Terça 16 de Abril de 2024

Movimento Operário

PSTU SE ALIA AOS TRAIDORES DA CUT

O vale tudo para ganhar votos nas eleições sindicais dos Correios de São Paulo

06 Dec 2010   |   comentários

Entre os ativistas da vanguarda que conservam posições combativas a decisão do PSTU de compor uma chapa sindical unificada com dirigentes sindicais governistas e entreguistas que atuam na Articulação Sindical (CUT) e no PT está sendo vista como um grande escândalo. Não porque o PSTU nunca antes tenha se guiado pelo pragmatismo de buscar seus “objetivos a todo custo”, fazendo alianças sindicais e políticas com quem quer que seja, desde o PSOL até o PCdoB e o PT.

Neste ano, em fevereiro, no sindicato dos Correios do Rio de Janeiro, o PSTU (sempre usando o nome da Conlutas, e obviamente sem qualquer debate ou decisão democrática em suas instâncias) compôs chapa com o MRL (corrente ultra-minoritária da CUT hegemonizada pelos reformistas da Democracia Socialista-PT). Contra a chapa do PCdoB-CTB o PSTU construiu a Chapa 3 – Oposição Unida para Lutar, juntando num bloco sem princípios e oportunista o MRL-CUT, Alternativa Ecetista (PSOL) e Ecetistas em Luta (PCO).

O PSTU-Conlutas passou os últimos sete anos gritando aos quatro cantos que para ser combativo havia que romper com a CUT, pois essa central se tornara governista, chapa branca, capacho do governo federal. Aos que criticavam essa política ultra-esquerdista na forma mas de conteúdo ultra-oportunista – como se pode comprovar na prática dos últimos anos – urravam epítetos como “viúvas da CUT”, “aliados dos neopelegos”.

Enquanto jogava palavras ao vento, a direção do PSTU ia (des)educando sua militância para que aceitasse sem conflitos o mais descarado oportunismo em busca de alianças com os tão “amaldiçoados” neopelegos. Em várias eleições sindicais o PSTU continuou costurando seus pactos com a CUT e depois a CTB. Nos metroviários de São Paulo, junto com o PSOL, chamou uma chapa conjunta com a CTB e a CUT. Acabou fazendo uma chapa de oposição com o PSOL e um dirigente do PPS (partido do governo Serra-Alckmin).

Mesmo onde o PSTU não tem qualquer inserção sindical ou peso político o método oportunista corre solto. Em Santa Catarina, na cidade Chapecó, por exemplo, em setembro passado, estavam juntos com a CUT e a Intersindical-PSOL apoiando a chapa que venceu as eleições no Sitracarnes (Sindicato Trabalhista de Carnes e Derivados) contra a direção da Força Sindical. E o atual principal dirigente sindical do PSTU-Conlutas, Atenágoras, em seu habitual exagero desmedido – aspecto vital do oportunismo e do ultra-esquerdismo – considerou que se tratava de “uma vitória da esquerda do movimento sindical brasileiro” (Opinião Socialista nº 413). Veremos como a realidade – mãe da verdade – comprovará esta “vitória”.

Como se vê, todas as correntes que historicamente foram parte do movimento cutista-petista sempre se encontram nesses blocos sem princípios, passando por cima de quaisquer bases programáticas ou práticas. Mesmo os ditos “radicais”, como o PCO, também reproduz o modo petista-cutista de militar, buscando estar nos sindicatos a todo custo.

O PSTU se aliou aos mais odiados burocratas da categoria...

O caso da Chapa 2, presidida por Geraldinho (PSTU), nas eleições do Sintect-SP foi realmente escabroso. Este partido superou a si próprio no quesito oportunismo e no duplo discurso. Os aliados e companheiros do PSTU na Chapa 2 são burocratas sindicais do pior calibre, defenestrados na categoria porque sempre estiveram, mesmo antes do governo Lula, ligados à burocratização do sindicato e ao entreguismo das reivindicações da categoria. O secretário-geral da Chapa 2 – o segundo cargo mais importante – foi dado pelo PSTU ao principal dirigente da Articulação Sindical-CUT, o agente da empresa e do governo Lula, José Rivaldo, conhecido como Talibã. Como secretário-geral da federação nacional (Fentect) é conhecido na categoria como o traidor da greve do ano passado (junto com o PCdoB-CTB) que terminou assinando o acordo bianual [1] , o que significou uma quebra da conquista histórica da data base anual, conforme determina a lei trabalhista.

