Quinta 25 de Abril de 2024

Internacional

TENSÃO NO ORIENTE MÉDIO

Novas ameaças ao Irã

22 Feb 2012   |   comentários

Sob ameaças de sansões econômicas contra seu plano de enriquecimento de urânio, o governo do Irã suspendeu a exportação de petróleo ao Reino Unido e França em janeiro. Da mesma maneira fez manobras navais ofensivas no estreito de Ormuz –única rota marítima de petróleo da região- e ameaça fechar o estreito. Ambas as medidas retaliativas foram uma resposta diante do afinco destes países da UE, Arábia Saudita e dos EUA em promover políticas de limitação de seu programa nuclear, sem, no entanto, conseguir interromper as investidas iranianas até então.

No fim do mesmo mês, os principais países imperialistas da UE conseguiram aprovar com facilidade o embargo ao petróleo iraniano na cúpula da UE e seus efeitos devem ser vistos até julho, quando vencem todos os atuais contratos do país com o bloco europeu.

O embargo terá um efeito econômico relativo no Irã, pois o petróleo corresponde a cerca de 80% das exportações iranianas e está provocando uma fuga de capitais do país e drástica desvalorização de sua moeda. Mas seu efeito político é ainda questionável a depender de como o regime se mantêm perante as pressões sociais internas. Uma vez sob embargo, o Irã pode, apesar da crise capitalista, ainda encontrar compradores chineses (a China é o país que mais importa individualmente, 543 mil barris/dia) ou mercados paliativos no oriente como Japão ou Índia, mesmo com o embargo norte-americano e da UE.

A União Européia é a principal importadora de petróleo iraniano (703 mil barris/dia), mas em si esta cifra não significa muito aos principais imperialismos europeus como Alemanha e França, uma vez que os principais parceiros comerciais responsáveis pela importação deste montante do Irã são Itália, Espanha e Grécia, justamente os países que estão de joelhos diante do Banco Central Europeu e da política internacional de Merkel e Sarkozy. Não existem muitas alternativas de compra de petróleo aos monopólios destes países imperialistas de segunda ordem e as constantes limitações ao acesso deste recurso estratégico é mais um passo que aprofunda a perspectiva de semicolonização de suas economias no decorrer da crise em função do imperialismo alemão e francês.

A medida da UE é uma medida reacionária, que visa manter o controle da tecnologia nuclear nas mãos dos países imperialistas ocidentais e que cobra todo seu custo às massas trabalhadoras iranianas, que são quem mais sofre com todas as restrições comerciais e ao embargo econômico. Mas, o mais importante é a unidade interimperialista entre os EUA, os sionistas de Israel, e as potências da UE para salvaguardar os interesses imperialistas na região, frente a continuidade do processo egípcio e da crise síria. Como foi declarado por um iraniano ao jornal The Guardian: “Os americanos sempre encontram uma desculpa para criar problemas para nós. Eles alegam ter como alvo o regime, mas as pessoas comuns como eu, que têm casas de aluguel ou pequenas empresas privadas pagam o preço sempre” .

A perspectiva de um enfrentamento militar entre Israel e Irã

Do ponto de vista estadunidense, o plano de cortes no orçamento militar e a retirada das tropas no Iraque e Afeganistão buscam recompor a política na região, debilitadas pelas duas empreitadas, e agravada principalmente com o acirramento da luta de classes em 2011 e o estouro do processo revolucionário egípcio. Depois de duas ocupações militares, o resultado foi o fim da política de insuflar enfrentamentos militares entre o Irã e o Iraque, através da qual os EUA conseguiram impedir que um destes emergisse como potência regional nas décadas anteriores. Como resultado da própria ocupação norte-americana no Iraque, e o fim da ditadura sunita do Baath no Iraque, os xiitas subiram ao poder, reaproximando-se do Irã, que também é xiita.

