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Mulher

Ninguém esperava que o Dia da Mulher seria o início da revolução...

24 Mar 2007   |   comentários

A participação das mulheres trabalhadoras nas lutas do movimento operário, durante o regime czarista, as levou a lutar por sua própria emancipação: às reivindicações económicas, freqüentemente, acrescentavam as demandas de creches nas fábricas, pagamento de licença-maternidade, tempo livre para amamentar etc. Há exemplos de sobra: greves de mulheres que reivindicavam poder usar os mesmos banheiros usados pelos donos da empresa, que cessasse o abuso dos capatazes e que se proibisse insultar as operárias.

Quando se iniciou a guerra, as feministas da União de Mulheres pela Igualdade de Direitos convocaram uma mobilização das “filhas da Rússia” em apoio ao governo. Para as operárias russas, entretanto, a guerra representou uma carga adicional sobre seus ombros já curvados: na medida em que eram enviados ao front quase 10 milhões de homens ’ na sua maioria camponeses ’, as mulheres se converteram em operárias agrícolas, chegando a representar 72% dos trabalhadores rurais. Nas fábricas passaram de ser 33% da força de trabalho em 1914 a 50% em 1917.

Já em abril de 1915, as mulheres investiram contra um grande mercado de São Petersburgo, tomando os víveres que necessitavam para suas famílias; a cena se repetiu em Moscou. Acontecimentos similares se desenvolveram no ano seguinte. As consignas, que depois se popularizaram em fevereiro de 1917, iam se gestando em cada revolta das operárias russas, fartas da penúria em que viviam: fim da guerra, retirada das guardas de cossacos das fábricas, liberdade para os bolcheviques exilados e todos os presos políticos...

Em janeiro de 1917, um informe da polícia advertia que “as mães de família, esgotadas pelas filas intermináveis dos comércios, atormentadas pelo aspecto faminto e doente das crianças, estão agora mais abertas à revolução, que o senhor Miliukov, Rodichev e companhia, e certamente são mais perigosas porque elas representam a faísca que pode acender a chama” . Foram estas mulheres trabalhadoras, fundamentalmente as operárias têxteis, as que escolheram o Dia Internacional da Mulher, o 23 de fevereiro de 1917 ’que corresponde ao 8 de março do calendário ocidental ’, para reivindicar pão, paz e liberdade, dando início à revolução.

Na Rússia, o Dia Internacional da Mulher tinha sido comemorado pela primeira vez em 1913. O jornal dos bolcheviques havia lançado um suplemento especial. Em São Petersburgo se reuniram cerca de 1.000 pessoas perante as quais falou uma operária têxtil: “O movimento das trabalhadoras é uma corrente tributária do grande rio do movimento proletário e lhe dará sua força.”

Enquanto os mencheviques desejavam que somente as mulheres participassem das manifestações, os bolcheviques defendiam que o Dia Internacional da Mulher devia ser comemorado não somente pelas trabalhadoras, mas por toda a classe operária. Por isso incluíram em seu jornal uma seção especial intitulada “Trabalho e vida das operárias” e logo, por sugestão de Lênin, decidiram publicar um periódico dedicado integralmente às mulheres trabalhadoras, o Rabotnitsa.

Finalmente, com a revolução triunfante de outubro, as mulheres soviéticas obtiveram o direito ao divórcio, ao aborto, à eliminação dos deveres conjugais e a igualdade entre o matrimónio legal e o concubinato. No entanto, como dizia Lênin: "Onde não há latifundiários nem capitalistas nem comerciantes, o poder dos soviets constrói uma nova vida sem esses exploradores, conquista a igualdade entre o homem e a mulher perante a lei. Mas isto ainda não é suficiente. A igualdade perante a lei ainda não é a igualdade frente à vida. Nós esperamos que a operária conquiste não só a igualdade perante a lei, mas também frente à vida, frente ao operário (...). O proletariado não poderá chegar a se emancipar completamente sem ter conquistado a liberdade completa para as mulheres".

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