Sábado 20 de Abril de 2024

Gênero e Sexualidade

PÃO E ROSAS NA MARCHA DAS VADIAS BH (MG)

No Brasil de Dilma, nossos direitos são moedas de troca!

30 May 2013   |   comentários

Nos últimos anos, diversos movimentos caracterizados como “marchas” vêm surgindo, assim como coletivos para discutir a opressão. A Marcha das Vadias faz parte desse processo, como uma marcha que pretende dar visibilidade a questões de gênero.

Nos últimos anos, diversos movimentos caracterizados como “marchas” vêm surgindo, assim como coletivos para discutir a opressão. A Marcha das Vadias faz parte desse processo, como uma marcha que pretende dar visibilidade a questões de gênero. Centralmente dá ênfase à discussão sobre o direito ao próprio corpo, passando pela reivindicação de legalização do aborto, assim como da liberdade de usar a roupa que quiser sem sofrer abusos, e poder expressar a sexualidade livremente; além do combate à violência contra a mulher. Mas essas marchas, ainda que coloquem questões pertinentes, não respondem e nem propõem uma real saída às opressões mais concretas e sentidas pela classe trabalhadora.

Em Belo Horizonte, estivemos na última Marcha das Vadias, no dia 25 de maio, por achar tais reivindicações necessárias. Porém, nos organizamos em um bloco classista do Pão e Rosas junto a independentes, pois defendemos que as mulheres trabalhadoras não só participem, mas sejam linha de frente das lutas por seus direitos. A Marcha das Vadias traz um discurso que dialoga com um setor de mulheres majoritariamente composto por jovens estudantes, mas não dialoga com maioria das mulheres, que são trabalhadoras, majoritariamente negras. Nosso bloco buscou, em sua delimitação, se colocar fortemente pela aliança entre estudantes e trabalhadoras.

Atualmente, as mulheres ocupam mais postos de trabalho. Um avanço que vem no marco de um ataque, pois são os postos de trabalho mais precários, muitas vezes terceirizados, com salários miseráveis e sem direitos. Além disso, ao chegar em casa, começa para a mulher trabalhadora uma nova jornada de trabalho, com todos os serviços domésticos e cuidados com os filhos. Serviços esses necessários à manutenção do sistema, e feitos gratuitamente pelas mulheres. O corpo da mulher trabalhadora não lhe pertence, mas sim ao seu patrão, além de estar enclausurada em casa, presa aos serviços domésticos. Por isso levamos à Marcha das Vadias a reivindicação de fim do trabalho precário e terceirizado, e que o Estado garanta as condições de sobrevivência dos trabalhadores, com restaurantes, lavanderias e creches públicos em período integral. Essas bandeiras são necessárias para que a luta pela liberdade do corpo da mulher seja completa e coerente.

O direito ao aborto, reivindicado na Marcha das Vadias, deve vir acompanhado por educação sexual nas escolas, além de contraceptivos de qualidade em todos os postos de saúde. Hoje as quase 200 mil mulheres que morrem devido aos abortos clandestinos são majoritariamente mulheres trabalhadoras, negras, que não possuem condições financeiras de arcar com um aborto seguro, ainda que ilegal. Por isso, esse direito democrático das mulheres deve ser livre, seguro e gratuito, garantido pelo SUS, à serviço e controlado pelos trabalhadores.

Usamos em nosso bloco, para nos delimitar, uma grande faixa que dizia “No Brasil de Dilma/PT: lucro para o patrão. Para as mulheres, exploração e opressão!”. Isso porque é necessário que os movimentos de mulheres e de combate à opressão denunciem que, no Brasil de uma mulher no poder, não houve reais avanços para as mulheres, mas apenas algumas concessões, pequenas conquistas que ainda assim não respondem até o fim às opressões sentidas pelas mulheres. A “Carta ao Povo de Deus”, escrita por Dilma aos setores evangélicos em sua campanha presidencial, garantiu que em seu governo o aborto não seria legalizado, utilizando um direito das mulheres como moeda de troca. Isso além do Acordo Brasil-Vaticano, assinado por Lula, que prevê privilégios à Igreja Católica, ou seja, mais opressão às mulheres, já que tal acordo prevê, por exemplo, ensino religioso nas escolas, que seria o ensino católico, carregado da ideologia de que a mulher não pode decidir pelo próprio corpo, nem expressar a sexualidade. Os 10 anos de governo PT criaram muitos postos de trabalho, porém postos com base no trabalho precário, que afetam majoritariamente as mulheres.

Assim, levamos essa discussão à Marcha das Vadias, pois também não basta buscar saídas individuais, apenas de conscientização da própria opressão e combate individual à mesma, como a Marcha acaba propondo. É preciso se organizar e buscar o combate coletivo da opressão e também da exploração, aliando-se à classe trabalhadora. Por isso, para a real libertação do corpo da mulher: aborto legal, seguro e gratuito; fim da precarização e dupla jornada; restaurantes, lavanderias e creches públicas!

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