Quinta 18 de Abril de 2024

Educação

O que o Secretário não disse no Bom Dia São Paulo?

06 Feb 2015   |   comentários

Escrevemos esse artigo para esclarecer o que o secretário preferiu omitir da população, dos professores e alunos.

Em entrevista concedida ao Bom Dia São Paulo (04/02), Herman Voorwald, Secretario de Educação, tentou se defender de inúmeras denúncias realizadas por professores e alunos. A entrevista repercutiu amplamente nas escolas. Diante das negativas em responder as questões que foram levantadas pelo professor Marcio (diretor de Oposição na APEOSP e membro da corrente Professores Pela Base-Movimento Nossa Classe), escrevemos esse artigo para esclarecer o que o secretário preferiu omitir da população, dos professores e da comunidade escolar.

Por que os professores se sentiram intimidados e com receio de aparecer na entrevista?

Herman disse estar “extremamente ofendido” com insinuações que ele e sua secretaria pudessem perseguir e assediar os professores. Nas últimas greves, foi esse governo que atacou o legítimo direito de greve cortando os salários dos professores. Um governo que descumpre até mesmo a legislação, ao não aplicar a lei do piso, não deixa dúvidas que é capaz de fazer de tudo contra os professores. Ora, esse secretário compõe um governo com um histórico de extrema violência, em particular contra a educação. Em uma manifestação ocorrida em 2010, a mando do governador, a polícia reprimiu violentamente os professores, prendendo e ferindo gravemente diversas pessoas. É prática instituída na rede pública o assédio moral, basta viver a realidade da escola para saber. Com tantas demonstrações antidemocráticas e truculentas é compressível que os professores se sintam ameaçados por manifestarem publicamente suas opiniões

O que pensa Herman sobre a quantidade de alunos por sala?

O secretário afirma que as inúmeras listas com salas de aula que extrapolam, e muito, os módulos (no máximo 30 alunos no primeiro ciclo fundamental, 35 nas séries finais do fundamental e 40 no ensino médio) são um processo “normal” de todo começo de ano. Afirmou que os alunos são matriculados automaticamente, e que depois das transferências, evasões ou abandonos dos primeiros 15 dias de aula a situação automaticamente se regula. Em primeiro lugar, não podemos achar “normal” que o secretário conte com o abandono dos alunos para diminuir a quantidade de alunos por sala. Será que o secretário torce pelo fracasso escolar para que a demanda diminua? Além disso, por que o secretário não consegue explicar o motivo do fechamento de salas? Se negou a apresentar os dados, preferindo se defender com a vaga promessa de que não admitirá salas fora do módulo. Preferiu não ver as denúncias de salas superlotadas, principalmente na capital. Mais do que isso, é flagrante a aceitação de que se mantenha 40 alunos por sala. Essa quantidade que a princípio era um número limite, se converteu em regra para o secretário.

Herman quer melhorar a qualidade do ensino?

Não há dúvida que com a alta quantidade de alunos por sala, perde-se qualidade no ensino. Herman sabe disso e conscientemente o governo do estado aplica ações com objetivos deliberados para não melhorar a qualidade do ensino público. Não é preciso ser pedagogo para saber que para avançar na qualidade do ensino seria necessário uma diminuição de alunos por sala. Assim os professores poderiam acompanhar as necessidades específicas de cada turma ou aluno, seu desenvolvimento e aprendizagem, garantindo a compreensão dos conteúdos educacionais.

O que Herman pensa dos professores temporários?

O secretário afirma que efetivou 38 mil novos professores, reduzindo a quantidade de professores temporários. Contudo, os novos efetivos não entraram agora, mas sim ao decorrer de todo o ano passado. Mesmo assim, a quantidade de professores temporários nas escolas se mantiveram, já que o déficit de professores é estruturalmente alto. Esses professores que se empenharam para oferecer educação de qualidade para os alunos foram sumariamente demitidos no fim do ano passado. Estipula-se que no mínimo 21 mil professores ficaram desempregado nesse período, justamente uma preparação para o fechamento de salas para o ano letivo de 2015. Herman e o governo do PSDB deliberadamente contratam e demitem professores, assim não precisam firmar contratos que garantam aos professores seus direitos (férias, 13º salário, licença saúde e etc). O que Herman não diz sobre os professores efetivos é que são obrigados a ter jornadas extenuantes de trabalho para sustentar suas famílias(em alguns casos chegando as absurdas 65 horas semanais), enfrentar salas cheias, ter acesso a licença saúde negada. Ou seja, sua prática é precarizar o trabalho docente. Enquanto isso, milhares de professores temporários foram demitidos, e outros milhares aprovados no concurso ainda não foram efetivados.

Há corte de gastos na educação pública?

Em sua prestação de contas o governador Geraldo Alckmin já admitiu que novamente não haverá aumento salarial para os trabalhadores da educação. Se a inflação atinge 7%, e as tarifas não param de subir, certamente haverá uma diminuição direta na remuneração dos professores. Além disso, o governo já cortou a verba que era destinada para reformas estruturais no valor de 20 milhões de reais. No fim do ano passado centenas de escolas não tinham sequer papel higiênico fruto de um corte também implementado pelo governo. Os 21 mil professores que ficaram sem emprego também fazem parte desse cálculo. Enquanto isso, Alckmin aumenta seu salário para 21.631 mil reais, e o de Herman para 19.468 mil reais, sem contar os benefícios e regalias dessa gente. Aquela história: “vamos apertar os cintos, estamos em crise”, mas o banquete e a roubalheira deles continua.

Qual a melhor resposta dos professores ao secretário ?

Os professores não acreditaram nas palavras do secretário. As conversas em qualquer sala dos professores nesse retorno mostram isso. A insatisfação é clara. Não podemos desanimar. Será a força da luta dos professores, aliados com a comunidade escolar, que garantirá o futuro da educação pública. A melhor resposta que nós professores poderíamos dar é organizar uma grande mobilização, gritando em alto e bom som: “Herman, a culpa é sua, hoje a aula é na rua!”. Isso é o que nós do Professores pela Base – Movimento Nossa Classe estamos nos esforçando em fazer. Reforçamos a importância de todos estarem presentes na assembleia de nossa categoria no dia 13 de março para construirmos uma forte mobilização.

Em São Paulo convidamos a todos a se somarem ao ato que faremos no dia 24 de fevereiro, às 14 horas na praça da República. Em Campinas faremos no dia 12 de fevereiro, às 11 horas em frente à Diretoria de Ensino Oeste.

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