Sábado 20 de Abril de 2024

Internacional

O que querem os EUA com a reaproximação de Cuba? Duas estratégias capitalistas em questão

20 Dec 2014 | Em base a um acordo de troca de três prisioneiros cubanos, acusados de espionagem nos EUA, por um empresário norte-americano do setor de telecomunicações, acusado de subversão por Cuba, Raul e Obama passaram cerca de uma hora em telefone para estabelecer os temos desta reaproximação.   |   comentários

Nesta quarta feira, uma enxurrada de notícias inundou os jornais mais importantes do mundo com o anúncio de um dia histórico: Se dava, após 53 anos, a reaproximação diplomática, com pinceladas de medidas econômicas, entre EUA e Cuba.

Nesta quarta feira, uma enxurrada de notícias inundou os jornais mais importantes do mundo com o anúncio de um dia histórico: Se dava, após 53 anos, a reaproximação diplomática, com pinceladas de medidas econômicas, entre EUA e Cuba.

Em base a um acordo de troca de três prisioneiros cubanos, acusados de espionagem nos EUA, por um empresário norte-americano do setor de telecomunicações, acusado de subversão por Cuba, Raul e Obama passaram cerca de uma hora em telefone para estabelecer os temos desta reaproximação.

Ela indica como medidas principais o relaxamento de medidas como a retirada de Cuba da lista de países financiadores do terrorismo; criação de uma embaixada dos EUA e retomada das atividades de Consulados Cubanos nos EUA; o incentivo a treinamento de empresários e pequenos agricultores cubanos por setores dos EUA; autorização de vendas e exportações de bens e serviços dos EUA para Cuba; autorização para norte-americanos importarem produtos cubanos até o valor de 400 dólares, etc.

Tais medidas, no entanto, não apontam para o fim do criminoso Embargo comercial iniciado em 62, que impede a maior parte das trocas comerciais e tecnológicas com Cuba, provocando, além do estimado prejuízo de um trilhão de dólares desde que começou, racionamento de comida, energia e elevação dos preços de moradia, sanções a empresas e países que comercializem produtos com Cuba.

Segundo Obama, no entanto, o governo dos EUA busca o fim do embargo, numa “nova estratégia” caracterizada por ele próprio de “mais inteligente”.
Não é coincidência, no entanto, que a discussão sobre Cuba tenha voltado de maneira tão contundente.

Não apenas é parte do “plano de mandato”de Obama , numa situação aonde a população de cerca de 1,5 milhões de Cubano-americanos começa a se aproximar das posições do Partido Democrata, como segue presente em editoriais de grandes órgãos de imprensa imperialista - como o “The New York Times”(NYT) - o debate sobre o que se fazer com Cuba.

Como um movimento coordenado, neste dia 14 o NYT publicou matéria em que, retomando a situação de dificuldades de Cuba nos anos 90 (que entrou numa grande crise devido a queda da URSS [União Soviética] sua então principal parceira econômica), demonstra a encruzilhada econômica de Cuba graças a inflação; a perda do poder de compra dos salários e a estagnação da agricultura; todos graves problemas piorados pela crise, graças a queda do preço do petróleo, pela qual passa a Venezuela que é responsável pela exportação da maior parte do petróleo e contratação de profissionais de Cuba, ameaçando os incontestáveis elevados índices sociais de educação e Saúde da Ilha.

Segundo o jornal imperialista, a solução desta encruzilhada está nas tendências que a Burocracia dirigente de Cuba teve de incentivar como saída para a crise, que são as iniciais relações de comércio por conta própria e negócios particulares, incentivados, sobretudo, a partir de 2007, pelo setor mais restauracionista de Cuba e Raul Castro.

Por fim, em seu artigo, o NYT aponta como há uma brecha que o governo Obama precisa explorar que é fortalecer o que chamam de “campo reformista” e jovem “classe empresarial” de Cuba, buscando aliviar sanções, dar financiamento e treinamento no exterior a esta classe e buscar mudar sua política de “troca de regime”.

Um passo claramente coordenado se expressa, na medida em que Obama combina medidas que possibilitam maior envio de dinheiro, garantem a possibilidade de financiamento e treinamento a empresas e agricultores Cubanos, com propostas de “auxiliar Cuba em temas de direitos Humanos e reformas democráticas” e não a “derrubada do regime” diretamente.

Na realidade, sem abandonar posições como o Embargo ou mesmo a presença militar dos EUA na base de Guantánamo, em Cuba, o que se opera é mais um passo da estratégia de inserção “gradual” do capitalismo e da presença imperialista em Cuba, pela via de menor choque com a burocracia do Partido Comunista (PC), facilitando o caminho deste, para que siga a via “Chinesa” de restauração capitalista com a transformação de um setor da burocracia em classe burguesa, buscando aprofundar tendências que apontam para a restauração do capitalismo e tomar contato com setores privados que possam pressionar internamente neste sentido.