Agora, o futuro da política de Obama está em aberto devido as limitações que um Congresso republicano o impõe além das eleições nos EUA onde o Partido Republicano busca uma nova figura capaz de oferecer uma alternativa ao desprestígio de Obama. Desta forma uma nova frente militar é algo que a Secretária de Estado Hillary Clinton tenta evitar através da diplomacia e sanções. Entretanto é necessário lidar com os interesses polarizados de seus aliados estratégicos como Israel (e mais modestamente a Arábia Saudita), que exige uma intervenção militar no Irã e Síria, além de se colocarem abertamente como inimigos dos processos da “primavera árabe”. Para além do embargo, o Estado sionista de Israel segue tentando combater seu isolamento após a primavera árabe com investidas cada vez mais beligerantes contra os regimes considerados hostis a seus interesses na região. Desde finais de 2011, o primeiro ministro Netanyahu declarou estar planejando uma intervenção militar no Irã a fim de impor um freio ao seu programa nuclear. E também como uma tentativa de se fortalecer internamente, após as manifestações de “indignados” israelenses, e greves terem voltado a sacudir o país. Além disso, as manobras israelenses pretendem pressionar Rússia e China a cooperarem com sanções ao Irã, em meio as tensões para a votação das sanções sírias.

É difícil pensar uma investida militar israelense sem o auxílio estadunidense. Para além dos problemas operativos de um ataque israelense ao território iraniano, que em si não se daria com uma vitória fácil nem êxitos garantidos , pior, poderia provocar um enfraquecimento político e militar de Israel em uma situação que já se caminha a um isolamento do país na região. A possibilidade de um ataque coordenado com os EUA ou até mesmo com a OTAN é menos certa ainda, mas não pode ser descartada de todo. Diferentemente da Líbia, onde existia um regime desgastado e em decomposição diante de uma guerra civil aberta fruto da primavera árabe, em um país que serve de exportador a parceiros comerciais e políticos da UE, uma intervenção da OTAN no Irã demandaria passar hoje sobre a força política internacional da China e da Rússia, que se colocam decisivamente contrários a qualquer intervenção no Irã por ser este um parceiros econômico e político importante a ambos os países. Para além disso, a guerra em meio à crise iria forçar um salto nos preços do petróleo alimentando ainda mais o combustível social para a instabilidade dentro dos países centrais. Como se perguntou Roberto Toscano, ex-embaixador italiano no Irã: “É de esperar que se tenha considerado os efeitos de uma guerra no preço do petróleo. Podemos permitir e nos comprometer frente aos efeitos que isso teria em nossas economias, tão golpeadas pela crise?”( El País, 20/02/12)

Precisamos lembrar também que a própria primavera árabe pouco impactou a integridade do regime iraniano a ponto de oferecer situações políticas capazes de abrir margem a uma utilização pró-imperialista que justifique uma intervenção militar como ocorreu na Líbia ou como está se dando na Síria atualmente. As ameaças e sanções podem levar ao seu fortalecimento.

Não às ameaças e sanções contra o Irã

Os revolucionários denunciamos que a maior ameaça para os povos do Oriente Médio é a existência do Estado sionista de Israel, e a presença de seu apoiador, os EUA. A santa aliança imperialista costurada para impor sanções ao Irã, que hipocritamente fala em nome da paz, utiliza-se das monarquias aliadas como a da Arábia Saudita para impor seus desígnios na região, mostrando o caráter das burguesias árabes. Enquanto os regimes como o saudita falam em direitos humanos” massacram seu povo, e invadem países como o Bahrein, contra as manifestações da primavera árabe.

Não apoiamos o teocrático e reacionário regime iraniano de Ahmadinejad, mas defendemos o direito de todos os países semicoloniais a desenvolverem armamentos e energia nuclear, para se defenderem das ameaças do imperialismo. Igualmente, denunciamos e nos pronunciamos contra toda e qualquer ameaça e sanção orquestrada pelos imperialismos europeus e norte-americanos ao Irã.

Artigos relacionados: Internacional









  • Não há comentários para este artigo