Sexta 29 de Março de 2024

Nacional

DECLARAÇÃO DA LER-QI RJ

Nenhum apoio ao repressor Sérgio Cabral nem ao motim dos bombeiros

05 Jun 2011   |   comentários

Com a repressão e prisão dos bombeiros amotinados o governador Sérgio Cabral mostrou mais uma vez como é um governo bonapartista. Um governo que apoiado em discurso direto à população e opinião pública, demitindo médicos em greve ao vivo na TV, entre outros exemplos, é um governo apoiado na força das armas. Faz ora um programa de determinada fração da burguesia ora de outro e volta e meia mostra-se como um “recuperador da auto-estima popular do Rio de Janeiro”. O mesmo governo que pinta-se de progressista querendo fazer votar a criminalização da homofobia na legislação estadual é o mesmo que militarizou dezenas de comunidades do Rio de Janeiro, impedindo os direitos de reunião e expressão no Alemão, no Dona Marta e em diversos locais com UPPs. É o mesmo governo que prendeu 13 manifestantes no ato contra a visita de Obama. O governo de um “Rio de Janeiro que avança”, que pretende-se vitrine mundial é um Rio de Janeiro que sistematicamente tem centenas de mortos e desabrigados por chuva, sem salvamento e sem plano de obras públicas para garantir moradia digna. Ao contrário, este é o governo que garante junto a sua prefeitura aliada da Capital, promove remoções de ocupações e favelas para abrir espaço para empreendimentos da Copa e Olimpíadas, e uma militarização generalizada de diversas comunidades. Esta violência sistemática e cotidiana é garantida por tropas melhor remuneradas do BOPE e dos novos contingentes alocadas na UPPs, e ainda por amplíssima e acrítica cobertura midiática de suas ações nestas áreas. Sob seu governo os trabalhadores e a juventude do Rio de Janeiro não podem esperar nada além de repressão, mortes em tragédias anunciadas, e uma precarização generalizada dos direitos de saúde e educação.

Os bombeiros formam um contigente policial que sobra nos quartéis e estão sendo utilizados por Cabral para precarizar o funcionalismo na área da saúde, usando-os para substituir os resgatistas e socorristas civis do SAMU e diversas funções de atendimento médico e enfermagem nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Em vez de contratar servidores para essas necessidades, utiliza os bombeiros, o que também permite a esse governo bonapartista introduzir elementos de “militarização” dos serviços públicos.

Bombeiro é trabalhador ou polícia?

Os bombeiros são vistos pela população como os que salvam vidas e prestam socorro em momentos difíceis. Essa falsa aparência esconde o verdadeiro papel dos bombeiros. Essa corporação é parte da Polícia Militar, são policiais militares que cumprem funções civis mas não deixam de ser "forças auxiliares do Exército". Os bombeiros não aparecem reprimindo, subindo morros, matando e se corrompendo porque vivemos tempos de "paz social", sem lutas operárias, sem processos revolucionários. Nessa situação os governos capitalistas não necessitam utilizar os bombeiros, bastando as forças policiais ostensivas e os grupos especiais. Daí os bombeiros são vistos como inofensivos salvadores de vida. Mas a verdade é que como policiais e forças auxiliares do Exército são preparados para serem utilizados em momentos de enfrentamento social, luta de classes e crises revolucionárias. São policiais especializados em salvamento, demolições e outras operações que servem para operações militares especiais como invasão de fábricas, ações de sabotagem, atentados a bomba, mergulho etc. Ao contrário da visão comum, são policiais muito bem treinados e guardados para momentos decivisos de defesa da "ordem" (propriedade capitalista e regime burguês). Não são trabalhadores, são policiais, e seu motim pretende melhorar seus salários equiparando-se com os "ativos" (no serviço de repressão) da PM. Não por menos os bombeiros amotinados exigiam reajuste salarial também para os demais PMs. Nem sequer os amotinados exigiam a desmilitarização dos serviços de defesa civil. Aceitam e desejam continuar como PMs, e querem ganhar como tal, mesmo que sejam "desnecessários", nesses tempos, para a repressão violenta que os governadores utilizam para impor a "paz social" aos trabalhadores, à juventude e aos pobres das cidades quando se "insubordinam" e lutam por suas reivindicações. Desejam mais salários e "melhores condições" porque vêem todos os dias os PMs de "rua" recebendo bonificações (para matar) e podendo, inclusive, entrar melhor nos esquemas de corrupção. Os bombeiros estão "por fora" desses esquemas e só lhes resta exigir mais salários.