Durante esta greve do ano passado o presidente dos Correios, Carlos Henrique Custódio, declarou ao jornal O Estado de S. Paulo (16/09) que “que a proposta de 9% foi feita ao Comando de Greve, mas que não houve tempo de ser discutida com as bases regionais”, deixando claro que os burocratas da Fentect e do sindicato cumpririam as ordens do governo e da empresa para firmar “um acordo bianual para sair dessa questão de greve todos os anos”. Os capachos do governo e da empresa (PCdoB-PT), com Talibã à frente, cumpriram fielmente as ordens de Lula e da empresa, traindo a categoria e o conjunto dos trabalhadores [2].

O PSTU conviveu lado a lado, comeu na mesma mesa, com todos esses burocratas sindicais desde 1989 quando compartilhou vários mandatos juntos no sindicato. Todo ativista combativo que tenha algum conhecimento sobre os trabalhadores sabem quem são Talibã e Cia., e por isso mesmo rejeita qualquer aliança com este bando de traidores e agora se sente escandalizado com o oportunismo do PSTU (junto com o PSOL).

Em setembro – dois meses antes as eleições sindicais – a Oposição Conlutas escrevia que “a diretoria do Sintect-SP (CTB/PCdoB) e a maioria da Fentect (PT/CUT e PCdoB/CTB) mais uma vez demontram que estão do lado da direção da ECT e do governo e não da base da categoria. [...] Veja só o cinismo da diretoria do Sintect/SP e do José Rivaldo (Talibã), secretário geral da Fentect. [...] na plenária de delegados sindicais que aconteceu no dia 11/09/10, a diretoria do nosso sindicato juntamente com o Talibã e a maioria de delegados da CTB aprovou um encaminhamento para a Assembléia do 14/09/10, de não aprovar a greve. Não mobilizaram a categoria para a luta porque na prática querem ajudar a direção da empresa administrar e depois vão ganhar um cargo no governo da Dilma Russef, e ainda têm a cara de pau de dizer que a categoria não quer lutar... ...enquanto a diretoria do Sintect/SP e da Fentect se venda para a empresa...”

Dois meses depois de escrever boletins denunciando Talibã e a Articulação como traidores da categoria e agentes do governo Lula e da empresa (igualando-os ao PCdoB), o PSTU fez a Chapa 2 com esses mesmos burocratas sindicais. Um escândalo, para quem diz ser antiburocrático e antigovernista!

... e agora faz malabarismo para dizer que foi uma tática vitoriosa!

A direção do PSTU publicou no site da Conlutas um artigo de balanço das eleições dos Correios, assinada por seu dirigente Atnágoras Lopes, que aparece como membro da executiva da CSP-Conlutas [3] . Estranho que não tenha sido nenhum dirigente ou militante dos Correios ou mesmo João Zafalão, quem assinou carta em nome da Conlutas pedindo apoio político e financeiro à chapa 2 do PSTU com a Articulação.

O balanço é um grande picadeiro marcado por malabarismos. Como não pode esconder a realidade, Atnágoras afirma que “a maioria das lutas da categoria vem sendo imobilizada, e até traída pela direção majoritária da Federação Nacional da categoria, a FENTECT, composta pela CTB e pela Articulação (maioria da direção da CUT)”. Ele deixa bem claro que são os traidores da categoria: os membros da Articulação.

Confirma que esses sindicalistas “na campanha salarial do ano passado, por exemplo, estas duas forças políticas impuseram a assinatura de um acordo coletivo com validade de dois anos, o que impediu uma forte campanha salarial neste ano (2010)”.

Então, fica a pergunta: por que fizeram uma chapa com esses traidores? O malabarismo do PSTU está em explicar que sua tática estava correta porque precisava unificar toda a oposição ao PCdoB-CTB. Mas tem um detalhe: não é a Articulação uma das alas traidoras da categoria? Mas o balanço que o PSTU faz da eleição diz que a tática foi acertada pois se tratava de garantir “a unidade para manter a luta em defesa dos trabalhadores dos Correios”. Quanto malabarismo precisa para explicar que a unidade com os traidores da categoria ajudaria a luta dos trabalhadores?

Por que o PSTU não diz a verdade? O que estava atrás dessa vergonhosa tática sindical de aliar-se aos traidores da Articulação era o objetivo de assumir o sindicato a qualquer preço. Se em outras eleições o PSTU aparece em chapas com o PCdoB, aqui em São Paulo havia decidido derrotá-lo a qualquer custo. Para isso calculou que precisaria aliar-se à Articulação para ter votos suficientes. Pouco importa se eles mesmos afirmam que seus aliados sejam traidores. Isso é que é pragmatismo e eleitoralismo sindical!

O malabarismo final aparece quando este partido avalia que “ainda que o resultado eleitoral tenha ficado aquém daquilo que se previa isso não diminui a justeza desta política”. Fizeram tudo para ter votos, dividiram a oposição (a CST não entrou em chapa alguma e o PCO lançou outra chapa) e agora dizem que independente do resultado a tática era justa.

