JUVENTUDE
Novos tempos, novos desafios para a juventude
03 Apr 2011
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Por: Marcelo Tupinambá
Revolução. Essa palavra que parecia haver sumido do vocabulário, depois de muitos anos em que seu uso se restringiu aos pequenos círculos de esquerda, tomou a mídia de massas em todo o mundo a partir do processo revolucionário no Egito. Trata-se de apenas uma de inúmeras expressões que anunciam novos tempos. É a realidade saldando debates que tomaram conta dos meios universitários, jogando na lata de lixo da história intelectuais pretensamente visionários que, com rios de tinta e vozes pomposas, prognosticaram o “fim da história”, o “fim da luta de classes”, o “fim da classe operária” ou a “vitória final” do capitalismo com a restauração capitalista nos ex-estados operários. Abram caminho para o movimento de massa, para a luta de classes e para a juventude que anunciam o fim da etapa que ficou conhecida como neoliberalismo, em que a juventude, os trabalhadores e o povo pobre sofreram ataques de magnitude histórica, não somente às suas condições materiais de vida, mas à sua subjetividade e anseios de transformar as condições de vida.
Vivemos a aurora de novos tempos, catalizados por uma crise econômica que estourou a quase três anos, que teve como resposta da burguesia e seus Estados com resgates bilionários aos capitalistas – socialização das perdas, privatização dos lucros – e que já vinha, particularmente na Europa, apresentando uma resistência de massas aos “planos de ajuste”, ou seja, aos ataques aos trabalhadores, ao povo pobre e a juventude. Os meios de comunicação também não puderam ocultar as manifestações de massa e greves gerais na Grécia e França. Ali, assim como na Inglaterra e outros países, a juventude colocava sua marca. Não faltaram greves estudantis, piquetes, enfrentamentos contra a polícia, luta contra os ataques à educação e manifestações em aliança com os trabalhadores para barrar os ataques. Não é por menos que voltaram aos jornais, no “Outubro Francês”, comparações com 1968. O mesmo “fantasma” que agora atinge o coração do sistema capitalista mundial, no estado de Wisconsin (e agora se estende a Indiana e Ohio), nos EUA, onde o funcionalismo público, junto aos estudantes, vem lutando contra os ataques aos seus direitos e sua liberdade de organização sindical e protagonizaram as maiores mobilizações desde 68. Na cidade de Oaxaca, no México, os professores, que em 2006 protagonizaram a histórica “Comuna de Oaxaca” estão impulsionando mobilizações intensas e mostram que o “ar fresco” da luta de classes também vai chegando à América Latina. Poderíamos continuar citando países, como Portugal, Croácia e outros, onde a luta de classes e a juventude entram na cena política.
Foi neste marco internacional que floresceu a “primavera árabe”, que representa um salto político, ainda que não está claro o resultado que terá o processo que está plenamente em curso, numa situação convulsiva, onde o movimento de massas terá que seguir se enfrentando não somente as burguesias locais mas o imperialismo, que tentam conter o impulso revolucionário das massas e canalizá-lo para as vias institucionais, com desvios eleitorais ou alimentando ilusões de que é possível conciliar os interesses da juventude precarizada, dos trabalhadores e do povo pobre com os setores burgueses dos mesmos regimes que estão caindo, concedendo uma ou outra reforma parcial, para que de conjunto seus objetivos, e do imperialismo, na região e no mundo não sejam afetados.
O presente e o futuro do Brasil
Os corações e mentes de milhares de jovens brasileiros que estão se mobilizando contra o aumento das passagens do transporte público em São Paulo e outras cidades do país, que estão entrando nas universidades e buscando conhecer o movimento estudantil e a esquerda, que estão seguindo os processos da luta de classes internacional e se estimulam a ser parte dessa juventude que levanta a cabeça internacionalmente, são um pequeno anúncio no Brasil de que este futuro que está sendo construído nas ruas, universidades, escolas e fábricas de todo o mundo, também será construído aqui, e que a juventude brasileira também começa a assumir a tarefa de enfrentar-se com a decadência do sistema capitalista e suas mazelas.
Trata-se de um verdadeiro alento numa situação nacional marcada pela passividade, construída nos últimos anos de lulismo, onde o que se propaga por todos os lados é que o Brasil está rumando para ser uma potência, o “país do futuro”, como se estivéssemos numa bolha inabalável frente aos desequilíbrios e impactos da economia e da luta de classes internacional. Nada mais falso.
Olhemos primeiro para o presente. Depois de alguns anos de crescimento recorde, o Brasil continua sendo um país onde as pessoas morrem anualmente nas enchentes que escancaram o problema crônico da habitação, onde a polícia é das mais assassinas do mundo e agora ocupa militarmente as favelas junto ao exército que Lula treinou na ocupação militar do Haiti, onde milhares de mulheres morrem por aborto clandestino, onde os torturadores da ditadura seguem impunes, onde as pessoas não heterossexuais não tem nenhum direito e são atacados por grupos fascistas, onde os índices de trabalho precário é dos maiores do mundo, onde a universidade pública é profundamente elitista e racista e deixa pra fora dela a enorme maioria da juventude, e um longo etc. Podemos dizer que “nunca antes na história deste país”, ficou tão claro que o crescimento econômico não é para melhorar as condições de trabalho e de vida da maioria da população, mas sim para criar no Brasil mais alguns bilionários para entrarem no ranking da Revista Forbes. Mais do que um “país de todos”, trata-se do país dos monopólios, dos políticos corruptos e da submissão ao imperialismo, como mostra a viagem que Obama fará ao Brasil pra tentar se legitimar (com direito a discurso na Cinelândia e tudo mais) justamente quando em poucos lugares do mundo ele poderia ir sem enfrentar protestos.
