Sexta 19 de Abril de 2024

Nacional

O país do questionamento

14 Feb 2015   |   comentários

Segundo pesquisa realizada, no Brasil de hoje há uma acentuada queda na confiança da população em relação às instituições do regime político.

Segundo pesquisa realizada, no Brasil de hoje há uma acentuada queda na confiança da população em relação às instituições do regime político, principalmente nos "partidos políticos". Cerca de 71% dos brasileiros dizem não ter preferência por nenhum partido político. Mesmo a falsa ideia de um país dividido entre Sul e Sudeste (PSDB) e Nordeste e Norte (PT) está indo água abaixo. As pesquisas apontam que no nordeste a confiança no PT caiu, das eleições até hoje, de 53% para 29%. No Norte foi de 51% para míseros 34% (e esse é o local de maior apoio do PT no país).

Isso ocorre em um momento em que as lutas operárias e de juventude são ainda localizadas, diferente de Junho de 2013, quando esse mesmo processo vinha acompanhado de uma movimentação social massiva. Então muitos ficam confusos e não entendam a razão desta crescente crise de representatividade.

Acontece que, ao mesmo tempo que ocorre esta crise nos partidos políticos aparece outra recente pesquisa mostrando esta tendência de crescimento da "crise de representatividade" acompanhada do crescimento da crise de confiança nas instituições econômicas, do governo, mas também aumento da desconfiança geral na indústria, no ambiente de negócios e nos dirigentes empresariais. A conclusão desta pesquisa mostra um Brasil (assim como a maioria dos BRIC’s) como um país ainda "desacreditado" politica e, de forma crescente, agora também economicamente.

Na realidade, esta difícil relação entre pesquisas expressa coisas simples: o governo lança um pacote de ajustes, que ataca direitos de importantes parcelas da classe trabalhadora; a indústria demite; o crédito que foi fácil está aprisionando os trabalhadores às instituições financeiras (que são as mais desacreditadas), inclusive com aumento de 1,5% para 3% do imposto sobre operações financeiras; a previsão é de crescimento da inflação para 7,15%, o que já se sente enormemente no orçamento de todas as famílias trabalhadoras; por fim, estes fatos fazem crescer a percepção própria dos trabalhadores brasileiros de que seguem tendo como perspectivas vidas muito difíceis. E com isso a representatividade política é fortemente impactada, principalmente do partido que esteve a frente do governo no último período, o PT, mas não só, pois por exemplo a confiança no PSDB é ainda menor em praticamente todo o país.

Agora, ainda mais do que em Junho de 2013, primeiro porque foi Junho que desencadeou este processo, mas se soma a este movimento o diferencial deste momento de maior ceticismo na melhoria das condições de vida, alimentado por maiores dificuldades econômicas.

Além disso, os escândalos mostram a ligação entre os políticos e seus partidos a grandes empresas, executivos e funcionários de altos escalões (públicos e privados), que agem como "operadores" dos esquemas de corrupção.

A desconfiança com tudo que está sustentando a atual situação precária de vida fica ainda maior. A pergunta "para quem governam?" pode atingir também os que mais ganham com a corrupção e escândalos: os empresários. O descontentamento com o governo pode começar inundar os locais de trabalho. A política pode ir para o dia a dia da classe trabalhadora, que pode ver a ligação entre seu patrão e seus governos. Que pode assim questionar os dois como "um só".

Poderia um "novo Junho" envolver amplos setores da população trabalhadora e colocar assim "água no moinho" do que este crescente questionamento pode arrastar consigo: a reivindicação de um "governo barato", livre dos privilégios desta forma degradada de democracia?

Por exemplo, para que todos os parlamentares ganhem o mesmo que uma professora da rede, e para que possamos mudá-los sempre que necessário.

Sendo ao mesmo tempo um exemplo de que o questionamento desta democracia para os ricos pode se transformar, na experiência da luta, em uma democracia construída nos locais de trabalho, estudo e nos bairros, através da participação direta da população trabalhadora e da juventude.

Uma resposta dos trabalhadores, como esta, é decisiva para se pensar a raiz dos problemas.

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