Sábado 20 de Abril de 2024

Nacional

O PRIMEIRO EVENTO DA COPA DO MUNDO DE 2014

Não é uma festa, nem só um grande negócio: a burguesia quer erguer uma cidade “maravilhosa” contra os trabalhadores!

28 Jul 2011   |   comentários

A Copa do Mundo, as Olimpíadas apareceram nas propagandas eleitorais de Dilma e nas peças de propaganda e editoriais da mídia burguesa como grandes oportunidades para fazer o povo melhorar de vida, ter um grande legado dos eventos, tornar-se um “país de primeiro mundo”. A realidade, no entanto, é completamente outra. O povo é sequer convidado a participar do evento, fechado, privatizado. Tal como fizeram para receber Obama, impedirão o povo de circular livremente na Marina da Glória e imediações. Este isolamento geográfico do evento é só a ponta do iceberg da preparação de um evento que será voltado contra os trabalhadores e o povo.

A perspectiva de crise econômica catastrófica aumenta a importância do evento para a burguesia

E enquanto terminam os preparativos dessa festa onde o povo não é convidado, Dilma Rousseff recebe a presidente argentina Cristina Kirchner para discutir relações diplomáticas entre os dois países, tendo como uma das principais preocupações a crise capitalista internacional, num momento em que novamente os EUA é o destaque da economia e política mundial, com sua profunda crise de endividamento e o impasse interno sobre a elevação o teto da trilhonária dívida. Existe a possibilidade dos EUA darem o calote na dívida ou deixarem de pagar a saúde e aposentadorias, descontando nos trabalhadores esta crise. Estas medidas reacenderão a tormenta da crise mundial. Se, por outro lado, evitarem o calote americano, diversos outros espreitam no horizonte: Grécia, Espanha, Itália... E mesmo sem calote e catástrofe o melhor cenário traçado pela burguesia são anos ou décadas de desemprego, miséria, não só na África, mas na Espanha e em diversos países.

Com este cenário fúnebre grandes investidores do mundo todo tem investido e especulado em países da periferia capitalista como o nosso. A Copa e as Olimpíadas são uma oportunidade de ouro para este investimento, lucros certos em obras faraônicas erguidas sobre as costas de trabalhadores precários.

Os trabalhadores precisam ter certeza de que não se trata de uma festa popular, mas de grandes negócios capitalistas. E mais que grandes negócios são uma oportunidade de ouro para a burguesia mudar completamente a cidade contra os trabalhadores.
Este reordenamento da cidade obedece exclusivamente a seus interesses de negócios e estratégicos, de que cidade querem construir para mostrar aos turistas e a todo o Brasil. O que conseguirem impor no Estado mais urbanizado do país (96,7% segundo o censo 2010) será, como já é, utilizado em todo o país, como as UPPs que começam a ser instaladas também em Salvador. Não há lógica nenhuma nestes projetos que não a de seus lucros. O Censo 2010 revelou 262 mil imóveis desocupados no município do Rio de Janeiro, a maioria, há de se supor no Centro e Zona Sul, qual lógica para o reordanamento que não passe por utilizar estes imóveis, garantindo moradia digna em locais com melhor transporte, saúde e educação para todos?

Mais que negócios, estamos frente a um debate estratégico: se, usando a desculpa da Copa a burguesia reestruturará um Rio de Janeiro repressivo, de classe média, mais branco ou, se, por outro lado, os trabalhadores resistirão a esta perspectiva e lutarão por uma cidade que seja um símbolo na luta dos trabalhadores e do povo.

O Brasil temporariamente em outro ritmo da luta de classes enquanto começam a retornar as grandes questões estratégicas

Depois da restauração do capitalismo no Leste Europeu e Asiático, da ofensiva neoliberal, a burguesia e seus teóricos conjuraram qualquer idéia de crise (o capitalismo se desenvolveria eternamente), de revolução, de mudança histórica, e mesmo da classe trabalhadora, relegando estas idéias aos museus da história. Eis que Wall Street entra em parafuso e do local que consideravam mais barbárico, o mundo árabe, como no Egito, Tunísia, retorna a ação histórica das massas, os chamados à greve geral, a derrubada de ditadores. Na Europa combalida pela crise econômica persiste uma perspectiva histórica de maiores enfrentamentos. Como não ocorria em décadas há perspectivas objetivas para processos revolucionários (e contra-revolucionários) não só na periferia capitalista, mas também em grandes países imperialistas. É frente aos grandes desafios de nosso tempo que precisamos nos preparar, contribuindo para que as perspectivas subjetivas (organização, consciência, partido) da classe trabalhadora e sua vanguarda esteja em função de se preparar para voltar a tornar-se não só uma idéia, mas uma ação histórica a revolução proletária.

