Sábado 20 de Abril de 2024

Nacional

DEBATE COM A ESQUERDA

O eleitoralismo da esquerda e sua miséria de estratégia

09 Jul 2010   |   comentários

O CONCLAT explodiu em torno de seu nome. Nenhum dos dois lados principais desejou que este processo de unificação se desse em torno da intervenção comum na luta de classes e do debate de programa e qual estratégia adotar, resultando em uma derrota não só desta unificação de aparatos mas da possibilidade de unificar e armar os setores anti-governistas frente à situação (pra um balanço completo ver em www.ler-qi.org).

Esta mesma falta de preocupação com o programa e a luta de classes veio se repetir na formação das candidaturas para as eleições de 2010. Enquanto o PSOL dividia-se em torno de setores que estavam mais abertos a Marina Silva do PV e outros mais “resistentes” a esta guinada à direita, o PSTU desde final do ano passado dialogava com ambos insistindo que a candidatura deveria ser a de Heloísa Helena, expoente do apoio ao “neo-liberalismo ecológico” de Marina. Porque insistia na alagoana? Porque ela atrai mais votos. Frente à insistência de alas importantes do PSOL no diálogo com o PV e a posterior decisão de adotar um candidato que não chama tantos votos, Plínio de Arruda Sampaio, o PSTU saiu separado.

O PSOL, com suas alas críticas ao recebimento de dinheiro de multinacionais como a Gerdau e a armamentista Taurus, faz um discurso anticapitalista abstrato, ao mesmo tempo em que implementa uma estratégia de conciliação de classes com setores burgueses descontentes com o status quo neoliberal; e nos estados onde têm mais força, como o Rio Grande do Sul e Alagoas, o caminho segue livre para Heloísa Helena e o MES de Luciana Genro ligarem-se à burguesia. O PCB havia insistido que não formaria frente de esquerda, entre outros motivos porque os mandatos conquistados não eram patrimônio da frente, e sim do partido vencedor. Porém, na hora H das negociações com o PSOL seu ponto final foi bem distinto, foi o tempo de TV [1] .

Programa eleitoral e luta de classes

O PSOL preparou-se estrategicamente para ocupar um espaço eleitoral à esquerda do PT, nas instâncias do regime democrático burguês. Este partido é uma frente eleitoral de tendências, oposto às necessidades da classe trabalhadora, como demonstra sua votação do Supersimples, que significou ataques a mais de metade os trabalhadores no país. Seus “mandatos” passam longe de colocar-se a serviço da vitória dos processos de luta, salvo tímidos apoios em busca de votos nas suas bases eleitorais. Esta prática comum de suas tendências coroa-se no Rio Grande do Sul onde Pedro Ruas (MES), que concorre a governador colocando-se contra a “radicalização” do MST, como fazem vários setores burgueses; e não há discursos de Plínio pelo limite da propriedade agrária que mudem isto. O próprio Plínio que tenta se postar como uma retomada à esquerda do PSOL não tem em nenhum dos 25 pontos do programa uma linha sequer sobre salário, explicitando a distância não só militante, mas programática de seu partido em relação a classe trabalhadora.

O PSTU crítica corretamente o PSOL por estes arroubos “pragmáticos” e argumenta que nas eleições abrirá espaços para os setores em luta. Isso seria um grande avanço. Entretanto, até o momento, tal como o PSOL, o PSTU não colocou suas forças (nos seu caso no movimento estudantil e sindical) a serviço de colaborar para a vitória dos processos de luta como os da USP, UNESP e dos judiciários. O pré-programa levantado por este partido retoma várias reivindicações históricas da classe trabalhadora tais como o não pagamento da dívida pública, estatização sobre controle dos trabalhadores das empresas multinacionais, e reestatização sob controle dos trabalhadores da empresas privatizadas. No entanto, no mesmo programa, incorrem em uma política equivocada e pró-burguesa ao colocarem a agitação “redução dos juros”. Desta agitação a um programa da esquerda petista de “desenvolvimento nacional” e “mudança da política econômica” há poucos passos, abrindo espaço para a compreensão de que um “crescimento nacional” em chave burguesa poderia ser favorável à classe trabalhadora.

