Quinta 25 de Abril de 2024

Nacional

NENHUMA CRENÇA NO GOVERNO E NOS PORTA-VOZES DO CAPITALISMO

O pior ainda está por vir

13 May 2009   |   comentários

As previsões de queda do PIB em 2009 variam de -0,3% a 2%, significando uma queda vertiginosa no ritmo de crescimento dos últimos anos. Se aproveitando de um respiro conjuntural ’ exportações para a China, fluxo de capitais, queda das importações ’ no marco da recessão nos principais países do mundo, a economia brasileira deixa margem para ufanistas que pretendem tapar o sol com a peneira e vender a falsa idéia de que “o pior já passou” . Na verdade, essa operação não é inocente, pois os “de cima” (capitalistas e governantes) pretendem manter os “de baixo” (classe trabalhadora, classe média e povo pobre) passivos e “esperando” .

"De fato, a crise financeira brasileira acalmou, só que nós vamos sentir nos próximos meses os reflexos retardados sobre o nível de produção, de emprego e de renda da crise financeira ocorrida no mundo após a falência do Lehman Brothers", analisa José Luis Oreiro, professor de Economia da UnB, prognosticando que “o pior ainda está por vir” .
As medidas paliativas do governo Lula, como corte do Imposto sobre Produtos Industrializados para as fabricantes de automóveis e de eletrodomésticos, não foram suficientes para barrar a queda da produção industrial, que mesmo subindo 1,8% de janeiro para fevereiro (produto das medidas a favor das empresas) caiu 17% em relação ao mesmo mês de 2008. A crise económica mundial, desde novembro passado resultou na queda média de 13,9% da produção industrial, diante de um crescimento que já acumulava quase dois anos consecutivos. Nos primeiros meses de 2009 a produção industrial voltou ao nível de junho de 2004, período inicial do ciclo de crescimento. A última queda anual havia sido em 1999, de 7%!

Os capitalistas receberam bilhões em dinheiro efetivo, além de subsídios via isenções fiscais, contudo o quadro negativo da produção não foi superado. Os efeitos dos recordes de índices negativos da produção industrial tem se refletido de um lado na perda de mercado exportador ’ entre janeiro e fevereiro a exportação de produtos manufaturados caiu 34% em relação ao ano passado ’ e na retração da receita externa em volumes próximos a US$ 4,6 bilhões (70% do montante da queda das exportações), nos dois primeiros meses do ano. A brutal queda na produção industrial tem levado a economia nacional a se “reprimarizar” , isto é, fundamentar seu comércio internacional sob a venda de produtos básicos, primários, commodities. A comemoração governamental pela China ter ultrapassado os EUA como destino exportador esconde algumas verdades importantes. Se hoje a China responde por 13% das vendas externas do Brasil e os EUA ficam com 11,3%, um detalhe não pode esconder que o futuro não será brilhante. As vendas para a China foram essencialmente (78%) de produtos básicos ’ soja, minério, commodities ’, determinando uma tendência que se agrava ano a ano. Com essa tendência, agravada pelo fato de os países imperialistas centrais estarem em recessão e não demandarem produtos manufaturados brasileiros, a perspectiva aponta para quedas mais expressivas na produção industrial, deixando o país ainda mais vulnerável e dependente das exportações de produtos primários.

Para os trabalhadores e o povo pobre as consequências desse quadro serão sentidas na elevação dos índices de desemprego (que já está em 9% e pode superar os 13,% de 2004) e na queda da renda, agravando os efeitos sociais negativos de pobreza e desigualdade, visto que a indústria de transformação responde pela maioria dos empregos, enquanto os setores exportadores de commodities geram poucos empregos. Enquanto Lula apresenta planos mirabolantes e segue favorecendo a patronal, nenhuma medida efetiva propós para garantir os empregos e as condições de vida dos trabalhadores diante das sequelas da crise capitalista.

Caem os juros mas cresce a especulação, preparando crise mais profunda

A situação económica mostra diversas propostas de solução. Os grandes empresários pregam a redução dos juros como mola para impulsionar a produção, o crédito e o consumo, vendendo a expectativa de que assim se retomaria um ciclo de crescimento económico, a despeito da crise mundial. Esses curandeiros escondem a dependência do país diante do sistema financeiro ’ fluxo de capitais ’ e do mercado exportador.

O Brasil, por mais que o governo faça campanha, é um país endividado, dependente do mercado mundial. Com os dólares que entram via exportações uma parte dos compromissos de pagamentos do país pode ser cumprida. A maior parte precisa ser financiada atraindo divisas diretamente no mercado financeiro. A rolagem da dívida pública (R$ 1,4 trilhão, 70% do PIB) exige que o governo mantenha os títulos públicos rentáveis para os grandes capitalistas, mantendo a capacidade de administrar a dívida. Para que os títulos sejam atrativos o governo atrai o dinheiro estrangeiro com taxas de juros reais acima da média mundial.

No Brasil, os juros caíram, como pediam os empresários (junto com os burocratas sindicais e mesmo partidos ditos socialistas como o PSOL), nos últimos quatro meses de 13,75% para 10,25%, reduzindo as taxas reais (juros menos inflação) de 7,85% a 4,72%. Os EUA têm juros entre 0% e 0,25%; o Japão, 0,1% e a Europa, 1%. Como se vê, os ditos investidores estrangeiros brilham os olhos com a possibilidade de ganhos rápidos e altos, primeiro com o diferencial de juros, mas também comprando ações de empresas produtoras de commodities que estão podendo obter receitas no mar de recessão mundial e, principalmente, especulando diretamente contra a moeda nacional, apostando na valorização do Real.

