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Nacional

ELEIÇÕES

O que expressou o primeiro turno?

22 Oct 2010   |   comentários

O primeiro turno expressou uma tendência ao espectro político de centro na situação nacional, em conformidade com a situação política da América do Sul e o crescimento econômico, e sua concomitante expectativa de melhoras graduais nos salários e condições de vida. Se na América Latina um Santos (novo presidente da Colômbia) e um Piñera (presidente do Chile) tiveram que dar passos ao centro para não destoar tanto, reatar laços com a Venezuela, fazer-se menos ligado ao Pinochetismo, etc, Chávez e Morales crescentemente fazem governos mais “de centro”, chegando até a aceitar as bases norte-americanas na Colômbia (depois de gritos e lamúrios). O mesmo se expressou nas eleições nacionais, enquanto os extremos opositores à esquerda e à direita no parlamento foram limados (como HH e Luciana Genro por um lado e, por outro, Mão Santa e Artur Virgilio, entre outros). O contundente resultado de Aécio e seus aliados em Minas Gerais mostra um fortalecimento de uma ala tão privatista quanto Serra, mas menos anti-lulista no PSDB. Esta tendência mais ao “centro” do PSDB só não é maior pelas eleições a governadores das alas mais tradicionais de São Paulo e Paraná, além das possibilidades de Serra no segundo turno. Do lado do governismo, os resultados de um partido lulista mas não petista como o PSB (que conquistou importantes posições no Nordeste e Espírito Santo) e das alas mais à direita do governismo como o PR e o PP também expressam esta tendência.

Marina Silva com seu voto extremamente ambíguo, desde conseguir parte do voto de centro-esquerda de uma Heloísa Helena e Cristovam Buarque (PDT) a setores que defendem seu programa de duras reformas neoliberais, mais anti-petistas ou mesmo de seu voto anti-aborto, mas não necessariamente anti-lulistas, também aparecia, apesar de seu programa mais abertamente neoliberal, como de “centro”, nem tucana nem petista.
A esquerda com seu terrível resultado eleitoral, conseguiu eleger deputados e senadores das alas do PSOL mais conciliadoras com o PT. A ala “direita” interna de HH e Luciana Genro sofreu um importante revés sem eleger estas duas figuras, e este partido parlamentar sobrevive sem várias de suas principais figuras parlamentares, cada vez menos anti-capitalista e com uma força maior da ala mais “petista histórica”, a APS, da qual quase todos parlamentares são membros ou mantém relações. Este deslocamento no PSOL se expressa em um Chico Alencar, Ivan Valente e Marcelo Freixo, com seus discursos “propositivos” e “necessários”, sem um embate nem com o PSDB nem com o PT, principalmente no caso dos superbem-sucedidos fluminenses que em seus panfletos e mesmo em seu balanço pós-eleições falam da defesa do socialismo, da igualdade, consciência, etc, mas nem sequer mencionam Lula, Dilma, ou mesmo Serra. Só agora no segundo turno mencionam Dilma e Serra, para apoiar a primeira. A força do PSOL em alguns locais como o Rio de Janeiro, em outra situação da luta de classes, particularmente do funcionalismo lhe permite pensar não só sua sobrevida mas que avanços poderá ter, sem, no entanto, significar avanços programáticos, bem o contrário. O PSOL sobreviveu ao lulismo e à guinada ao centro do espectro político, como partido cada vez mais petista histórico, culminando agora em sua posição no segundo turno que chama voto nulo (uma concessão às pequenas correntes de esquerda) ou em Dilma (posição da ala que saiu vitoriosa dessa eleições).

Do ponto de vista dos parlamentares eleitos e da campanha a esquerda chega muito mal preparada para os cenários que se abrem. É preciso recuperar o tempo perdido e levantar a independência política dos trabalhadores, a confiança em suas forças e programa como alternativa necessária. O terrível resultado do PSTU[1] e do PCO expressam não só a força que teve o lulismo, Marina colher grande parte do voto de centro-esquerda e a força do PSOL face a estes partidos, mas ainda mais importante, como mesmo com pouco votos desperdiçou-se uma oportunidade para tratar as eleições como uma tribuna do programa dos trabalhadores e de suas lutas, a absoluta falta de ênfase na greve nacional bancária sem utilizar suas figuras bancárias históricas como Dirceu Travassos e Cyro Garcia são a expressão mais gráfica da oportunidade desperdiçada, por exemplo pelo PSTU, para a agitação classista nestas eleições. É preciso recuperar o tempo perdido e armar os trabalhadores para situações mais agudas.

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