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No dia 21 de novembro a FAFICH/UFMG foi palco da mulher negra!

11 Dec 2013   |   comentários

No último dia 21 de novembro, como atividade da semana da Consciência Negra e do dia de combate à violência contra a mulher (25/11), o grupo de Mulheres Pão e Rosas realizou conjuntamente às Secretaria de Mulheres e LGBTTI e de Questão Negra do CAFCA, pela gestão Jornadas de Junho, duas importantes rodas de conversa sobre violência contra a mulher negra. Contou com as mesas compostas por Letícia Parks, ativista negra de São Paulo e militante do grupo de Mulheres Pão e Rosas e da LER-QI; Taynara Marques, militante do Pão e Rosas, que compõe a Secretaria de Questão Negra do CAFCA; Firmínia e Izabella, militantes do PSTU, pelo Movimento Mulheres em Luta (MML) e Miriam Alves, militante do Coletivo de Estudantes Negrxs da UFMG (CEN).

Entre as duas atividades (diurno e noturno), passaram cerca de 80 pessoas, sendo a da manhã a atividade mais cheia da semana da Consciência Negra da UFMG, com cerca de 60 pessoas.

Letícia fez sua fala dando bastante enfoque na questão de que é necessário que se lute pela demandas democráticas, como junho já mostrou, sendo as do povo negro as mais urgentes! Porém, as conquistas do povo negro não serão garantida apenas através de reformas, dando o exemplo da PEC das domésticas, que garante os direitos trabalhistas básicos à essas trabalhadoras, mas esse continua sendo um trabalho precário realizado em sua maioria por mulheres negras, sendo o Brasil o país que mais emprega esse tipo de serviço. A luta do povo negro, fundamental para o avançar da luta de classes no Brasil, deve se dar ao lado dos trabalhadores, classe essa fortemente composta por negras e negros, no combate a esse sistema que oprime e explora mulheres negras com “excelência”. Denunciou fortemente o governo PT, o grande responsável por todas as demandas reivindicadas nas ruas em junho, como o direito ao transporte, saúde, educação, ou seja, contra a precarização da vida, que afeta diretamente o povo negro; e também o papel da polícia na sociedade, verdadeiro agente do genocídio da juventude negra!

Taynara colocou em questão a Universidade de “excelência”, que com seu machismo e racismo institucional, aplica trabalho terceirizado, precário, que afeta majoritariamente as mulheres negras. Retomou exemplos como o trote racista no Direito no começo do ano, e o silêncio da reitoria com relação ao racismo; e também a produção de conhecimento a serviço de empresas como a Vale, que utiliza essa tecnologia desenvolvida na Universidade para melhor explorar os negros na África. Defendeu o fim do vestibular como único meio para que toda juventude negra, trabalhadora, pobre, tenha acesso ao ensino superior, e lembrou que desde o começo, o programa da chapa Jornadas de Junho (atual gestão majoritária do CAFCA) já defendia a efetivação de todos os terceirizados sem necessidade de concurso público. Lembrou também a opressão que a mulher negra sofre devido ao padrão de beleza europeu que impõe o cabelo liso e o nariz fino.

Desde o MML, as falas passaram por tocar também que a violência contra a mulher negra vem desde a miscigenação, que se deu através dos estupros de escravas negras pelos senhores brancos. Colocaram sobre o recorte de classe que há nas opressões às mulheres e aos negros, sabendo que as mulheres negras são maioria dentre os trabalhadores e pobres, e que é preciso se ligar à classe operária para vencer o racismo e o machismo.

Miriam, pelo CEN, falou enquanto mulher negra que foi recentemente agredida dentro da universidade, reforçando que fazia a denúncia pois as mulheres não podem se calar frente a essas situações, e devem se apoiar na sua própria organização para responder a tais situações, já que as reitorias já se calam frente a opressão existente dentro do campus.

Aberta a discussão à roda de conversa, a discussão permeou temas como o combate à violência contra a mulher, retomando o exemplo das mulheres indianas, que se organizaram em centenas e saíram às ruas após os estupros coletivos em ônibus na Índia virem a tona, exigindo punição aos estupradores e dizendo basta à essa violência. Tal violência, infelizmente cotidiana, não pode ser combatida com exigências de mais delegacias de mulheres, que significa exigir mais polícia, mas através da auto-organização das mulheres junto aos trabalhadores, pela conformação de secretarias e comissões de mulheres nas entidades estudantis e sindicatos, organizações de bairro, independentes, e com a criação de casas-abrigo para as mulheres e seus filhos, sem polícia, sob controle dessas mulheres.

Desde a Secretaria de Mulheres e LGBTTIs do CAFCA, foi colocada sobre a violência aos LGBTTIs, principalmente às mulheres trans*, que somente por se colocarem como trans* são uma afronta à sociedade, estando sujeitas aos mais diversos tipos de violência física, moral, estupros corretivos, além de estarem relegadas aos trabalhos mais precários, muitas vezes à prostituição, e possuírem expectativa de vida de apenas 35 anos. Lembraram o ataque à companheira Kathalina Friedman, no Chile, militante trans* do Pan y Rosas Chile, que foi espancada por 10 homens dentro da própria casa. Colocaram que para combater tal violência, desde o movimento estudantil, é necessário que haja entidades militantes, que rompam com o rotineirismo e o autonomismo, e se coloquem a perspectiva combativa de se ligar aos trabalhadores de dentro e fora da Universidade, no combate consequente às opressões.

Houveram importantes e emocionantes saudações de operários fabris, militantes do Pão e Rosas e da LER-QI, que saudaram a oportunidade de participarem de uma atividade tão importante como aquela, e que isso era a concretização do papel fundamental que os estudantes e as entidades estudantis podem cumprir: a aliança operário-estudantil.

No dia 02 de dezembro, fizemos também uma importante reunião aberta de apresentação da agrupação, para colocar a importância da organização das mulheres desde uma perspectiva revolucionária, classista e antigovernista, ligada aos trabalhadores, aos negrxs e LGBTTIs, no combate consequente à todas as formas de opressão e exploração, na luta pela emancipação dos setores oprimidos, dos trabalhadores, e de toda humanidade! Chamamos todas e todos que participaram dessas atividades e que vem acompanhando as atividade do Grupo de Mulheres Pão e Rosas, a nossa atuação dentro do Movimento Mulheres em Luta e também como parte da gestão majoritária do CAFCA, a conhecerem nosso grupo, se aproximarem e discutirem conosco!

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