Este problema subjetivo se expressa no mundo árabe, na Europa e de forma mais particular em nosso país, que ao contrário da maioria dos países segue tendo crescimento econômico enquanto não se desenvolve de forma catastrófica a crise mundial nem diminui o fluxo de capitais, nem as divisas vindas da exportação de commodities para a China, etc. A amplíssima maioria dos trabalhadores está iludida com uma perspectiva de melhorias graduais, de mais consumo, de confiança em Lula e Dilma como condutores destas melhorias. É preciso combater estas ilusões, pois o Brasil se sincronizará, cedo ou tarde, com o ritmo mundial. Mesmo na “bonança” este é um país que cresce pautado na continuidade do descaso, no assassinato dos pobres que morrem todos os anos fruto de desastres ditos “naturais”, que todos os dias tem dezenas de negros assassinados pela polícia nas favelas, que os trabalhadores estão divididos em efetivos, temporários, precários, terceirizados, e que, a cada ano, perde mais de mil trabalhadores nos canteiros, fábricas, fazendas e usinas por acidentes de trabalho.

Dilma, Cabral e Paes organizam grandes negócios para os capitalistas

Há pouco mais de seis meses no governo, Dilma já enfrenta um cenário de crises políticas, queda de importantes ministros, e dá mostras como seu projeto de Brasil “potência” é a favor da burguesia e contra os trabalhadores e o povo. Dilma que em sua campanha eleitoral criticou o PSDB por seu projeto “privatista”, além de já ter iniciado o primeiro semestre anunciando a privatização dos principais aeroportos do país, flexibilizou a Lei de Licitações (de Itamar Franco) de modo a permitir que as transações entre governo e empreiteiras seja sigilosa e “mais ágil”, ou seja, permitindo a entrega do dinheiro público para a reconstrução das cidades que serão palco na Copa de 2014 a bel prazer dos lucros da burguesia e dos governos subservientes (que cobrará sangue e suor dos trabalhadores, custeados com seu próprio dinheiro!). Mostras disso já podemos evidenciar nas greves das obras do Mineirão, com denúncias das condições de trabalho e super-exploração, com os trabalhadores exigindo pagamento das horas extras, dentre outros.
Mais uma expressão desses grandes negócios contra o povo, é a privatização da zona portuária do município do Rio, região que abrange uma importante parte do centro da cidade e é hoje habitada por trabalhadores e povo pobre. Como na zona sul não há mais espaço para grandes construções, uma alternativa foi o “desenvolvimento” da Barra da Tijuca e adjacências, criando uma espécie de Miami brasileira, e nova aposta agora é a reconstrução da região do centro da cidade, há décadas abandonada pela burguesia e governo municipal, estadual e federal, se demonstrando hoje uma alternativa altamente lucrativa numa região repleta de grandes construções abandonadas e contornadas pela Baia da Guanabara, que pode ser uma nova alternativa de moradia para a classe média e alta.

