Quinta 28 de Março de 2024

Nacional

REDUÇÃO DE JUROS, PROGRAMA DE UMA FRAÇÃO BURGUESA, É ASSUMIDO PELAS CENTRAIS SINDICAIS

O trabalhadores só têm a perder seguindo os patrões

25 Apr 2009   |   comentários

Para o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, representante-mor dos capitalistas (exploradores), a queda das taxas de juros decretada pelo Banco Central (BC) está longe do “ideal [que] é chegarmos, o quanto antes, a 8% ou 9%” . Este é o teor da nota pública no site da Fiesp. Desejam, com seu discurso enganador, consolidar o apoio dos trabalhadores e do povo pobre ao seu “programa” diante da crise capitalista.

Na realidade, esse programa significa, obviamente, defender os interesses patronais ’ preservar os lucros e os ganhos financeiros especulativos ’ às custas dos trabalhadores e do povo. Afinal, nessa crise não é possível que as duas classes saiam ganhando. Para salvar os lucros capitalistas os trabalhadores, em primeiro lugar, terão que pagar com demissões, suspensões de contratos, licenças, PDVs, redução de salários, retirada de direitos. Ao contrário, para garantir emprego, salários e direitos, os trabalhadores devem dirigir suas forças para a raiz dos problemas: o lucro patronal, a fonte de toda a exploração e o motor desta crise capitalista histórica que ainda não mostrou toda a sua faceta de catástrofe social.

Para não pagar pela crise, atacando os lucros patronais e lutando por um programa operário e popular que parta da defesa do emprego (nenhuma demissão, nem PDV, nem suspensões de contratos), dos salários (nenhuma redução) e dos direitos (garantia das conquistas legais e sociais, carteira assinada para todos, salários iguais para terceirizados, precarizados e efetivos), a classe trabalhadora necessita se enfrentar também com as direções sindicais e políticas encasteladas nas principais centrais sindicais (CUT, Força Sindical, CTB, UGT, CGTB, Nova Central), pois esses dirigentes estão ao lado do governo Lula e dos capitalistas, contra os trabalhadores.

O programa de redução dos juros não serve aos trabalhadores

Os empresários incutem a falsa idéia de que reduzindo os juros a economia se reativará, as empresas produzirão mais e, assim, os empregos estarão garantidos. Conversa para boi dormir! O que eles buscam é ser “mais competitivo” , ou seja, concorrer em melhores condições (dinheiro barato) para aproveitar a crise. Se os juros mais baixos favorecessem a produção e o nível de emprego não estaríamos convivendo com milhares de demissões todos os meses, férias coletivas e PDVs.

Desde novembro passado, quando começaram as demissões em massa no país, a taxa de juros básica (Selic) estava em 13,75%. Em março deste ano caiu para 11,25%, reduzindo 2,5 pontos percentuais. De outro lado, o desemprego cresceu de 7,6%, em novembro, para 9%, em março. Como se vê, os juros caíram e o desemprego se elevou. Isso demonstra claramente como funciona a sociedade capitalista: as medidas económicas, monetárias e fiscais dos governantes favorecem os patrões, e quem paga são os trabalhadores, com a moeda mais valorosa: o emprego.

Muitos trabalhadores se iludem esperando que a redução dos juros traga benefícios. Os sindicalistas vendidos se aliam aos patrões para injetar na mente dos trabalhadores essa mentira. Em novembro, a taxa média para empréstimo pessoal cobrada pelos principais bancos era de 6,15%, baixando para 5,74% em abril. Para o cheque especial era 9,24% e caiu para 9,03%, no mesmo período. A taxa Selic ’ que regula os negócios de bancos, empresas e especuladores ’ caiu 2,5%, de novembro do ano passado a março deste ano. Por outro lado, os juros de empréstimo pessoal, fundamental para os trabalhadores, a classe média e o povo pobre, caíram, nesse período, ridículos 0,41%! No cheque especial ’ fantasma que persegue os que vivem de salário ’ a queda foi de meros 0,21%!

