Quinta 25 de Abril de 2024

Nacional

O PSTU... na encruzilhada

05 Mar 2003   |   comentários

O último jornal do PSTU (nº 145), no artigo “A CUT na encruzilhada” , define que “a Central [CUT] terá de escolher: ou defenderá os interesses imediatos e históricos dos trabalhadores ou se tornará chapa branca do governo, uma central oficialista, que apoiará as reformas neoliberais e os planos do FMI” . Nesse artigo, a direção do PSTU chega ao ponto de escrever que “nossa central, na sua fundação, teve uma trajetória de independência de classe, apoio à ação direta e construção de mobilizações pela base contra todos os planos económicos do imperialismo que tentaram implementar no Brasil” . Se essa afirmação fosse verdadeira, como explicaríamos as diversas traições, pactos e tréguas da Articulação, direção majoritária da CUT? Se a Articulação foi capaz de “uma trajetória de independência de classe” , então, teríamos que classificá-la como uma direção revolucionária e não reformista.

A direção do PSTU, corretamente, afirma que para aplicar as reformas da previdência, trabalhista e as demais “Lula necessita de um movimento sindical dócil e obediente, que defenda esse projeto que segue as ordens do imperialismo, ainda mais na maior central sindical de nosso país” , indicando que a direção da CUT tem como estratégia converter-se na “central oficial” do governo Lula-Alencar para enganar os trabalhadores para que aceitem e apóiem as reformas (que são as mesmas propostas por FHC) “neoliberais” que “ainda faltam” . Para isso, o PT e o governo têm atuado diretamente para que o próximo congresso da CUT (em junho) defina como presidente o metalúrgico Luís Marinho, atual presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e dirigente da Articulação, com o objetivo de contar com um operário metalúrgico com autoridade de presidente da CUT para defender as reformas que atacarão os trabalhadores e funcionários públicos para defender os interesses dos monopólios capitalistas nacionais e estrangeiros. Logicamente, o artigo do PSTU conclui que “João Felício [atual presidente da CUT, professor público em São Paulo], por mais governista que seja, não é o nome ideal. Ninguém melhor do que Luís Marinho, conhecido pela aplicação do banco de horas nas fábricas do ABC e pelo acordo que rebaixou salários na Volks” .

Mesmo tendo constatado a verdade cristalina de que Luís Marinho é, há anos, responsável por pactos e acordos contrários aos trabalhadores, a direção do PSTU dirige sua crítica contra a direção da CUT por esta não ter feito um “extenso debate” , para depois definir o candidato a presidente da central, como se a Articulação pudesse ser “convencida” por “amplos debates” sobre a situação política nacional e fosse “indepen-dente” do governo e do partido do governo, PT, e não estivesse diretamente envolvida na estratégia conciliadora do governo Lula-Alencar. Essa contradição da direção do PSTU deve-se ao fato de realmente acreditar que a estratégia da CUT foi, algum dia, de “independência de classe” , “classista” e “combativa” . Para defender essa aberração como se fosse uma verdade, a direção do PSTU se vê obrigada a fazer um fantástico exercício de abstração: consegue “separar” a “estratégia da CUT” da “estratégia da direção da CUT” , como se a central fosse um “ente abstrato” e não uma instituição pela qual se expressam as estratégias das diversas correntes políticas, tendo a maioria (Articulação, desde a fundação da central), obviamente, a primazia de impor a sua estratégia, independente de movimentos táticos circunstanciais.

Essa abstração é o que permite à direção do PSTU finalizar o artigo e “acreditar” , depois de todas as traições da Articulação e sua estratégia de conciliação de classe (não de “independência de classe” ), que “a CUT não poderá fugir à responsabilidade na condução da luta sem trégua contra os planos do imperialismo e contra a exploração do capital que massacra os trabalhadores e o povo pobre de nosso país. Para isso, terá então que se enfrentar com as políticas económicas defendidas e implementadas pelo governo Lula. Esta será a maior prova que a nossa central já enfrentou: ou mantém suas bandeiras tradicionais, das reivindicações dos trabalhadores que representa, ou se transformará numa central governista, chapa branca, incapaz de organizar a luta em defesa dos interesses imediatos e históricos de nossa classe” .

Essas contradições do artigo, esse vai-e-vem da direção do PSTU, só se explicam pelo alto grau de capitulação desse partido às correntes reformistas, acreditando e fazendo acreditar que os reformistas (agentes da burguesia e do imperialismo) podem “lutar contra a exploração do capital e o imperialismo” . Se isso fosse verdadeiro, então para que os trabalhadores necessi-tariam dos “revolucionários” , que apenas devem ter exatamente esta estratégia?

Se a direção do PSTU realmente pensa isso sobre a Articulação, não devemos estranhar que realce a “combatividade” das correntes da esquerda do PT para justificar sua tática de construir um “bloco de esquerda contra a política governista” , isto é, contra a política do governo Lula-Alencar, o mesmo governo que a esquerda do PT ajudou a eleger e, inclusive, mantém cargos e Ministérios. Por exemplo, como pode a direção do PSTU fazer crer que a DS ’ Democracia Socialista ’, corrente do PT que tem no governo nada menos que o ministro do Desenvolvimento Agrário (o mesmo que “avisou” o MST de que “vai fazer cumprir a lei” contra as ocupações de terra), seja capaz de “unir a esquerda da CUT para manter a central como uma entidade classista, de luta, democrática e socialista” , ou seja, uma central revolucionária, como diriam os marxistas revolucionários? Afinal, se essas correntes da esquerda do PT têm como estratégia uma “entidade classista, de luta, democrática e socialista” , então, como se explica a total submissão dessas correntes à direção majoritária do PT (Articulação, como na CUT) e a completa “dependência” do governo, mantendo cargos tão impor-tantes?

De fato, quem está na encruzilhada é a própria direção do PSTU, pois não consegue definir qual caminho deve seguir: ou rompe com o reformismo e avança para uma estratégia revolucionária, independente, que só pode existir com base no combate frontal à estratégia reformista para fazer com que os trabalhadores e a vanguarda percam as ilusões que ainda mantêm com o reformismo, e também nos centristas que “apóiam” os reformistas; ou continua capitulando, “criticando” e “votando” na Articulação e no PT (Lula é da Articulação!), enquanto esta corrente “dirige” os trabalhadores (e suas “entidades” , como a CUT) com a estratégia da conciliação de classes em defesa da propriedade privada e do sistema capitalista-imperialista.

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