Sábado 20 de Abril de 2024

Movimento Operário

O PSTU e a corrente O Trabalho na Flakepet: Duas estratégias contra a unidade dos trabalhadores

12 May 2004   |   comentários

O PSTU E A VELHA ESTRATÉGIA SINDICALISTA

A política do PSTU, através da sua atuação no Sindicato dos Químicos nunca foi a luta para garantir a ocupação de fábrica, a produção sob controle operário e a unidade dos trabalhadores.

Diversas fábricas químicas, pequenas, estão ameaçando demissões ou fechando, deixando os trabalhadores sem qualquer direito, e sem emprego. Contra essa situação, o PSTU atua no sindicato propondo negociar com os patrões o número de demissões e em quantas parcelas se pode receber os direitos e, se não houver acordos, processos na justiça. Ocupar fábrica, produzir sem patrão, isso não passa pela cabeça do PSTU, que continua aplicando a velha estratégia sindicalista ’ de pressionar para negociar demissões.

A própria Flakepet é um exemplo do resultado dessa estratégia do PSTU e do sindicato. Nos dois últimos anos, o sindicato deixou passar, com suas pressões e negociações, 200 demissões somente nesta fábrica. E, quando os 143 trabalhadores se cansaram das enganações do patrão e resolveram radicalizar seus métodos ocupando a fábrica e colocando-a para produzir, o dirigente do PSTU convidou a corrente O Trabalho, que já tinha “experiência no assunto” , para “ajudar” na ocupação da Flakepet, mostrando não depositar nenhuma confiança nos trabalhadores ou em sua própria corrente.

Já depois de a fábrica ter sido ocupada, o PSTU e o sindicato continuaram falando de “direitos” , mas sem qualquer combinação com o processo real de ocupação da fábrica e produção controlada. O resultado está aí, nem ocupação de fábrica, nem direitos garantidos.

A verdade é que nesse processo da Flakepet a estratégia do PSTU impediu a unidade dos trabalhadores e os deixou nas mãos da “Comissão de Fábrica” controlada pela corrente O Trabalho. Se houve dis-putas e crises entre o PSTU e a corrente O Trabalho, foi meramente para ver quem mantinha o controle do conflito, tanto que, ao invés de se apoiar nos trabalhadores que criticavam a Comissão, o PSTU terminava preferindo fazer acordos e pactos de paz com a mesma Comissão que ele “criticava” .

Na prática, para esse partido, é melhor essa Comissão burocrática e controlada por uma corrente política ligada ao regime, pela via do PT, do que o poder real e efetivo dos trabalhadores unidos e organizados democraticamente, o que ameaçaria a estabilidade das relações existentes entre as correntes nos sindicatos.

A “COMISSÃO DE Fà BRICA” APLICA BUROCRATICAMENTE A POLà TICA DA CORRENTE O TRABALHO

A entrada em cena da corrente O Trabalho, através dos seus militantes vindos de Joinville para “ensinar” os trabalhadores a produzir, explica muitas das coisas que aconteceram na Flakepet até hoje. Essa corrente política fala que defende os interesses dos trabalhadores e o fim do capitalismo, mas continua no PT defendendo “resgatar esse partido” , e tem como política geral iludir os trabalhadores de que estes devem “exigir e ajudar” o governo para que cumpra com suas promessas.

O resultado da política dessa corrente conciliadora pode ser visto claramente na Flakepet. Para impedir que os trabalhadores se unam e se organizem de forma independente dos patrões e dos governos capitalistas, atuam com os métodos burocráticos, autoritários, para impor uma política de negociação e conciliação com o governo de Lula, evitando, na prática, que os métodos avançados de ocupação de fábricas sirva para que os trabalhadores se livrem da influência reformista e burguesa de confiar nas leis, nas negociações com os patrões e os governos.