A quem os dirigentes do PSTU pretendem enganar? Se aliaram com os traidores da Articulação, fizeram essa corrente aparecer como “oposição”, tudo para estar no aparato sindical, e ainda querem vender esse peixe podre como se fosse salmão com caviar.

Construir alternativas combativas e classistas ao oportunismo de esquerda

O PCO, que organiza a corrente Ecetistas em Luta e dirige majoritariamente o sindicato dos Correios em Minas Gerais e participa em outros de menor envergadura, tenta aparecer como alternativa ao descalabro do PSTU. Participou das eleições com a Chapa 4, posando de única oposição ao PCdoB-CTB. Tal qual o PSTU o PCO tem a mesma lógica oportunista: elege um “inimigo principal” (no caso, o PCdoB) e a partir daí, pragmaticamente coligam-se com quem for em busca de votos. Este partido também não pode esconder que estava disposto a fazer parte do negócio do PSTU com a Articulação [4]. O acordo só não saiu porque era pouca farinha para tanta boca. E o PSTU colocou em prática o ditado popular – “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Fechou o negócio com a Articulação e a CUT (Talibã e MRL-DS) e o PSOL (Alternativa Ecetista) e desbancou o PCO. A este partido não restou mais do que sua chapa e voltar à verborragia de oposição “radical”, lançando qualificativos de todo tipo contra quem pretendia se unificar.

Ao contrário desse pragmatismo sindical herdado da CUT, totalmente inverso às tradições da esquerda revolucionária no movimento operário, está claro que os ativistas e correntes combativas terão que assumir a tarefa de reconstruir uma nova tradição de sindicalismo classista e revolucionário no Brasil, superando o sindicalismo reformista e pró-burguês que passou de mala e cuia para o governismo e a patronal ou deixou, na outra ponta, um sindicalismo esquerdista, que fala em socialismo mas paga tributo à convivência e negócios com a burocracia sindical reformista.

No interior da Conlutas se torna urgente unir e coordenar todos os setores combativos e antiburocráticos que não aceitam esses métodos de eleitoralismo sindical (repetição dos tempos da CUT) para colocar a central sindical no verdadeiro caminho da luta para expulsar a burocracia (traidores) dos sindicatos, único caminho verdadeiro para retomar essas organizações para a luta combativa e classista. O exemplo da Chapa 1 no Sintusp, com a unidade programática e sustentada numa prática comum, mostra que no interior da CSP-Conlutas há reservas importantes para fazer valer a luta intransigente contra a burocracia sindical, o governo e a patronal.

[1“O secretário-geral da Federação, José Rivaldo da Silva, afirmou que vai orientar os sindicatos a aprovarem a oferta.” http://cut.org.br/clipping/18451/clipping-17-09-09.

[2Para ter validade, a proposta da empresa precisava da aprovação de 18 dos 35 sindicatos. No entanto, apenas 16 votaram a favor de 9% de reajuste da inflação válido para dois anos e R$ 100 de aumento para todos os funcionários dos Correios. Grevistas de São Paulo denunciam que o sindicato acabou com a paralisação, apesar da maioria dos trabalhadores votarem pela continuidade da greve. Os trabalhadores rejeitam o acordo bianual, que evitaria a campanha salarial da categoria em 2010. No entanto, os sindicatos ligados ao PC do B e PT – base aliada do governo – queriam aprovar a proposta da estatal para evitar a greve em ano de eleição. www.correiocidadania.com.br – 30/09/2009.

[4“... nossa orientação sempre foi a formação de uma chapa formada pela Frente dos 17 sindicatos, tendo como programa a nossa maior arma contra o PCdoB que controla o sindicato, a luta contra o acordo bianual. Nas últimas reuniões da Frente dos 17 sindicatos, o PSTU/Conlutas apresentou para os representantes de sindicatos que a Talibã/Articulação e o grupo do Trabuco/PT queriam conversar com a Frente para entrar em nossa chapa, obviamente que não nos opusemos em CONVERSAR nem com o Talibã, muito menos com o Trabuco, pois como não somos sectários, estamos dispostos a conversar com qualquer um, mas em nenhum momento falamos que íamos aceitar o Talibã entrar na nossa chapa, pois entendíamos que a Chapa seria da Frente dos 17 sindicatos, quem quisesse entrar na chapa, seria nas condições estabelecida pela Frente dos 17 sindicatos.” Carta da Corrente Nacional Ecetistas em Luta aos sindicatos da Frente dos 17 sindicatos contrários ao Acordo bianual. www.pco.org.br. Por mais que fale o PCO nesta carta não pode esconder que participaria da Chapa 2 como ela acabou sendo feita, pois qualquer pessoa minimamente séria tem certeza que a CUT iria impor a candidatura de Talibã, seu principal burocrata.

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