Quinta 25 de Abril de 2024

Internacional

MAIS DE 150 JOVENS E TRABALHADORES PARTICIPAM DE VIDEO-CONFERÊNCIA COM RAUL GODOY

“Nossa língua é a luta de classes"

02 Aug 2012   |   comentários

Neste último dia 29, domingo, realizamos na “Casa Socialista Karl Marx” uma empolgante teleconferência com Raul Godoy, dirigente do PTS (“Partido dos Trabalhadores Socialistas”, organização irmã da LER-QI na Argentina) e deputado ceramista de Neuquén eleito pela FIT (“Frente da Esquerda e dos Trabalhadores”), junto a companheiros trabalhadores de diversas categorias (USP, bancários, terceirizados, professores, metrô, sapateiros de Franca, operários do ABC etc.), além de membros da Juventude às Ruas de várias universidades. O objetivo dessa atividade era compartilhar com os companheiros que se identificam com as idéias do marxismo revolucionário um pouco do que foi a “Conferencia Nacional de Trabalhadores”, convocada pelo PTS, um importante episódio para o movimento operário internacional, como parte de um processo ainda maior, que há anos vem se desenvolvendo na Argentina, conhecido como “sindicalismo de base”.

Raul Godoy deu início à discussão contando um pouco sobre a Conferencia, que reuniu mais de 4 mil trabalhadores, expressando vários novos dirigentes do movimento operário, companheiros e companheiras que se colocam como uma alternativa real às velhas direções burocráticas e corporativistas. Além disso, também contou sobre como está sendo a implementação de uma das campanhas centrais votadas na Conferencia, que é a proposta de massiva agitação com as consignas de “por sindicatos sem burocratas” e “por um partido de trabalhadores sem patrões”. A importância dessa campanha consiste na necessidade histórica da auto-organização operária (sem burocracia) e na independência de classe (sem burguesia), dois princípios vitais para o movimento revolucionário que foram duramente golpeados no decorrer das últimas décadas. A burocracia sindical é o principal garantidor das divisões no interior da classe operária, de tal modo que a luta por sindicatos sem burocratas é a única forma de lutar conseqüentemente em defesa dos terceirizados, precários etc. e levar adiante essa unidade de classe rompida pela burguesia cirurgicamente para nos enfraquecer. Por outro lado, é preciso que esse combate aos burocratas tenha como ponto de partida o caráter irreconciliável da classe operária com a burguesia. Nas palavras do próprio Raul Godoy, em recente entrevista publicada no jornal “La Verdad Obrera” (nº 485), falando sobre o mesmo assunto, “...em última instancia, sem um governo da classe operária, a solução definitiva de nossos problemas seguirá estando distante. Nesse sentido, a ideia de um partido de trabalhadores sem patrões aponta para além da unidade da classe operária. Aponta também a necessidade de estabelecermos uma estratégia de hegemonia operária, quer dizer, uma política capaz de unificar todas as reivindicações de todos os setores oprimidos pelo capitalismo. A classe operária e sua vanguarda devem tomar essa tarefa em suas mãos e construir uma aliança social que se coloque a perspectiva de vencer os capitalistas e instaurar um governo dos trabalhadores e do povo.

Conforme o debate se desenvolvia, diversos companheiros questionaram Raul Godoy sobre as “jornadas revolucionárias” de 2001 na Argentina e as experiências a partir de Zanon (FaSinPat), fábrica ocupada e com funcionamento sob controle operário há mais de 10 anos, expropriada oficialmente desde 2009. Sobre isso, a mensagem foi de que essa rica experiência da vanguarda operária da Argentina segue avançando. Estão preparando para breve uma nova atividade da “Escola Político-sindical ‘Nuestra Lucha’”, diretamente ligada às campanhas votadas na Conferencia. Além disso, o Sindicato Ceramista de Neuquén (região ao sul da Argentina, onde fica a fábrica Zanon) acaba de completar 14 anos, fruto de um processo iniciado em 1998, quando militantes do PTS e independentes já se enfrentavam com a burocracia sindical, legando hoje, entre outras coisas, uma tradição de rodízio na direção do sindicato, sendo que após o mandato todos os operários voltam ao seu posto na produção, dando lugar assim à formação constante de novos dirigentes sindicais.

Sobre o processo de 2001, foi discutido como se tratou de um fenômeno ligado à dinâmica internacional do capitalismo, que desde o final da década de 90 vinha acumulando uma série de crises, inclusive com vários levantes de massas na América Latina, mas que particularmente na Argentina ocorreu a confluência de um grupo que vinha do trotskismo principista (o PTS) com a efervescência social das “jornadas revolucionárias”, marcadas por um relativo peso operário, com ocupações de fábricas etc. (tal como Zanon), mas também com bastante protagonismo de setores de classes médias. Naquele momento, diversos setores da esquerda, como o PO (“Partido Obrero”), fizeram uma aposta estratégica que se afastava do marxismo, colocando a perspectiva de que haveria um novo “sujeito revolucionário”, encarnado nos setores de desempregados que se organizavam e construíam lutas reivindicativas e que ficaram conhecidos como “piqueteiros”. Ao contrário dessa deriva estratégica, o PTS buscou aproveitar o momento para se colar aos setores mais avançados da classe operária, o que foi determinante para que hoje nossa corrente seja a mais orgânica, para não dizer a única entre a esquerda argentina, que consegue ser um fator no “sindicalismo de base”, falando desde dentro desse importantíssimo processo de renovação de direções operárias, tal como expressou a Conferencia.

