Quarta 24 de Abril de 2024

Movimento Operário

Campanhas salariais do segundo semestre

O “setembro vermelho” está sendo barrado pelas direções burocráticas

20 Sep 2007 | As grandes lutas operárias na década de 1980, com as campanhas salariais do segundo semestre, marcavam um período intenso de luta de classes. A patronal e os governantes tremiam quando chegava agosto, pois as lutas dos metalúrgicos do ABC e de São Paulo anunciavam dias quentes. Os bancários, com suas greves nacionais, os motoristas e cobradores de ônibus, entre outros, fizeram com que o mês de suas campanhas salariais ficasse conhecido como “setembro vermelho”.   |   comentários

Em várias categorias temos visto uma disposição real para lutar pela recuperação salarial e melhores condições de trabalho. Este estado de ânimo encontra motivação, por um lado, na relativa reativação da produção e dos serviços, e diante dos elevados lucros das indústrias (cresceram 6,8% no primeiro semestre), dos bancos (recordes em lucratividade) e das empresas de serviços, e por outro na necessidade de fazer frente às perdas salariais diante do aumento do custo de vida e dos preços de alimentos (que os índices de inflação oficial escondem) [1].

Contudo, as campanhas salariais não aparecem com a força que poderiam ter porque estão limitadas pela estratégia das direções burocráticas ’ CUT e Força Sindical ’ que impedem a unidade de todas as categorias em torno de um plano de luta unificado que parem a produção e os serviços, única forma de enfrentar os patrões que contam com o apoio do governo Lula e dos governos estaduais.

Encerrada a campanha salarial dos metalúrgicos do interior (CUT, Força Sindical, Conlutas e Intersindical), agora se inicia a dos metalúrgicos de São Paulo, dirigidos pela Força Sindical numa campanha que poderia unificar mais de 2,2 milhões de trabalhadores. Os bancários, majoritariamente dirigidos pela CUT, realizam pequenas ações, isolados dos demais trabalhadores, para apenas pressionar os banqueiros a negociar, evitando que os mais de 400 mil bancários, de grande tradição combativa, possam impor uma greve nacional por suas reivindicações que contagie os demais trabalhadores.

CUT e Força Sindical fazem o jogo dos patrões

A produção de automóveis cresceu 14,5% em relação ao mesmo mês do ano passado; de janeiro a agosto de 2006, a produção foi de 1,77 milhão, e no mesmo período deste ano alcançou 1,93 milhão (+9,1%). Os capitalistas estão aumentando as vendas e os lucros, impondo ritmos de produção estafantes, jornadas prolongadas com horas extras e trabalho aos sábados e feriados. Os acordos impostos por esses pelegos aos metalúrgicos de São Bernardo, Taubaté e outras cidades, mais uma vez ajudaram os grandes capitalistas das montadoras e das metalúrgicas a preservarem seus lucros em troca de míseros 7,44% de reajuste salarial. E o pelego José Lopez Feijóo, presidente dos metalúrgicos do ABC, declara que estas migalhas significam “o melhor acordo já conquistado neste ano no Brasil” (Tribuna Metalúrgica nº 2.370, 10/09/2007).

O cinismo desses sindicalistas não tem limites na mesma assembléia em que os pelegos da CUT fizeram de tudo para aprovar este acordo, também se aprovou um dia de “luta nacional pelo contrato nacional” , para o dia 18, quando pretendem “fazer atos em 100 empresas por todo o país” , reivindicando piso nacional, jornada de 40 horas e direito de organização no local de trabalho para o setor automotivo. Impedem a mobilização e a unidade dos metalúrgicos em todo o estado, fecham às pressas o acordo com a patronal, encerrando a campanha salarial e falam em “dia de luta” depois de desmobilizar.

A rejeição do acordo, pelos metalúrgicos da GM de São Caetano do Sul, enfrentando a direção do sindicato (Força Sindical e CUT), mostrou que havia condições para se apoiar nesse setor para unificar em todo o estado os sindicatos da CUT, Força Sindical, Conlutas e Intersindical em torno de um verdadeiro plano de luta combativo para arrancar reivindicações como piso salarial de acordo com o mínimo do Dieese, reposição das perdas salariais passadas, reajuste mensal e automático dos salários de acordo com o aumento do custo de vida, redução da jornada de trabalho sem redução de salários, garantia no emprego, abertura de postos de trabalho para incorporar os desempregados, efetivação dos terceirizados e contratados com salários e direitos iguais.