Quando dizemos que o programa de redução de juros favorece essencialmente os capitalistas e não os trabalhadores, basta a comparação desses números para confirmar. Essa verdade nua e crua deve servir para que toda a classe trabalhadora, e mesmo a classe média que no mais das vezes apoia e se submete aos capitalistas, compreenda que não deve aceitar nem seguir qualquer programa burguês, devendo retomar suas organizações de luta para construir a unidade da classe em torno de um programa operário e popular, anticapitalista, antigovernista e antiimperialista.

A classe trabalhadora é a única capaz de impedir a catástrofe capitalista

Apenas um programa com esse caráter poderá impor as únicas e resolutas medidas capazes de enfrentar a crise capitalista e garantir uma economia voltada para os interesses da maioria. Não podemos aceitar qualquer programa burguês, seja dos banqueiros e especuladores ou dos “empresários produtivos” . O que os capitalistas nos reservam é um futuro de catástrofe social. Somente a classe operária, que tudo produz e faz funcionar mas nada tem, poderá assumir o compromisso de dirigir todas as classes exploradas e oprimidas a uma perspectiva progressiva, democrática e de cooperação internacional com os povos oprimidos.

Para que os empresários não continuem chantageando a sociedade, escondendo seus verdadeiros lucros e negócios, sua concorrência desenfreada por novos mercados, devemos exigir que haja um controle social das empresas para que toda a sociedade saiba exatamente como são administradas, para onde vão os lucros, quais os negócios entre empresas, bancos e governos. “Os trabalhadores não têm menos direito que os capitalistas de conhecer os ”˜segredos”™ da empresas, dos monopólios, dos ramos industriais, de toda a economia nacional em seu conjunto. Os bancos, a indústria pesada e os transportes centralizados devem ser os primeiros submetidos a essa observação.” Esta é uma das propostas fundamentais do Programa de Transição, da IV Internacional (Partido Mundial da Revolução Social), que responde ao anseio democrático da maioria em conhecer e dar solução aos problemas mais profundos da sociedade.

Para controlar os bancos, as finanças, a moeda e os juros, que estão sob o jugo dos capitalistas e governantes que controlam o “coração” da economia capitalista ’ o sistema financeiro ’, deve-se lutar pela expropriação dos bancos privados e a concentração de todo o sistema de crédito nas mãos do Estado num banco nacional único, sob controle dos trabalhadores. Somente assim se poderá criar um sistema de crédito e investimentos que não privilegie os “rentistas” e especuladores, ditado por um plano racional de acordo com os interesses de toda a nação, garantindo créditos baratos aos pequenos depositantes, comerciantes e produtores e favorecendo o investimento na produção agrícola, reforma agrária, plano de obras públicas (casas, hospitais, escolas, creches, infra-estrutura etc.), indústrias, serviços, comércio.

As exportações e importações, isto é, o comércio entre os países ’ a balança comercial ’ adquiriram um papel essencial na economia nacional. A própria produção está determinada pelas necessidades de exportação ’ agronegócios, grandes monopólios ’, pois a submissão do país aos interesses imperialistas amarra a economia na dependência de crédito em moedas fortes ’ dólar, euro, principalmente ’ para garantir as “contas públicas” . O país vive refém dos negócios internacionais ’ preços, comércio, finanças ’, com terríveis reflexos internos para os trabalhadores e o povo pobre ’ inflação, desvalorização da moeda, endividamento, recessão. Sem romper essa submissão a nação está fadada a viver de pires na mão diante dos países, monopólios e organismos imperialistas, entregando os recursos naturais, as empresas e a infraestrutura em troca de “investimento estrangeiro” , na verdade rapina estrangeira contra o país. O comércio exterior deve ser colocado nas mãos do Estado para ser planificado em favor do desenvolvimento da nação e da criação de riqueza para a maioria da população. O monopólio do comércio exterior é fundamental nesse sentido, e para defender o país dos ataques especulativos dos capitalistas nacionais e estrangeiros que não vacilam em destruir a nação ’ vide Argentina, em 2001 ’ em busca de seus lucros. A soberania nacional deve ser completada com o rompimento dos tratados imperialistas, a renacionalização das empresas privatizadas e o não pagamento das dívidas interna e externa.