Os bombeiros apenas “salvam vidas”? Diante do motim uma posição de classe

À primeira vista os bombeiros aparentam ser uma força “humana”, nunca utilizada de forma repressiva. No entanto, a história e uma visão internacional desta força não permitem apoiar seu fortalecimento. Os bombeiros são utilizados em diversos países para repressão de manifestações com seus jatos d’água, e no Brasil, por serem especialistas em explosões tinham diversos membros ligados a ações paramilitares como o atentado do Riocentro. E como se sabe, as ações tomadas pela ditadura não eram feitas por sujeitos soltos mas desde o alto comando. A CPI das milícias mostrou esta força (os bombeiros) como sendo a espinha dorsal das milícias que matam, reprimem e extorquem diversas comunidades no Estado. Os trabalhadores não devem apoiar o fortalecimento de uma força que pode se voltar contra eles. Apoiaríamos, se houvesse, um movimento dos bombeiros pela sua desmilitarização mas não um movimento que fortalece esta força que pode ser repressora e menos ainda por levar ao fortalecimento do conjunto das forças repressoras do Estado.

A oposição ao governador Sérgio Cabral tem que ser obra dos trabalhadores e da juventude em luta, sem se deixar levar pelo senso comum burguês, assumindo uma posição de classe, defendendo um programa operário e popular. Trabalhador é trabalhador, polícia é polícia!

É lastimável a posição adotada pela maioria das correntes de esquerda, como o PSOL e PSTU, que apóiam o movimento do corpo militar de bombeiros, e para esconder sua política anti-operária e antipopular inovam afirmando que os bombeiros são trabalhadores e até escondem o envolvimento desta força policial com as milícias e os atentados durante a ditadura militar. Agora que há um movimento de bombeiros esqueceram seu programa, como o caso do PSTU que defendia até ontem a desmilitarização. Estão somente fazendo oposição a Cabral e buscando aliados nisto, custo o que custar. Nos opomos intransigentemente a Cabral mas não o fazemos ignorando a perspectiva de classe para encarar os órgãos repressores do Estado, mesmo quando taticamente estes se oponham a seu chefe. Uma central sindical que se diz combativa e classista que se "comove" e mobiliza em defesa das forças policiais não tem tido a mesma atitude para defender os terceirizados, os precarizados, os pobres e os homossexuais que são agredidos e assassinados. Para defender os bombeiros a Conlutas, o PSTU e o PSOL rapidamente prepararam um ato público; para @s terceirizadas da USP (o Sintusp é filiado à Conlutas) que lutaram por mais de 20 dias não vimos nenhum esforço; para os operários de Jirau, que assustaram a burguesia e o governo com sua rebelião contra as empreiteiras do PAC, não se realizou qualquer ato ou solidariedade ativa (a Conlutas enviou um "emissário" para fazer parte da comissão junto com as centrais sindicais burocráticas).

Os bombeiros não entram em diversas favelas da cidade deixando os pobres sem resgate, e mais absurda ainda é a visão expressa na carta desta central sindical dirigida pelo PSTU onde afirmam que “é chocante ver os nossos bombeiros detidos e sendo obrigados a ficar de joelhos com as mãos na cabeça como prisioneiros comuns”. A violência contra os presos pode? É necessário desenvolver um forte movimento de oposição não só a Cabral mas à violência policial que este dirige, não reivindicamos nenhum tratamento que este governo confere aos presos, que como sabemos são em sua maioria pobres e negros.

O PSTU e a Conlutas devem tomar a dianteira para organizar a luta contra a exploração capitalista e a repressão estatal, o que exige não defender as instituições repressivas mas combater pela dissolução de todos os órgãos de repressão, pois sua função essencial é defender a propriedade privada e eliminar a possibilidade de luta dos trabalhadores e das massas exploradas. Os militantes que se consideram combativos do PSOL devem dar um passo adiante para encarar essas tarefas, e isso exige romper com este partido que cada vez mais avança a passos largos para ser um partido da ordem.

Um pouco de história recente dos bombeiros ou como a esquerda (PSTU e PSOL) se distancia de uma visão marxista principista dos órgãos de repressão.

Na ditadura militar os bombeiros, como reserva policial do Exército, também estiveram por trás do atentado ao Riocentro no dia 31 de abril de 1981 que poderia ter matado 20 mil civis reunidos nesse pavilhão de exposição para comemorar o 1º de Maio, proibido pelo regime militar. É uma vergonha que a esquerda, alguns inclusive devem ter estado no Riocentro, "esqueçam" o papel nefasto dos bombeiros como parte do Grupo de Operações Especiais criado em 1970 pela Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, formado por PMs, policiais civis, integrantes das forças armadas, civis (empresários, um vice-reitor da UERJ etc.). É um absurdo que a esquerda, principalmente o PSTU, contribua para enganar os trabalhadores e a juventude com a falsa ideia de que os bombeiros são trabalhadores e não policiais, que "salvam vidas" e não estão preparados para serem utilizados pela "democracia burguesa" quando as instituições policiais e militares precisarem acobertar seus crimes e atentados.

A esquerda se distancia velozmente do marxismo sobre o papel das instituições de repressão (os bombeiros são forças de reserva da PM e do Exército), se assimilam à ideologia burguesa, se adaptam à democracia dos ricos e revisam os conceitos, igualando policiais a trabalhadores. E o PSTU chega a igualar aos bombeiros os seus militantes presos em março no ato contra Obama. Uma debandada teórica, programática e ideológica.

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