Para isso, o governo criou o consórcio Novo Porto e o projeto “Porto Maravilha”, sob o slogan “Um sonho que virou realidade”. O consórcio é formado pelas empreiteiras OAS, Odebrecht e Carioca e receberá da prefeitura a cifra estimada em R$7,3 bilhões durante 15 anos para que essas empresas sejam responsáveis pelas obras e gestão dos serviços públicos como iluminação, coleta de lixo, trânsito, entre outros. Além disso, é previsto pela prefeitura que as obras do Porto Maravilha estejam prontas até 2015, antes das Olimpíadas, onde também terão espaço sete instalações olímpicas. Herança da antiga capital federal, os terrenos dessa região pertenciam ao governo federal serão vendidos através dos denominados Certificados de Potencial Adicional Construtivo (CEPACS), por R$ 3,5 bilhões. Como se não bastasse essa privatização de uma importante região da cidade a Caixa lança mão do FGTS para realizar essa operação, ou seja, o dinheiro dos trabalhadores novamente utilizado contra eles mesmos, à serviço dos lucros da burguesia. Dilma, Eduardo Paes e Sérgio Cabral, juntos por um “Rio maravilha”: para a burguesia e seus lucrativos negócios.
Um dos principais aliados e privilegiados de Cabral nessa incursão são os empresários como, por exemplo, Eike Batista (dono da EBX e de várias propriedades, empresas, até restaurantes de luxo, em todo o RJ) e Fernando Cavendish (dono da Delta Construções, que está metida nas reformas do Maracanã, nas obras da Copa e do Pré-Sal). Todos eles estão bebendo desta fonte de gastos bilionários do Estado. Somente no primeiro mandato de Cabral a Delta Construções acumulou quase um bilhão de reais em contratos, parte deles dispensados de licitações. Eike Batista também doou 23 milhões para Cabral conseguir que Rio sediasse a Copa, 5 milhões para Cabral limpar a marina da Glória cuja concessão pela prefeitura do Rio está nas mãos desse mesmo bilionário que recentemente comprou o famoso Hotel da Glória, além de ter recebido bilhões em isenções fiscais na gestão Cabral, Eike doou 139 milhões para o governador ampliar a militarização das favelas (e outros projetos que também são vitrine eleitoral de Cabral).

O choque de dos Rios: o maravilhoso para os turistas e capital e os trabalhadores realocados para longe

Para o projeto de um “novo Rio maravilha” de Cabral, Paes e Dilma, os trabalhadores, a juventude e população pobre só são importantes se aceitam calados ou apóiam esse projeto. Projeto que se dá em base à militarização e repressão por um lado, e por outro na precarização do trabalho e sucateamento dos serviços públicos. A instalação de 18 UPPs, sendo a última na Mangueira contando com a presença, além do Bope, da PM e também dos Bombeiros Militares, é uma investidura de Cabral para implementação de seu projeto. Por isso que o motim dos bombeiros militares, que atingiu uma simpatia de amplos setores da população (ricos e pobres), nesse sentido “policlassista”, fez com que Cabral se desculpasse e sinalizasse para as reivindicações dos militares publicamente, porque a polícia e os bombeiros militares são agentes da repressão necessários para continuidade do projeto de “limpeza social” do Rio, ou seja, de aprofundamento do apartheid social já existente: um Rio lindo e maravilhoso exibido pelas das novelas globais; e um Rio das moradias e condições de vida precárias exibido nos noticiários junto ao sangue dos jovens negros assassinados pela polícia dia-a-dia.
As UPPs são mais que um projeto de repressão diária e sistemática aos trabalhadores, são uma peça em um mapa de reeordanamento da cidade contra os trabalhadores. Junto a elas chegam não só obras cosméticas como passarelas, mas chegam também às contas de luz, titulação e impostos e outras medidas que ano a ano farão uma remoção silenciosa, não pela via dos tratores como fazem em comunidades selecionadas, como a Metrô Mangueira, mas a do capital. Os morros da Zona Sul começam a ser palco de especulação imobiliária, as comunidades no eixo Galeão-Zona Sul e no caminho da Barra serão muradas e segregadas, e parcialmente removidas, e cada desastre como as chuvas é utilizado como desculpa para “oferecer” o ultimato de mudar-se para Cosmos, Sepetiba, e outros bairros na Zona Oeste, ou morar na rua. Os trabalhadores e os pobres serão controlados e/ou expulsos do Centro, Zona Sul, Tijuca e realocados a Zona Oeste, abrindo toda uma área expandida para o “Rio Maravillhoso”, para o capital.

