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O aumento do desemprego: outro pilar da crise na economia

21 Feb 2015   |   comentários

Os baixos índices de desemprego foram nos últimos anos um pilar fundamental de sustentação dos governos presidenciais petistas. No entanto, os indicadores recentes dos setores que mais empregam no país apontam que esta situação não poderá seguir como antes por muito tempo.

Os baixos índices de desemprego foram nos últimos anos um pilar fundamental de sustentação dos governos presidenciais petistas. Estes indicativos influenciaram na popularidade e na estabilidade política e social dos anos de governos Lula, que pôde surfar em um momento com condições econômicas internacionalmente favoráveis ao Brasil. Com Dilma, os índices de desemprego baixos talvez tenham sido decisivos nos resultados das disputadas eleições presidenciais de 2014, garantindo mais um mandato do PT em um momento de maiores contradições internacionais e nacionais, aprofundadas desde Junho de 2013.

Neste contexto, segundo IBGE cerca de 170 mil pessoas deixaram de buscar emprego em 2014, e é possível dizer que isso tem a ver com os últimos anos de estabilidade no emprego, que significam aos trabalhadores acesso ao crédito barato, consumo e algumas melhoras na vida, como a possibilidade de ter acesso às universidades. Acontece em muitas famílias trabalhadoras: todos os indivíduos “dão duro” para que um dos membros tenha a oportunidade de não trabalhar, estudar e fazer faculdade. Além disso, houve um aumento na renda do trabalho que vai neste sentido também. Por isso, mesmo tendo ocorrido uma diminuição da oferta de empregos em 2014 o índice de desemprego caiu também; ou seja, tinha menos gente procurando e quem não está procurando não é considerado desempregado pelas pesquisas.

No entanto, os indicadores recentes dos setores que mais empregam no país apontam que esta situação não poderá seguir como antes por muito tempo. Inclusive porque a elevação da inflação e mais dificuldades no crédito tendem a diminuir o rendimento do salário e retrair vagas de emprego em setores que até então vinham crescendo ininterruptamente.

Na verdade, para além dos indicadores está tendência já é uma realidade na vida de milhares de trabalhadores e suas famílias em todo o país. Só em 2014, mais de 184,9 mil trabalhadores da indústria foram demitidos. Em 2015 a previsão deste setor é de corte de mais 75,5 mil posto de trabalho - ainda que esta tendência não seja generalizada, pois setores como fármacos e eletrônicos ainda seguem contratando. Na construção civil foram 143,5 mil em 2014 e a previsão para 2015 é de 90,8 mil vagas a menos. Outros setores que empregam muito e que tendem a demitir forte em 2015 são o comércio e os serviços.

Destes, o setor de serviços merece destaque, pois representam a maior parcela dos novos empregos gerados nos governos petistas. São empregos que concentram também uma porção enorme de trabalhadores jovens e mulheres. Em grande parte estas vagas são terceirizadas e com alto índice de rotatividade no emprego. Estes trabalhadores e estas trabalhadoras vivem anualmente saltando de empresa em empresa, ou sendo todo ano "recontratados" pela mesma empresa, para que não tenham direito a férias, para não terem direitos trabalhistas plenos ("período de experiência") ou até mesmo para não criarem vínculos sociais profundos com seus companheiros no trabalho, desencorajando assim as experiências de organização e luta. O que ocorre de forma combinada inclusive às empresas públicas, como nos Correios, com os professores da rede pública, na Petrobras, com os terceirizados e por aí vai.

Mudança expressa marca da crise de governo petista

Fato é que até agora não passava pela cabeça de muitos trabalhadores, de todos os setores acima citados, as perguntas "e se não me recontratarem esse ano?", "e se a outra empresa não chamar mais?". As situações econômicas permitiam que pensassem assim. Por isso, agora por outro lado um possível aumento do desemprego em 2015, ainda que seja algo próximo a 7,1% ou 7,3% na melhor das hipóteses, será (e já é muito!) sentido pela população. Ainda mais agora que muita gente não vai mais conseguir seguro desemprego.

Certamente seria esse mais um impacto na crise do governo de Dilma e no aprofundamento da "crise de representatividade" política, com rechaço a todos os partidos que estão no poder.

Após "Junho", as greves dos Garis do RJ, dos trabalhadores da USP, e agora, em solidariedade ativa à greve dos professores do Paraná e da GM em São José dos Campos, podemos dizer que a resposta à esta crise de governo só pode vir "por baixo", pela organização e união dos que, se não lutarem, vão "pagar o pato": toda a classe trabalhadora.

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