Quinta 25 de Abril de 2024

Nacional

O PSOL recebe apoio do PSDB em Alagoas

01 Sep 2014   |   comentários

O desenrolar da campanha eleitoral mostra uma cada vez maior adaptação do PSOL ao vale tudo e ao jogo da política burguesa e as instituições e aos partidos da democracia dos ricos.

A última do partido do “socialismo” (sic) e liberdade (depois de já ter recebido financiamento de um grupo patronal, a rede de supermercados Zaffari) foi a acomodação frente ao recebimento de apoio à candidatura de Heloisa Helena para o senado em Alagoas por parte do PSDB. As declarações do candidato ao governo do estado pelo PSOL Mario Agra que “todo apoio é bem vindo” mostram o quão longe está esse partido de uma verdadeira luta por uma transformação política mais profunda, que dirá da luta por uma sociedade socialista.
A mea culpa do candidato para o governo pelo PSOL ao declarar que ‘’essa não é uma aliança natural” e de que mantém diferenças ideológicas com o PSDB apenas confirma o nível cada vez maior de integração dessa organização ao regime político construído pela burguesia para garantir seu domínio de classe. Cada vez mais o PSOL busca aparecer como pata esquerda dessa degradada democracia que só beneficia aos patrões, como alternativa viável para gerir os negócios comuns dos capitalistas.

Em Alagoas o PSDB é um dos partidos que representa diretamente os interesses dos grandes latifundiários, dos usineiros produtores de açúcar e álcool, sendo o atual governador Teôtonio Vilela (reconhecido latifundiário) filiado a esse partido. As tentativas feitas tanto por Mario Agra quanto por Heloisa Helena de minimizar o peso político, a adaptação, que representa esse apoio, dizendo que se trata de receber apoio de um individuo, do candidato ao governo pelo PSDB Júlio Cezar, e não do PSDB enquanto organização, não passam de palavras para tentar enganar um setor da juventude e dos trabalhadores que tem referencia nesse partido e que não aceitam tal nível de degradação política.

O que devemos ter claro nós trabalhadores e os setores da juventude que se colocam em luta e buscam construir uma alternativa à democracia da burguesia é que o ocorrido em Alagoas não é um acaso, um mero acidente, mas é expressão concentrada do desenvolvimento do PSOL como organização política, que ao não ter uma estratégia e um programa classistas, que aponte efetivamente para a construção de uma democracia dos trabalhadores, tem necessariamente que se adaptar as instituições e ao regime da democracia dos ricos. Uma alternativa da classe operária ao corrompido regime político da burguesia só pode ser construída nas lutas reais de nossa classe com uma estratégia, um programa e uma organização que vê a participação nas eleições burguesas como um movimento tático, uma parte, de uma luta mais ampla que tem que se desenvolver a partir das ações concretas, nos locais de trabalho, nas greves e piquetes, dos trabalhadores.

Tiremos as lições de mais uma demonstração de quão adaptado é o PSOL ao regime político dos patrões; esse partido não é um partido que representa os interesses dos trabalhadores em sua luta contra os efeitos da crise que se aproxima e que para quem pague por ela sejam os capitalistas, muito menos em uma luta por uma sociedade socialista, mas é um partido que representa o desvio das lutas, a tentativa de conciliar os interesses dos trabalhadores com os interesses da burguesia, em proveito óbvio dessa última. Para que os trabalhadores se coloquem realmente a construir uma alternativa sua é necessário que ponham em pé uma nova organização, um partido com um programa e uma estratégia classista e revolucionária.

E o que diz o PSTU em relação a isso?

O PSTU mantém uma aliança eleitoral com o PSOL em diversos estados, inclusive em Alagoas. Seria de se esperar, portanto, que esse partido, que diz defender o classismo (independência perante todas as frações burguesas) e se reivindica revolucionário, expressasse uma crítica aguda sobre a aliança do PSOL com o PSDB, inclusive rompendo sua frente eleitoral com esse partido.

Da forma oportunista com que o PSTU constrói sua frente eleitoral com o PSOL, o primeiro se nega a fazer uma crítica efetiva às adaptações do segundo e, quando faz a crítica, a faz pela metade, não transformando em prática efetiva aquilo que crítica no plano das ideias, como no caso do financiamento patronal à candidatura de Luciana Genro pelo Grupo Zaffari. Frente a aliança entre o PSOL e o PSDB, o máximo que faz a direção nacional do PSTU é lançar uma nota de ruptura com a candidatura ao senado de Heloisa Helena, mas, pasmem, mantendo apoio a candidatura ao governo pelo PSOL de Mario Agra, como se uma coisa não tivesse nada a ver com a outra, como se a aceitação do apoio do PSDB fosse um problema moral de Heloisa Helena e não da lógica com que o PSOL atua nas eleições, e não apenas em Alagoas mas em todo o Brasil. Dada a forma oportunista da aliança e de sua atuação nas eleições é interessante para o PSTU não levar a frente críticas muito contundentes a seu aliado eleitoral, pois isso poderia tirar votos de seus candidatos.

Outra lição que temos que tirar do ocorrido em Alagoas, portanto, é como atuam os revolucionários nas eleições, para que serve para um partido classista intervir nesse espaço que é eminentemente terreno do inimigo de classe. Se partirmos do pressuposto, que é o único correto de um ponto de vista revolucionário, de que atuamos nas eleições para propagandear e agitar um programa classista, para apoiar as lutas em curso, para eleger representantes de nossa classe que sejam efetivos tribunos do povo e que representem e apoiem nossas lutas no parlamento, qualquer adaptação às regras do jogo, as instituições e aos partidos patronais esta excluída.

O PSTU mostra que o classismo, para este partido, é muito relativo, pois em sua nota diz romper com a candidatura de Heloisa Helena mas continua na coligação e chama a apoiar o candidato a governador Mario Agra que aceitoi o apoio do PSDB e até o justificou. Não é só Heloisa Helena quem concilia com a burguesia e seus partidos, todo o PSOL está com frações burguesas. Logo, se o PSTU defendesse seriamente o princípio do classismo deveria romper com o PSOL em Alagoas e em todo o país, mesmo que esse ato digno de todos os classistas e revolucionários custasse a não eleição de qualquer candidato do PSTU. Afinal, princípios não se negocia. Ao não romper o PSTU (e as correntes de esquerda no PSOL) provam que seus acordos eleitorais são negócios para alcançarem cargos parlamentares. Não deveria valer tudo para esse objetivo. Esta falência estratégica do PSTU e da esquerda do PSOL reafirma a necessidade imperiosa de construir o que falta: um verdadeiro partido revolucionário que defenda, se oriente e não abra mão dos princípios e programa estratégicos para a luta revolucionária contra o capitalismo, seu estado e instituições (partidos burgueses incluídos)

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