A Conlutas-PSTU não se apresenta como alternativa combativa

Ainda que os pelegos da CUT tenham conseguido aprovar, no dia 10, o acordo em São Bernardo do Campo, neste mesmo dia os metalúrgicos da GM de São Caetano do Sul passaram por cima dos pelegos da Força e da CUT e rejeitaram a proposta. Neste mesmo dia o secretário-geral do sindicato de São José dos Campos, Mancha (dirigente do PSTU e da Conlutas) reconhecia que "a rejeição da proposta em São Caetano é a prova de que os metalúrgicos do Estado não concordam com essa proposta, ao contrário do que querem fazer crer os dirigentes da CUT e Força Sindical", e no dia seguinte (11/09), os operários da GM de São José também rejeitarem o acordo, ameaçando greve.

Porém, os dirigentes da Conlutas-PSTU, mesmo com Mancha sendo da GM de São José dos Campos, não tiveram como estratégia unificar as duas GMs, exigindo dos sindicalistas da CUT e da Força a unificação de todos os metalúrgicos e sindicatos e a aprovação em todas as fábricas de um plano de luta para arrancar as reivindicações com ações efetivas, ajudando os metalúrgicos a criar as condições para romper o controle desses pelegos, radicalizando a campanha salarial. O mesmo Mancha declarava que “a empresa tem condições de melhorar a proposta” , apostando na negociação que estava marcada para o dia 12, na qual os sindicalistas da Conlutas-PSTU participariam ao lado de “representantes dos sindicatos dos metalúrgicos de São José e de São Caetano do Sul” , de negociação com a patronal, justamente “na sede da GM no ABC paulista” (http://g1.globo.com/Noticias/Economia, 12/09/2007). E já aparecia no site do sindicato a defesa do acordo negociado nessa reunião (que durou quase 9 horas), reivindicando que os 7,44% de reajuste, “a partir de janeiro de 2008 e um abono de R$ 2 mil a ser pago ainda no mês de setembro” significava que “conseguimos avançar na proposta graças à mobilização dos trabalhadores, que impuseram sua força mesmo com a postura da CUT” (www.sindmetalsjc.com.br).

Assim, por ironia do destino, no dia 13 (número do PT) os sindicalistas da Conlutas-PSTU seguiram prisioneiros da estratégia petista-cutista de pressionar para negociar “melhorias” , aprovando o acordo e encerrando a possibilidade de que a força metalúrgica voltasse com sua combatividade. Desperdiçou-se mais uma grande oportunidade para aparecer como uma verdadeira alternativa combativa e classista perante os trabalhadores de todo o país.

Sinceramente, esperamos que os dirigentes da Conlutas-PSTU revejam essa estratégia e convoquem os sindicatos filiados para um Encontro Nacional com delegados eleitos nas bases para preparar um plano unitário e combativo para as próximas campanhas salariais (petroleiros, bancários, metalúrgicos de São Paulo, gráfico etc.).

[1Apesar da crise financeira internacional as previsões indicam que a indústria e os serviços seguirão aumentando a produção e auferindo ganhos com o aumento do consumo. “A produção industrial se acelerou do primeiro para o segundo trimestre —3,8% para 5,1%. Juro em queda, crédito em alta, crescimento de emprego e renda também garantiram, diz, um bom avanço do consumo das famílias —6,7% ante o segundo trimestre de 2007.” Indústria eleva PIB no 2º trimestre, dizem analistas. Folha Online, 11/09/2007. Ainda assim, esses dados, ao contrário da propaganda do governo Lula e dos pelegos, não alteram significativamente as taxas de desemprego (em torno de 10%) e de queda da renda dos assalariados nos últimos anos. “Pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que o salário médio do setor de Serviços no Brasil recuou 3,81% entre 2000 e 2005” , é o que se pode comprovar no artigo Salário do setor de Serviços caiu 3,8% em cinco anos, da Folha Online de 25/07/2007. Um arrocho salarial impressionante, principalmente porque entre 2004 e 2005 a população ocupada cresceu 9,4% no setor, ou seja, novos empregos foram gerados, mas com salários menores e condições mais precárias (dados de emprego e salários na Pesquisa Mensal de Emprego, IBGE). Assim a minoria capitalista aumenta seus lucros, abocanhando um pedaço cada vez maior da riqueza nacional produzida pelos trabalhadores ’ a maioria, que tem que suportar cada vez menos para tantos.

Artigos relacionados: Movimento Operário









  • Não há comentários para este artigo