Durante cinco meses essa corrente vem dominando a “Comissão de Fábrica” . Todo o processo de produção, durante os quase 3 meses em que se produziu em pequena escala, foi dominado, de forma burocrática e autoritária, por um militante da corrente O Trabalho vindo de Joinville. Esse burocratismo foi criando uma grande desconfiança entre os trabalhadores e gerando um sentimento de desilusão com a ocupação e uma visão de que a produção sob controle dos trabalhadores não era muito diferente da produção sob o jugo do patrão, na medida em que também se baseava numa relação de opressão.

A conseqüência desse desânimo, de que os trabalhadores identifiquem a ocupação de fábrica com o domínio burocrático dessa corrente, se expressa na desistência da maioria dos trabalhadores que preferiram ficar em casa a ter que voltar todos os dias para a fábrica e viver essa opressão. Hoje, dos mais de 80 operários que ocuparam a fábrica, pouco mais de 20 se mantêm com alguma atividade em torno da luta. A própria Comissão de Fábrica,que tinha 14 membros, hoje se reduz a quatro ou cinco militantes da corrente que continuam, mesmo assim, se arvorando como direção de tudo. Aqui está um retrato fiel do que significa uma direção burocrática que só pode continuar existindo contando com a desmobilização da maioria.

Para combater essa estratégia burocrática e acabar com o domínio autoritário da “Comissão” , o único caminho é buscar entre os trabalhadores mais avançados constituir uma nova camada de dirigentes que tenha como principal objetivo ganhar a confiança da maioria dos trabalhadores para unir todos na defesa de emprego e salário, acima de qualquer outro interesse pessoal ou político.

Aprendendo as lições da luta na Flake-pet e nos inspirando no grande revolucionário Karl Marx que dizia que “a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores” , podemos dizer que “a unidade dos trabalhadores da Flakepet será obra dos próprios trabalhadores” .

AS ATUAIS DIREÇÕES DEVEM SER COMBATIDAS ATRAVÉS DA AUTO-ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHADORES

Ao contrário dessas direções, nossa estratégia parte da compreensão de que ou os trabalhadores se autodeterminam ’ confiam em suas forças e se tornam os reais dirigentes da própria luta ’ ou as correntes burocráticas terão forças para, apesar de discursos “democráticos e combativos” , enganar os trabalhadores para dominar as organizações operárias em defesa de interesses das correntes.

Nossa estratégia é antiburocrática, classista e combativa, soviética. Ou seja, contra o domínio das correntes políticas, pela democracia direta e organização independente dos trabalhadores, defender única e incondicionalmente os interesses dos trabalhadores, agir com métodos avançados e radicais baseados na unidade dos trabalhadores contra o domínio da ex-ploração capitalista.

Essa é a estratégia soviética aprendida da experiência histórica das revolu-ções e das lutas operárias do século passado, que o revolucionário Leon Trotsky resumiu no Programa de Transição. Para Trotsky, a estratégia soviética deve expressar que “o principal significado dos comitês [comissões], é o de se tornarem estados-maiores (direção máxima) de combate para as camadas operárias que o sindicato, geralmente, não é capaz de ser” .

Trotsky confiava na capacidade e na experiência histórica dos trabalhadores para se organizar livre e democraticamente e se constituir como direção revolucionária na luta contra a exploração capitalista, com o objetivo de construir uma nova sociedade dirigida pelos operá-rios.

Cada vez mais longe de Trotsky, o PSTU e a corrente O Trabalho não confiam na classe operária como direção revolucionária nem nos seus organismos democráticos. Para essas correntes, os dirigentes sindicais e militantes das correntes políticas, por “serem mais preparados e mais experientes que os trabalhadores” , além de serem “bons negociadores” , são quem deve se constituir como a “direção máxima” da luta operária. Para Trotsky, ao contrário, os “estados-maiores” (a direção máxima) devem ser os trabalhadores, principalmente os mais explorados, ainda que sejam inexperientes.

Nós seguimos a estratégia revolucionária e soviética de Trotsky que nos ensina que “é precisamente dessas camadas mais exploradas que sairão os destacamentos mais devotados à revolução” .

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