A burguesia quer uma força de trabalho barata e ordeira: apoiar as lutas em curso para derrotar a precarização do trabalho

A repressão e abusos sistemáticos nas UPPs, combinados a repressão aos camelôs no Choque de Ordem, visam produzir uma força de trabalho barata e amaciada pelo cacetete que aceite (por consenso ou coerção) as precárias condições de trabalho dos PACs e obras da Copa. Sem alternativas não há remédio fora aceitar trabalhos precários, terceirizado nas assassinas condições que imperam nos canteiros de obras e estaleiros. O governo Dilma mostrou em Jirau, para onde enviou a Força de Segurança Nacional para reprimir os trabalhadores, o que fará para garantir a ordem e obediência na exploração. As dezenas de lutas de setores precários que tem atrevessado o país, da floresta amazônica em Jirau ao litoral nordestino em Pecém (CE) e Suape (PE), as lutas de terceirizados em universidades como na USP, às dezenas de estados que tiveram lutas dos professores surgiram como vozes isoladas é nossa tarefa imperiosa organizar a mais ampla solidariedade para que as lutas triunfem. O corte de ponto que Cabral organizou contra os profissionais da educação de nosso Estado precisa ser combatido enfaticamente, organizando uma ampla campanha democrática pelo direito de greve e construindo nas escolas, universidades e locais de trabalho um fundo de greve para apoiar esta luta. Os trabalhadores da USP em São Paulo mostraram com estas medidas como é possível derrotar um governo estadual e garantir o direito de greve e o pagamento dos dias parados.

A burocracia sindical ligada ao governo (CUT, Força Sindical, CTB) mostrou-se em cada um destes conflitos como garantidores da continuidade da exploração capitalista. Questionou na mídia a militarização de Jirau, mas seguiu negociando por meses com o governo, aceitam a terceirização e precarização em cada local de trabalho e quando muito questionam a terceirização das ”atividades-fim”, impedem o questionamento do projeto repressivo que é esta cidade que Dilma, Cabral e Paes organizam para seguir apoiando seu “governo”. Calam-se frente a calamidades como as da região Serrana e cada remoção que ocorre no Rio para este projeto “maravilhoso”. Nossa luta contra o trabalho precário, por moradia, pela unidade de todos os trabalhadores, efetivos e terceirizados, contra esta cidade repressiva e para o capital, passa também pela luta por recuperar os sindicatos destas burocracias e torná-los ferramentas para a luta de todos os trabalhadores.

O tempo para organizar a solidariedade a lutas como dos profissionais da educação está sendo perdido por correntes que dirigem o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE) e a maioria das entidades estudantis do estado, como é o caso do PSOL e PSTU. Ainda há tempo de revertermos isto e organizar uma ampla campanha em defesa do direito de greve e para que vençam. Para isto baste que militem com metade do afã com que militaram por uma força repressiva auxiliar (os bombeiros militares). Estas lutas de hoje devemos encarar como preparatórias de situações mais agudas na luta de classes quando o país colocar-se mais ao tom do ritmo mundial. É com duras lutas dos trabalhadores passando por vitórias e derrotas, mas enfrentadas como escolas de guerra que nos prepararemos e podemos contribuir para que a classe trabalhadora se coloque ao tom de sua necessidade estratégica: erguer-se como classe hegemônica de todos os oprimidos para destruir o Estado burguês e erguer uma sociedade sem explorados nem exploradores.

Por um plano emergencial de lutas !

Contra a privatização da região portuária: por um plano de obras públicas para a construção de moradias e toda infra-estrutura urbana necessária, saneamento básico, malha viária, etc., que seja decidido e controlado pelos trabalhadores!

Não às remoções de favelas e ocupações urbanas! Direito à moradia: expropriação dos 260 mil imóveis desocupados!

Abaixo às UPPs e o Choque de Ordem! Pelo fim dos privilégios dos repressores e corruptos: fim da justiça militar e imunidade parlamentar!

Todo o apoio à luta dos trabalhadores da educação! Não ao corte de ponto de Cabral! Pelo direito de greve: organizar fundo de greve em cada sindicato, escola e local de trabalho! Pelo atendimento de todas as suas reivindicações!

Que os sindicatos e centrais governistas rompam com seu silêncio em apoio a “seu” governo e encabecem uma campanha por estas reivindicações!

Que os sindicatos e as centrais sindicais, começando pela CSP-Conlutas e Intersindical, movimentos sociais e populares, associações de moradores, movimentos de mulheres e LGBTT, se unifiquem em torno da construção de um plano de lutas para declarar uma guerra para impor uma resposta à altura da investida da burguesia e governos!

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