Mas o futuro que nos espera é melhor? É o que todos dizem, mas vejamos se o crescimento “nunca antes visto na história deste país” é capaz de sustentar-se frente à crise econômica internacional que segue persistente apesar de todas as medidas tomadas para salvar os capitalistas. As principais bases de sustentação do crescimento foram o boom de exportação de commodities para a China e a transformação do Brasil num paraíso para o capital especulativo que migrou dos países centrais em crise para se multiplicar num dos países com os juros mais altos do mundo, elementos que motorizaram o crédito e a ampliação do consumo da população. Ou seja, nosso crescimento econômico, como não poderia deixar de ser, é profundamente vinculado e dependente da economia internacional e do imperialismo e, portanto, tendem à decadência apesar de que em ritmos distintos do resto do mundo. Os anúncios de cortes no orçamento do governo Dilma é só uma das expressões de que o governo sabe bem disso. Se o “Brasil do presente” não é capaz de convencer estes ideólogos (alguns sabem que estão errados, mas vendem suas idéias por interesses materiais) que o Brasil não pode ser o “país do futuro” nas mãos dos monopólios e dos políticos burgueses, o Brasil do futuro (verdadeiro e não fictício) vai saldar estes debates. Aqui também veremos rios de tinta e vozes pomposas mostrarem sua fragilidade frente à realidade.
A juventude e seu lugar na construção do Brasil do futuro (sem aspas), de um novo mundo, de uma nova vida
Àqueles jovens que acreditam no que nos dizem por todos os lados, de que basta estudar e trabalhar direitinho que temos nosso “lugar ao sol” neste “Brasil que vai pra frente”, dizemos: nosso futuro só poderá ser construído nas ruas e nas lutas, seguindo o exemplo da juventude que está mostrando seu potencial transformador em todo o mundo! O “país do futuro” só poderá ser construído superando o individualismo (que merece perecer junto à etapa neoliberal que o fortaleceu) unificando a juventude com a classe trabalhadora contra os capitalistas e seus governos.
Para isso, será necessário superar as amarras que querem nos impor a burocracia estudantil, em primeiro lugar do PT e PCdoB que, encastelados na UNE, seguem traindo cada vez mais abertamente as mobilizações, que se cala frente ao massivo trabalho precário, o desemprego e o trabalho informal na juventude, que segue sofrendo com a repressão policial e está abarrotada de dívidas nas universidades privadas, sendo vítima da evasão. Não impulsionam nenhuma luta contra o elitismo e o racismo nas universidades públicas, onde os jovens trabalhadores e negros praticamente não conseguem entrar pelo filtro do vestibular e não conseguem permanecer nela, os poucos que entram, pela falta de uma política de permanência estudantil.
Uma juventude revolucionária, que é o que os novos tempos exigem, precisa ser construída superando também a tradição do PSOL e o PSTU. De um lado, o PSOL tem um projeto de ocupar espaços eleitorais, construindo uma juventude que tem como tarefa central ser coletora de votos para seus deputados e nas eleições estudantis. Por sua vez, o PSTU, tem um discurso revolucionário, mas sua prática política também se limita a seguir a rotina dos calendários sindicais e eleitorais, fazendo da aliança operária-estudantil “palavras ao vento”. Ambas correntes não ultrapassam os limites estreitos do sindicalismo e do corporativismo adaptado ao regime universitário. Na luta contra o aumento, chamam os estudantes a fazer um “bloco de carnaval” e a sentar frente à polícia.
Chamamos assumir junto a nós a apaixonante tarefa de construir um novo movimento estudantil, que se alie aos trabalhadores desde uma perspectiva combativa, anti-burocrática, lutando pelo fim do vestibular, a estatização das universidades privadas e dos transportes e por uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo pobre.
Precisamos de uma juventude anti-imperialista e anti-capitalista que, junto aos povos oprimidos de todo o mundo, grite bem alto: Fora imperialismo da América Latina, fora as tropas brasileiras e imperialistas do Haiti! Abaixo qualquer tipo de intervenção militar imperialista no mundo árabe como ameaçam agora na Líbia! Fora kadafi!
Chamamos a juventude a tomar para si a luta em defesa dos direitos democráticos, contra qualquer tipo de opressão e por uma nova vida. Queremos construir uma juventude que trave um combate contra a Igreja: que para além da questão da criminalização e ser moralmente contra o aborto às custas do sangue de milhares de mulheres, recebe isenção fiscal enquanto somos gays, lésbicas, homossexuais que somos vistos como pecadores e criminosos pelo discursos reacionários da Igreja católica. Lutamos pelo direito ao aborto e por um ensino laico contra a intervenção da igreja no ensino, em nossos corpos, em nossa vida!
O capitalismo empurra à despersonalização dos laços sociais, a uma coisificação generalizada, a uma comunicação efêmera e trivial, aos valores da competição e do individualismo. Queremos criar condições para a subversão de todas as relações sociais, em que se estabelecem livremente sem coerção estatal, religiosa, familiar, psicológica, econômica nem de nenhum tipo, e baseadas unicamente no consentimento mútuo, no companheirismo e no amor livre. Também por isso lutamos contra o capitalismo, porque sabemos que enquanto não se acabe a sociedade de classes que se baseia na exploração e na propriedade privada, não poderemos acabar com a opressão até o final.
Para alcançar este objetivo estratégico de derrotar o capitalismo, é necessário construir um partido revolucionário nacional e internacionalmente, é por isso que a nossa corrente internacional, a Fração Trotskista, luta também na Argentina, França, México, Venezuela, Bolívia, Chile, Espanha e Costa Rica.
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