Quinta 18 de Abril de 2024

Nacional

O fenômeno Heloísa Helena

10 Aug 2006   |   comentários

Com mais de 10% das intenções voto, Heloísa Helena está se colocando como a terceira candidata “real” na disputa pela presidência da república. Não tem chances de ganhar, porém é significativo que num estado tão importante como o Rio de Janeiro esteja acima do candidato tucano nas pesquisas de intenção de voto.

Ela ganhou destaque quando rompeu com PT pela aplicação em 2003 da reforma da previdência e com o papel que cumpriu na CPI do mensalão ano passado. Surgiu como a grande figura publica que expressa “a esquerda que não se vendeu” e se apresenta nos quatro cantos do país como “socialista de carteirinha” . Por isso é extramente significativo que tenha uma alta porcentagem de intenções de votos. Porém, os trabalhadores conscientes devem olhar criticamente para sua candidatura e para política que levanta, pois não correspondem às necessidades do movimento operário e não rompe politicamente com a tradição petista de conciliação com a burguesia.

O que expressa HH

A candidatura de Heloísa Helena é expressão de um processo ainda inicial no qual um setor de massas no país, frente à decepção com o governo Lula e o PT, procura uma alternativa à esquerda.

Setores importantes da classe média, especialmente aqueles mais ligados a intelectualidade, que passaram à oposição ao governo Lula depois do escândalo no mensalão, não estão dispostos a votar novamente no PSDB. Isso é uma mostra da instabilidade da situação política no país, pois se esse fenómeno se aprofunda ’ do PSDB ser incapaz de capitalizar a insatisfação da classe média que se decepciona com o PT ’ pode significar um verdadeiro terremoto político para as classes dominantes.

No movimento operário, que ainda vai votar majoritariamente em Lula, uma vanguarda minoritária vai votar em Heloísa Helena expressando insatisfação com o governo Lula e o PT. Insatisfação que se expressa também no terreno sindical com as votações expressivas que as chapas da Conlutas têm recebido em importantes sindicatos.

Todo este processo é apenas inicial, mas expressa uma tendência da realidade extremamente progressiva. Todos aqueles que se reivindicam revolucionários devem saber se aproximar dos trabalhadores e estudantes que vão votar em Heloísa Helena, não para se adaptar a sua atual consciência, mas para contribuir para a formação de uma fração verdadeiramente classista frente ao desbarranque do PT. Essa é a chave para que possamos enfrentar os ataques que vão estar colocados no próximo governo, como as reformas trabalhista e sindical.

Uma estratégia contrária aos interesses dos trabalhadores

Apesar de expressar um fenómeno extremamente progressivo, seu programa e sua política não são uma real alternativa para os trabalhadores, pois repetem os piores aspectos do petismo. Ela não se cansa de repetir que “o socialismo é a mais bela declaração de amor à humanidade” . Aparentemente de esquerda, essa frase esconde sua verdadeira posição política. O socialismo não é apenas uma “declaração de amor à humanidade” . Pelo contrário, o socialismo é um objetivo a ser alcançado pela luta dos trabalhadores e pressupõe um programa e uma estratégia de independência de classe que deve ser aplicada aqui e agora, com toda a flexibilidade tática necessária.

Ao transformar o socialismo de tarefa concreta em uma “declaração de amor” , Heloísa Helena não supera em nada a política histórica do PT. Assim como Lula, HH coloca o eixo de sua estratégia na luta contra a política económica e na redução das taxas de juros. Isso significa defender uma política de desenvolvimento económico e superação da miséria nos marcos do capitalismo. Por isso não é a toa que ela afirmou no debate da Bandeirantes que somente o capital financeiro deveria temer um governo seu e que os empresários, trabalhadores e camponeses serão favorecidos. Porém, não é possível favorecer ao mesmo tempo operários, camponeses e empresários “produtivos” .

A política de Heloísa Helena frente às demissões da Volks, da GM e da Varig demonstra isso. [Uma campanha minimamente de esquerda deveria ter a luta contra esta onda de demissões como um de seus eixos centrais. Que país “justo, igualitário e fraterno” é este que HH defende ao mesmo tempo em que se cala frente a milhares de famílias que perdem seus empregos.] E HH simplesmente se cala sobre as demissões. Claro, como alguém pode prometer favorecer os empresários do setor produtivo e ao mesmo tempo organizar os trabalhadores para lutar contra as demissões? Impossível. Sua entrevista na Globo vai no mesmo sentido. Promete que vai fazer a reforma agrária sem sair dos marcos da constituição de 88. Uma constituição que oferece todas as garantias para os grandes empresários da terra, que são, entre outros, os mesmos bancos que ela quer combater.

Heloísa Helena deve impulsionar uma campanha nacional contra as demissões

Sua enorme influencia eleitoral poderia se converter em força ativa se ela colocasse todas as suas energias para organizar os trabalhadores. Não basta denunciar Lula e Alckmin e a política dos bancos. È necessário combater, com os métodos da luta de classes, as conseqüências da política que ela denuncia.

Heloísa Helena deveria colocar o pouco tempo na televisão que ela dispõe não para ficar defendendo a redução das taxas de juros. Deveria convocar uma ampla mobilização em defesa dos trabalhadores demitidos e fazer um chamado para que aqueles que vão votar nela participassem ativamente dos comitês da Frente de Esquerda. Esses comitês deveriam colocar no centro da sua agitação a luta para barrar as demissões, para barrar a privatização do metro de São Paulo e para lutar pelas demandas dos trabalhadores de todo o país.

Uma iniciativa deste tipo significaria um poderoso impulso à luta dos trabalhadores e estaria preparando o terreno para batalhas superiores no possível próximo mandato de Lula. Ao não atuar assim, Heloísa Helena e a Frente de Esquerda estão deixando os trabalhadores das montadoras e da Varig serem derrotados isoladamente, o que vai abrir o caminho para ataques ainda mais duros num futuro não muito distante.

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