Para nós, militantes da LER-QI, essa trajetória que vem construindo o PTS junto ao movimento operário argentino é uma importante escola da qual buscamos compartilhar as mais profundas lições, assim como tentamos fazer com os diversos companheiros que participaram dessa atividade conosco. Além disso, enquanto militantes da FT (nossa organização internacional) consideramos que esse processo de renovação de dirigentes operários, o sindicalismo de base, pode ser um fator qualitativamente novo para os choques do proletariado internacional contra a burguesia, que busca cada vez mais nos passar as desgraças da sua crise capitalista. Vemos atualmente as massas com muita disposição revolucionária em país como Egito, mas que infelizmente são traídas por direções conciliadoras, setores da burguesia nacional que se submetem ao imperialismo afim de garantir seus interesses particulares, buscando desviar os levantes somente para a via eleitoral. Infelizmente, vemos também um problema análogo em todo o processo da Europa, onde em diversos países a classe operária começou a se levantar para não ter que pagar pela crise dos capitalistas (Grécia, Espanha etc.), já dando algumas mostras de toda sua força adormecida nas últimas décadas, mas ainda sem a clareza necessária para romper com suas velhas direções burocráticas, que se apossaram das centrais sindicais para garantir de restringir a luta operária à estratégia de pressão por um lado e voto nos discursos reformistas por outro.

Vemos também, que bastante da importância que tem essa Conferencia e a política por meio da qual o PTS vem buscando incidir no “sindicalismo de base” vem justamente da compreensão de que passamos por uma etapa ainda preparatória na América Latina, sendo que apesar da crise já ter golpeado mais duramente em 2008 e 2009, além de já estar repercutindo em desaceleração das economias exportadoras de commodities, na verdade ainda não passamos por momentos mais acirrados da luta de classes, que se abrirão conforme a dinâmica da crise impacte mais profundamente, tal como ocorre hoje na Europa. Nesse sentido, é vital a campanha aprovada na Conferencia (sindicatos sem burocratas” e “partido de trabalhadores sem patrões”), já que é o meio pelo qual aquela vanguarda operária conseguirá chegar em outros milhares e centenas de milhares, lançando bases sólidas, princípios determinantes, para que a classe operária se levante com uma estratégia revolucionária e, portanto, possa vencer.

Partindo de um dos temas centrais do debate, no qual a classe trabalhadora é uma só internacionalmente, Pablito Dirigente da LER-QI e Diretor do SINTUSP (Sidnicato dos Trabalhadores da USP) mostrou de como a alternativa colocada pela Conferência é um exemplo concreto para apoiar incondicionalmente os trabalhadores e o sindicato da GM de São José dos Campos que hoje são atacados pela Direção da Multinacional com a ameaça de 2 mil demissões. A luta em defesa dos empregos e contra qualquer tipo de flexibilização dos direitos dos trabalhadores assume uma importância preparatória estratégica frente ao avanço da crise capitalista no Brasil. Devemos centrar todas as forças para cercar de toda solidariedade ativa os trabalhadores da GM, com uma política de independência de classe que derrote o plano da Empresa, unificando a luta com todos os metalúrgicos da região sem nenhuma confiança no Governo Dilma, ou no Governo Estadual de Alckmin e no Prefeito Eduardo Cury (PSDB).

Diante do debate nacional em torno da Comissão da Verdade, Pablito também resgatou a importância da luta contra a repressão de ontem pela punição dos assassinos e torturadores do regime militar, estar vinculada a luta contra a repressão de hoje na USP onde a Reitoria prepara punições e demissões a dezenas de estudantes, trabalhadores e dirigentes sindicais. Neste momento a Reitoria está acelerando os processos contra os estudantes e trabalhadores que foram presos na Ocupação da Reitoria em 2011, muito provavelmente para punir "exemplarmente" uma meia dúzia de companheiros, onde certamente o Sintusp será atacado através da possível demissão da companheira Diana Assunção (diretora do SINTUSP e dirigente da LER-QI), como forma de disciplinar a vanguarda e todo o movimento que ano passado saiu a luta contra a presença da PM no campus, sem falar na possibilidade de demissão de Magno, Neli, Pablito, Aníbal, Solange e mais dezenas de dirigentes sindicais e trabalhadores.

Ao final da atividade, Maíra Viscaya, Dirigente da LER-QI e Professora da Rede municipal de Santo André, remarcou a força social dos trabalhadores quando assumem em suas mãos as bandeiras da juventude, dos setores oprimidos e do povo pobre: “Uma força social que foi capaz de ocupar e expropriar Zanon e coloca-la para produzir... uma força social capaz de construir uma nova sociedade, sem divisão de classes, pondo fim a todo tipo de exploração e opressão”.

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