Terça 16 de Abril de 2024

Movimento Operário

GREVE DA USP

O “diálogo do porrete” de Zago e do Conselho Universitário

06 Aug 2014   |   comentários

Quando estava em campanha, Zago não cansava de afirmar que seria o reitor do diálogo. Nós da LER-QI, desde então, não cansávamos de dizer que não há diálogo com alguém que dirige a universidade mais elitista e racista do país, apoiado em uma estrutura de poder completamente antidemocrática como a que existe hoje. Contudo, Zago levou adiante sua demagogia e foi eleito pelo “novo” colegiado eleitoral da USP, que acabou com o segundo turno restrito apenas (...)

Quando estava em campanha, Zago não cansava de afirmar que seria o reitor do diálogo. Nós da LER-QI, desde então, não cansávamos de dizer que não há diálogo com alguém que dirige a universidade mais elitista e racista do país, apoiado em uma estrutura de poder completamente antidemocrática como a que existe hoje. Contudo, Zago levou adiante sua demagogia e foi eleito pelo “novo” colegiado eleitoral da USP, que acabou com o segundo turno restrito apenas ao Conselho Universitário (CO), no qual estão apenas os diretores de unidades, professores titulares ligados às fundações de direito privado, às empresas terceirizadas, e uma representação absolutamente insignificante de estudantes, trabalhadores e professores não titulares. Agora, a eleição se faz pelas congregações, onde a composição não é muito diferente daquela do CO, mas apenas reúne um número maior de burocratas acadêmicos espalhados nas unidades de ensino.

Zago disse em sua campanha que o problema da USP não era orçamentário, era político. Mas, poucos meses depois, começou seu plano de austeridade orçamentária afirmando que antes “não sabia” qual era a condição financeira da USP (ainda que quase todo seu gabinete já estivesse na gestão anterior e tivesse pleno conhecimento da situação financeira da universidade). Foram cortes de centenas de bolsas para estudantes, demissões de trabalhadores terceirizados, congelamento de contratações em todos os níveis e o arrocho salarial com o 0% de reajuste para professores e funcionários técnico-administrativos.

Os três setores se unificaram para combater os ataques que não são apenas de Zago, mas também do CO e do governo do estado. As três universidades estaduais se unificaram numa fortíssima greve que já dura mais de 70 dias. Foi então que o que restava da farsa do “diálogo” de Zago desmoronou completamente: O CRUESP (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas) se recusou durante toda a duração da greve a sequer sentar para negociar as pautas da greve. Mostrando as fissuras existentes na própria burocracia acadêmica, o reitor da Unicamp veio a público dizer que concordava em dar o aumento, mas que Zago não permitia que o CRUESP concedesse o reajuste.

Zago continuou tentando enganar, de forma cada vez mais descarada: durante a greve mandou e-mails para estudantes e trabalhadores utilizando os e-mails institucionais da USP; gravou um vídeo em que tenta convencer a todos que “não tem dinheiro” para atender as reivindicações, mas, frente à exigência de que se abra o orçamento da USP a todos, apenas repetiu promessas vazias e nada fez de concreto.
Nem pode fazer: a USP hoje é gerida por interesses de empresas privadas, e seu orçamento de mais de R$ 4 bilhões não se pauta em garantir uma universidade de fato pública, gratuita e democrática em seu acesso, produção de conhecimento e estrutura de poder. Pelo contrário: quem lucra com ela são as empresas terceirizadas que submetem seus trabalhadores às piores condições de trabalho; mesmo as mais tímidas medidas de democratização do acesso, como o reduzido projeto de cotas do governo do PT, são implementados em uma universidade tão elitista. Projetos de pesquisa são direcionados de acordo com o interesse de empresas privadas, como o laboratório de doenças tropicais que há alguns anos foi fechado em detrimento de um laboratório de pesquisa de cosméticos. Abrir o orçamento da USP significaria expor a todos a podridão desses interesses que regem o orçamento da universidade, e mostrar que a culpa da crise não é de trabalhadores e estudantes, mas desses que hoje aplicam os cortes de gastos.

O estado de calamidade em que se encontra o Hospital Universitário hoje é um dos sinais mais evidentes do quanto os que governam a USP não tem nenhum interesse em garantir que essa universidade esteja voltada aos interesses dos trabalhadores e do povo pobre. Enquanto isso, os trabalhadores da USP lutam para que sejam contratadas enfermeiras para garantir os exames de Papa Nicolau às 800 mulheres que aguardam na fila; fazem um ato em que mais de 100 trabalhadores doam seu sangue ao SUS; vão às ruas da São Remo colocar as pautas dos trabalhadores terceirizados; enfim, lutam por uma universidade a serviço de quem a sustenta e hoje é privado de usá-la em nome dos interesses dos ricos e dos parasitas.

Zago continua oferecendo aos que trabalham e estudam na universidade, bem como aos que são privados de estudar nela pelo filtro social do vestibular, o principal ingrediente de sua campanha eleitoral para a reitoria: mentiras, demagogias, enrolação. Só que agora, “apimentou” os ingredientes: como os três setores, em particular os trabalhadores da USP que seguiram firmas na luta durante a Copa e o período de férias das aulas, não caíram no seu discurso mentiroso, o reitor resolveu ir pra cima com tudo. Colocou a polícia militar dentro da USP, como seus antecessores João Grandino Rodas e Suely Vilela, para reprimir os piquetes de trabalhadores; cortou o ponto dos trabalhadores em greve e ameaça cortar também o dos professores. Esse é o diálogo não apenas de Zago, mas da estrutura de poder que ele representa: seja Zago, Suely, Rodas ou qualquer outro, esse é o único tipo de “diálogo” que essa estrutura de poder atual da USP pode oferecer, pois para implementar até o fim o projeto de universidade da burguesia a que essa estrutura serve, é necessário acabar com qualquer tipo de resistência entre estudantes, trabalhadores e professores. E são apenas esses, unidos aos trabalhadores de fora da universidade, que podem levantar um projeto distinto de universidade, a serviço dos trabalhadores e do povo pobre, baseado em um governo democrático composto por professores, funcionários e a maioria estudantil.

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