A política de “segurança” levantada pelo PSTU também é um grave erro, como já criticamos repetidas vezes. O PSOL defende diretamente reformar as polícias existentes. Já o PSTU propõe dissolver as polícias atuais e formar uma nova, civil, que tenha “seus chefes eleitos e controlados pela população nos bairros onde atua” (ponto 12 das ‘16 bases programáticas para a pré-candidatura’). É uma proposta de criar os xerifes dos EUA mais algum tipo de revogabilidade (eleitoral?). Como poderia uma população desarmada controlar uma força armada?

Táticas para tudo menos para a classe trabalhadora avançar no classismo

A questão do classismo, da unidade das fileiras dos trabalhadores entre efetivos e terceirizados, é uma questão crucial para que a classe trabalhadora reúna o conjunto de suas forças para enfrentar os patrões e os governos, e, infelizmente é das últimas preocupações da esquerda. Tal como a social-democracia de antes da primeira guerra mundial que tinha tática para tudo menos a tomada do poder, a esquerda nacional tem tática para tudo menos avançar no classismo. Isto é de se esperar do PSOL. Mas o PSTU declara-se favorável a uma transformação revolucionária da realidade nacional e internacional e a construção de um partido revolucionário para tal, não poderia tratar essa questão estratégica como secundária, sob pena de adaptar-se ao corporativismo dos setores mais organizados da classe trabalhadora.

O PSTU tem tática até para como dialogar com a Copa do Mundo, “Torça e Lute pela Soberania com o PSTU”. Mas não tem um esforço consciente para construir alas revolucionárias nas fábricas do ABC paulista, bastião estratégico da classe trabalhadora brasileira, sem o qual é impensável um processo revolucionário neste país, nunca impulsionou uma campanha nacional pela incorporação dos terceirizados às empresas em que trabalham como programa que unifique as fileiras dos trabalhadores.

Eleições 2010: pouco espaço para um programa classista

Nas eleições de 2010 marcadas pela polarização Serra e Dilma há pouco espaço para que a classe trabalhadora apareça como tal e com seu programa. Isto é responsabilidade também da esquerda. Começando pelo PSOL e seu programa de aliança com setores burgueses descontentes com o neoliberalismo, passando pelo PCB e seu apoio a praticamente todos governos sul-americanos onde a independência política é das últimas preocupações, ao sectarismo impotente de um PCO que contenta-se em 20 anos de existência própria com não se sabe bem o quê (dirigir o Sindicato dos Frios de SP e esta categoria nunca ter feito uma greve exemplar?) e por adaptar-se ao maoísmo, ao PSTU que por mais que tenha um maior dinamismo na vanguarda e declarações classistas e socialistas está por ver-se sua efetiva concretização da abertura de suas candidaturas ao setores em luta. Por hora o que realizou foi a exclusão de lutadores da LER-QI da filiação democrática no mesmo partido. Chamamos este partido a rever pontos como “segurança” e “redução dos juros” e a mudar a absurda orientação de excluir a LER-QI da filiação democrática neste partido. Apoiaremos todas candidaturas que sejam passos concretos para a independência política da classe trabalhadora.

 EXCLUSÃO DA FILIAÇÃO DEMOCRÁTICA DA LER-QI: O PSTU CUMPRINDO O PAPEL DO TSE

[1“O nosso Comitê Central havia estabelecido como proposta para abrirmos mão da candidatura própria a Presidente o direito de o PCB ter 6 programas (um terço) e o PSOL os outros 14. No entanto, nossos interlocutores mantiveram a proposta de 16 para o PSOL e 4 para o PCB.” (“Inviabilizada a aliança eleitoral PCB/PSOL”, em seu sítio web).

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