campus (proporção que elevava a 70% nos cursos de humanas). Esses números desmentem que nosso movimento é de minorias insignificantes, pois representam entre 20 mil e 30 mil estudantes a favor da ocupação e contra a polícia na universidade. Esse reconhecimento foi demonstrado pela própria reitoria, que foi obrigada a receber os estudantes ocupados junto à Justiça e aceitar a postergação da data de reintegração de posse até a realização de uma nova assembléia, decidindo pela reintegração violenta em ruptura com o processo de negociação que estava aberto.

Além da política do PSOL e do PSTU, a luta pela massificação do movimento pelo Fora PM com um conteúdo não elitista e não corporativo teve que se enfrentar com as concepções estratégicas do Movimento Negação da Negação (MNN). Apesar de se colocarem corretamente a favor das ocupações, o MNN tem uma concepção programática adaptada ao elitismo da USP, pois é contrária a ligar o Fora PM à luta para que os filhos da classe trabalhadora possam entrar na universidade, e tem uma concepção estratégica que defende o método de ocupação e da greve não como meios a serviço de massificar o movimento e conquistar posições de força para que este triunfe e sim como meios a serviço de constituir “territórios livres” dentro da universidade, que coexistam com a atual estrutura de poder.

Letícia Oliveira é presa política da USP e Júlia Borges é estudante de História

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