Há, no entanto, uma vertente nada desprezível que se ergue contra tal estratégia e se pronuncia pelo Partido Republicano.

A estratégia deste partido, principal rival dos Democratas e de Obama, e que hoje controla a maioria do Senado e Câmara dos EUA é uma linha dura clássica: Manter o embargo, não permitir nenhuma concessão e, desta forma, forçar mudanças no Regime cubano, mirando a queda do PC e a abertura do mercado para as empresas.

Ainda que com diferenças, ambas as estratégias buscam objetivos estratégicos comuns aos capitalistas: ao mesmo tempo em que abrem uma economia de milhões para o consumo dos produtos capitalistas e para as grandes empresas de distintos setores, como do açúcar (principal produto Cubano) e Níquel, consolidam a presença estratégica no mar do Caribe, as portas da Flórida e bem próxima de Venezuela.

Obviamente, além de todos os objetivos econômicos indispensáveis ao Imperialismo, está o do enorme triunfo de fazer cair uma das últimas nações nas quais ainda residem as bases de uma economia socialista, na qual a propriedade privada não é valor absoluto ou “regra” para a organização econômica.

Com a restauração capitalista de Cuba, os EUA buscam novamente enterrar, a idéia do Socialismo, agora num momento de crise econômica e de limites claros do capitalismo, no qual isto se demonstra ideologicamente central.

Obama, usando a maioria Republicana “linha dura” no Congresso e Senado, pode buscar chantagear a burocracia dos Castro, apontando como sua “linha suave” é a melhor opção frente as dificuldades econômicas que encontra e objetivos de se transformar em nova burguesia, fortalecendo as tendências cubanas a favor da restauração, numa situação em que,além de tudo, apesar de perder em estados chave nos EUA, começa a ver um crescimento da influência de seu Partido Democrata entre os cubano-americanos e latinos possibilitando obter um eleitorado que ganhe ainda mais simpatia por suas medidas.

Isto o faria, além de tudo, aparecer como um “gestor democrático” aos olhos do mundo, numa situação de decadência da hegemonia dos EUA e questionamento de seus métodos autoritários, como a tortura (lá mesmo em Guantánamo).

Aos revolucionários que defendemos que, ao invés de uma ditadura capitalista, ainda existem conquistas e um Estado Operário em Cuba, cabe o papel indispensável de denunciar tais estratégias, como vias de se chegar a um mesmo objetivo:
 Abrir Cuba aos interesses das multinacionais das frutas, do níquel e, sobretudo, açúcar, transformando-a num “entreposto” norte-americano no caribe e levando a situação da população a um retrocesso nas condições de Saúde, moradia e educação, que hoje graças a uma economia cuja base é a propriedade nacionalizada dá exemplos de erradicação do analfabetismo e baixíssimos índices de mortalidade infantil para o mundo.

A via para isto, nada fácil devido as criminosas medidas dos EUA, é a luta contra as medidas de abertura comercial a empresas norte-americanas, com a exigência do fim do Embargo e normalização do Comércio com todas as nações do mundo.

Em todos os países, é preciso exigir desde os sindicatos e organizações operárias a abertura ao estabelecimento de todo tipo de relação econômica que possibilite a Cuba sair do isolamento e importar e exportar livremente quaisquer produtos.

No plano nacional, é preciso responsabilizar a Burocracia dos Castro por toda a situação atual: Para isto é preciso lutar pela liberdade de organização e criação de Partidos que defendam as conquistas da revolução de 59 e as bases socialistas da economia, assim como a organização de comitês de representantes eleitos e revogáveis por bairro e local de trabalho, que efetivamente, demonstrem as necessidades e controlem a economia e a vida de Cuba desde a base da sociedade.

Desta forma, não apenas a vida dos cubanos será controlada por cada trabalhador e trabalhadora, como poderá se pensar em planos de obras públicas e um processo de industrialização que, apesar de atrasado, poderá ajudar Cuba a superar as dificuldades impostas pelos ataques econômicos imperialistas.

Isto, em nossa visão, só será possível pela via de uma verdadeira Revolução política, na qual tais organismos e comitês, impulsionados pelo povo e pelos partidos que defendem a base socialista da economia, derrubem o atual partido comunista, que não passa de um ninho de burocratas e “potenciais” aliados da restauração de Obama criando uma onda de energia revolucionária que impulsionará a luta em todos os países da região.

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