Munido de um programa à altura do seu papel social para enfrentar a crise capitalista atual, a classe trabalhadora deve trilhar o caminho da independência política diante de todos os setores patronais e governos burgueses, superando suas ilusões em Lula, nesta democracia para ricos, em partidos que falando em nome da classe operária defendem os interesses patronais ’ como o PT e o PCdoB ’ e nas direções sindicais conciliadoras. Essa é a base para avançar na luta por um verdadeiro governo operário e popular, que só pode se existir derrotando os capitalistas, como condição para impor as medidas radicais que encarem firmemente a crise que eles nos reservam.

Para que os trabalhadores não paguem pela crise os patrões devem pagá-la com seus lucros

Se hoje ainda não se sente os efeitos degradantes da crise, o desenvolvimento das contradições do sistema capitalista ’ apropriação cada vez maior do produto produzido pelo trabalho da maioria em favor de uma minoria de parasitas e a preservação do direito à propriedade privada acima do direito ao trabalho e à vida de milhões ’ indicam um futuro tenebroso se a minoria parsitária capitalista continuar impondo à força as demissões, os acordos de redução de jornada e de salários, as licenças e suspensões de contrato, os PDVs, os fechamentos de empresas e tantas outras medidas para preservar os lucros e a propriedade privada dessa casta, enquanto milhões perdem tudo.

Organizações insuspeitas como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimam que a crise mundial poderá resultar em mais 50 milhões de desempregados em 2009, elevando o total para 230 milhões no mundo. No “melhor cenário” prevê 30 milhões de novos desempregados. No site www.brasilagro.com.br (22/04), Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova York famoso por ter sido o único a prever essa crise, disse que "ainda" está "pessimista", pois a recuperação da economia vai levar "mais tempo que o previsto", e que o momento de relativa alta nas bolsas e em alguns mercados pode ser um “voo de galinha” , afirmando que “esta recessão vai durar pelo menos 24 meses” .

Devemos enfrentar a ofensiva patronal com uma grande luta e um programa operário independente

Os patrões, espertamente, aproveitam a crise para aumentar a taxa de exploração sobre a classe trabalhadora, isto é, manter ou aumentar a produção gastando menos com salários e direitos, garantindo vendas mais rentáveis e lucros maiores. É o que temos visto nas montadoras de automóveis, que demitiram e suspenderam milhares de operários mas obrigaram os que ficam a trabalhar dobrado, fazendo horas extras para bater recordes de produção e aproveitar as isenções fiscais para vender mais e lucrar muito.

Um programa operário e popular deve começar por: nenhuma demissão, unidade das fileiras operárias (não aceitar qualquer demissão ou ataque aos terceirizados, contratados, precarizados ou aposentados), divisão das horas de trabalho sem redução salarial garantindo emprego e abrindo novas vagas para os desempregados (os lucros exorbitantes podem financiar esse demanda social fundamental). As empresas que demitem em massa ou ameaçam fechar para buscar outros mercados devem ser ocupadas pelos trabalhadores para garantir os empregos, lutando para colocá-las para produzir sob controle operário, planificando a produção a serviço dos interesses da população.

Os sindicatos que se reivindicam classistas e combativos, reunidos na Conlutas e na Intersindical, devem deixar de se alinhar com as centrais sindicais governistas e vendidas, como fez no último dia 30 (Dia nacional de luta) assinando uma declaração a favor do programa burguês de "redução dos juros" e, sem hesitação, cumprir suas responsabilidades assumindo um programa classista e independente da burguesia, preparando um verdadeiro plano de luta para que os patrões paguem pela crise que criaram. Afinal, trata-se de fortalecer os setores combativos, pois os patrões já têm bastante aliados: sindicalistas governistas e vendidos (CUT, Força Sindical, CTB, UGT, CGTB, Nova Central) e partidos de conciliação como o PT, PCdoB e o PSOL.

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