Isso é o que explica a inundação de dólares das últimas semanas, com os estrangeiros voltando a especular com os juros (mesmo depois das quedas continuam rendendo muito) e as commodities. Esse movimento especulativo tem levado o dólar a recuar para níveis próximos a R$ 2,00 (chegou a estar em R$ 2,54), e as bolsas a elevarem seus negócios. Nos primeiros sete dias úteis de abril entraram no país US$ 287 milhões, enquanto em todo o mês de março foram US$ 62 milhões. No ano a captação desses recursos voláteis ’ entram e saem rapidamente, num movimento parasitário ’ já alcançou US$ 1,36 bilhão. Muitos capitalistas vendem títulos dos EUA (juros baixíssimos) para se lançar no mercado brasileiro e de outros países emergentes. A queda constante do dólar representa a aposta dos “investidores” na valorização do Real, como forma de garantir o máximo de rentabilidade diante da queda das taxas de juros.

O governo diminui os juros, mas os verdadeiros controladores da economia nacional (os monopólios e os rentistas estrangeiros e nativos) se lançam contra a moeda e a dependência de recuros estrangeiros para seguir saqueando o país para encher os bolsos dos parasitas capitalistas (ditos “credores” ou “investidores” ). Ao contrário da cantiga dos empresários, burocratas sindicais e esquerda conciliadora, a queda dos juros não reverte qualquer recurso “economizado” para a produção, muito menos para garantir empregos e renda. Tudo o que sai por um lado ’ exportações, redução dos juros, diminuição dos custos da dívida ’ entra em outro lado - o bolso dos parasitas, entre eles grandes empresas e bancos nacionais.

A prova de que a redução dos juros não significa um “programa” de “estímulo à produção e ao desenvolvimento” ou “valorização do trabalho e da renda” , como querem fazer crer os burocratas sindicais da CUT, Força Sindical, CTB e Cia., em coro com a Fiesp e Lula, pode-se verificar facilmente. Em 2007 o indicador de investimentos produtivos das empresas nacionais atingiu 9,2% do faturamenteo, recorde histórico, quando os juros estavam em 11,25% (dezembro). No 1º trimestre de 2008, caiu para 7,4%. Apesar da grande queda das taxas de juros nos últimos meses, a previsão para o ano indica que "Haverá apenas a expansão residual do ano passado e os investimentos serão interrompidos por um período longo", nas palavras de Flávio Castelo Branco, gerente-executivo de Política Económica da Confederação Nacional da Indústria (CNI) no jornal Valor Económico, em 6/04.

O que se pode comprovar é simples: reduz-se os juros, concede-se isenções de impostos e medidas de incentivo aos capitalistas e o investimento produtivo não cresce, mas quem cresce é o investimento especulativo ’ ganho rápido e parasitário, se “lixando” para os interesses dos trabalhadores, do povo pobre e do país. Esse movimento especulativo, que visa maximizar os lucros capitalistas às custas dos interesses nacionais e populares, se aprofundará quanto mais a economia nacional se mostrar vulnerável aos choques internos e externos e dependente de dinheiro estrangeiro e de exportações para financiar a dívida pública que tantos lucros gera aos detentores de títulos públicos. As contradições se acrescentarão, fazendo o país girar em mais e mais especulação, afundando-se na recessão e aprofundando a crise.

O capitalismo não apresenta saída progressiva: Lula age a favor dos patrões

Assim é o capitalismo dirigido por Lula, o petismo e a burocracia sindical em aliança com os grandes monopólios nacionais e estrangeiros. Os lucros precisam ser cada vez maiores, mas as bases económicas para a valorização do capital se retraem ’ baixa renda dos assalariados, produto da precarização e superexploração, deflação de preços, mercados exportadores restringidos pela recessão ’, e o resultado não pode indicar saída progressiva alguma, mesmo quando haja momentos de recuperação parcial.

Ao contrário da conciliação de interesses irreconciliáveis ’ lucros versus emprego, salário, direitos, moradia, reforma agrária etc. ’ que marca a estratégia petista-lulista-cutista e de seus aliados burocratas, a classe trabalhadora precisa avançar para uma completa independência política, programática e metodológica diante de todas as frações burguesas, sejam os patrões “produtivos” ou os “especuladores” , pois todos são uma e única mesma classe: os capitalistas exploradores.
O programa de independência de classe, como condição para selar uma verdadeira aliança dos trabalhadores com as camadas oprimidas e exploradas pelo capitalismo, exige romper as amarras com os monopólios nacionais e estrangeiros, colocando as finanças nacionais a serviço de garantir emprego, salário e direitos para a maioria que tudo produz e nada tem, acabando com a submissão ao sistema financeiro e ao imperialismo, deixando de pagar as dívidas interna e externa para reverter esse fortuna no sentido de solucionar as mazelas sociais desse sistema explorador, colocando toda a economia e os interesses nacionais nas mãos da única classe capaz de preparar um futuro digno impedindo que a brutal crise capitalista mundial nos lance numa catástrofe social nunca vista.

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