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Nacional

Editorial

O Brasil de Lula: Concentração de renda e mais exploração

09 Nov 2007   |   comentários

Lula e o PT se gabam, perante os trabalhadores e o povo pobre, de estarem promovendo “pela primeira vez na história do país” crescimento económico com distribuição de renda, de estar diminuindo a desigualdade social e a pobreza no Brasil. Recentemente, assistimos aos jornais burgueses estamparem em suas capas: “5,8 milhões de pessoas deixam de estar abaixo da linha da pobreza!” ... “A renda média dos salários mais baixos do país cresce 8,5% enquanto a renda média dos salários mais altos cresce 6,9%!” ...

Dezenas de milhões de trabalhadores, que confiam ainda no presidente ex-operário, acreditam que apesar de tudo, dos lucros recorde dos bancos e das grandes empresas, os mais pobres também estão se beneficiando com as políticas do governo. A realidade dos primeiros quatro anos de governo Lula, no entanto, mostra uma situação bem diferente. Continuam existido dois “Brasis” , de um lado o Brasil das elites burguesas, que faturam milhões/ bilhões, em cima do nosso sofrimento, que andam com seus carros blindados, vivem nos condomínios de luxo cercados por seguranças, e ainda clamam por repressão quando roubam seus Rolex. De outro lado, o Brasil dos trabalhadores, dos camponeses pobres e desempregados, dos miseráveis, que se enfrentam no dia a dia com as balas perdidas e sofrem a repressão do tráfico e da polícia, que convivem com a pobreza extrema, com a falta de saúde e condições dignas de moradia, que são obrigados a sobreviver com um salário de fome, que sofrem com a repressão e perseguição no local de trabalho, que são assassinados por jagunços quando saem a luta, como aconteceu agora recentemente com sem terras do Paraná.

Ao contrário de estarem promovendo uma mudança de rumo do país, Lula e o PT estão aprofundando o curso do governo FHC, de promover os interesses dos grandes monopólios e do imperialismo, precarizando as condições de trabalho, retirando direitos, privatizando e atacando o direito de greve. O crescimento da economia, que Lula apresenta como uma das suas maiores conquistas, se baseia na criação de empregos precários, numa maior exploração dos trabalhadores e, ao contrário do que tem dito a imprensa burguesa, num aumento da desigualdade social. Vejamos alguns números que o governo se esforça para esconder.

De um lado, mais exploração...

A divisão de renda tão divulgada pelo governo Lula, diz respeito a divisão da renda entre os que vivem de salário. Quando na realidade a tendência de diminuição da participação dos salários na renda nacional continuou durante o governo Lula. “Existe distribuição de renda, mas ela é intrasalarial. A riqueza está se concentrando, ou seja, os ricos estão mais ricos. A melhora na distribuição pessoal da renda (que exclui juros e lucros) vem acompanhada da piora da distribuição funcional, que coloca de um lado os salários e de outro, juros e lucros.”
A grande obra do governo petista foi continuar com uma política de diminuir a parcela da renda nacional que vai para o bolso dos trabalhadores e aumentar a que vai para os patrões na forma de lucro. Em 1990 a parcela da renda nacional que ia para os empregados era de 58,2%, enquanto em 2003 ela chegou a 45,3%. E essa tendência continuou e se aprofundou sob o governo Lula.

E qual a “mágica” que permite ao governo, nesse marco de transferência de renda dos trabalhadores para os patrões, dizer que “os pobres estão menos pobres” ? Simples: dos 8,4 milhões de empregos criados a partir de 2000, a maioria esmagadora são de empregos extremamente precários. Deste total, 90% pagam até dois salários mínimos. Isso sem levarmos em consideração apenas os trabalhadores com carteira assinada, que se contabilizados pioram em muito o quadro: em 95, a diferença de remuneração entre empregados com carteira assinada e sem carteira era de 25,8%; em 2005, essa diferença saltou para 40,6%. No mesmo período, de 95 a 2005, a diferença média de remuneração entre trabalhadores formais e aqueles que trabalham na condição que costuma-se chamar “autónomos” ou “por conta própria” subiu de 7,7% para 43,5%.

É assim que o governo Lula promoveu sua suposta “diminuição da desigualdade e da pobreza” : ampliando e intensificando os trabalhos precários. A média dos salários mais baixos que o governo comemora por terem “aumentado mais” foi para ... míseros R$ 293! A média dos salários mais altos que o governo comemora por terem “aumentado menos” foi para... R$1.482! Menos que o mínimo elementar calculado pelo Dieese para que uma família possa arcar com alimentação, transporte, moradia, saúde, educação, cultura e lazer para seus filhos. Mesmo assim, esse aumento da renda média dos trabalhadores não conseguiu chegar nem mesmo a superar os patamares de 1996, o ano de “bonança” de FHC. Os 5,8 milhões de pessoas que “deixaram de estar abaixo da linha de pobreza agora recebem um pouco mais que miseráveis R$ 266!

Esses dados demonstram a realidade nua e crua do governo Lula, que o discurso oficial tenta esconder, propagando a falsa tese de distribuição de renda: o atual crescimento da economia se apóia num aumento da exploração e da precarização, num aumento da desigualdade social e numa maior concentração de renda. A concentração de mais e mais dinheiro nas mãos de um punhado de grandes empresas continua mais forte do que nunca. Não à toa, os 10% mais ricos se apropriam de 75% da riqueza nacional. Se estivesse realmente diminuindo a desigualdade social e a pobreza do Brasil, o “Bolsa-família” de Lula estaria diminuindo, pois as pessoas estariam conseguindo sustentar-se com seu próprio trabalho. O aumento do “Bolsa-família” mostra o aumento da pobreza do país.

Do outro lado, mais lucro e mais concentração de capital

Com esse crescimento da economia apoiado no aumento da exploração, a patronal, isto é, as grandes empresas e os grandes bancos, associados aos capitais estrangeiros, têm acumulado lucros e ganhos sem precedentes. De 97 à 2007, as 500 maiores empresas do país ampliaram sua participação no PIB nacional de 54% para 64%. Durante o governo Lula, uma lista de 180 empresas teve um aumento nos lucros de 198,9%. A remessa de lucros para o exterior, isto é, parte da riqueza que o imperialismo subtrai ao país explorando diretamente os trabalhadores, aumentou enormemente. “Entre 2003 e 2006, no primeiro mandato de Lula, a cada US$ 10 que entraram no Brasil, outros US$ 6 foram enviados ao exterior como ganho às sedes. Nos quatro últimos anos da gestão FHC foram remetidos US$ 2 para cada US$ 10 que entraram no país.”

Com Lula, algumas grandes empresas têm ampliado os seus negócios e se tornado competidoras internacionais dos seus ramos de atuação. Para colocar alguns exemplos: A Embraer é hoje a terceira maior fabricante de jatos do mundo ’ atrás apenas da americana Boeing e da francesa Airbus. A Friboi, após adquirir a norte-americana Swift, transformou-se no maior frigorífico do mundo. A Vale do Rio Doce, de 2001 para cá fez 18 aquisições e transformou-se na segunda maior empresa do mundo na produção de minério de ferro. Enquanto as grandes empresas brasileiras são consideradas entre as “melhores” do mundo o Brasil ocupa o 167º lugar em desigualdade social.

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