" />



Sábado 20 de Abril de 2024

Movimento Operário

ELEIÇÃO APEOESP

“Não aceitamos a divisão entre professores efetivos e temporários”

03 Jun 2011 | Neste ano a corrente Professores Pela Base, composta por militantes da LER-QI e independentes, participa das eleições da APEOESP como parte da Chapa 2 – Oposição Unificada na Luta. Nossa corrente está intervindo nestas eleições com o objetivo de denunciar a política da atual Diretoria do Sindicato que no ano passado fez de nossa greve “moeda de troca” pelas eleições de Dilma Roussef, impondo uma brutal derrota contra a categoria, que hoje sente suas conseqüências. Esta verdadeira burocracia sindical convive pacificamente com a enorme fratura que existe em nossa categoria e “livra a cara” do governo mesmo depois do mesmo se opor à distribuição do kit-anti-homofobia. Ao mesmo tempo, como parte da Chapa 2, temos o intuito de fortalecer um pólo antigovernista e justamente por isso consideramos que é vital um debate vivo sobre todas as posições políticas. Reproduzimos abaixo entrevista com dois candidatos da nossa corrente, os professores Márcio Bárbio (Zona Norte) e Rita Helena Frau (Campinas). ASSISTA ABAIXO A ENTREVISTA COM MÁRCIO E RITA   |   comentários

JPO: Os professores convivem com um alto nível de precarização. Como unificar uma categoria que é praticamente dividida ao meio nacionalmente já que em muitos estados o contrato precário atinge quase 50% da categoria?

Márcio: Hoje em São Paulo quase a metade dos 250 mil professores se encontram em algum tipo de precarização, que se coloca com o nome de ACT - Admitido em Caráter Temporário. A questão é que alguns professores são ACT há 20 anos, e isso é um escândalo, pois todos os anos passam pela incerteza se conseguirão atribuir aulas, sendo obrigados a atribuir o que sobra, se dividindo em mais de uma escola e em vários períodos de trabalho. Os concursos públicos realizados servem para demitir professores, uma vez que os companheiros mais velhos têm muita dificuldade de passar nos concursos, pois realizam longas jornadas de trabalho para alcançarem um salário que permita sobreviver, sem tempo e estrutura para a formação. Compomos a Chapa 2 mas defendemos, quase que sozinhos, a efetivação sem concurso de todos os professores temporários, pois eles já demonstram na prática que estão aptos a exercer este trabalho. Para arrancarmos nossos direitos e combater a precarização é fundamental a unidade da categoria, sendo estratégica esta luta. Nossa corrente está nestas eleições para dizer que não aceitamos a divisão entre efetivos e temporários. Se exercemos o mesmo trabalho, devemos ter os mesmos direitos!

JPO: Qual a política da chapa 1 para unificar as lutas nacionalmente? O eixo nos 10% do PIB como colocam os companheiros da ala majoritária da Oposição Alternativa é suficiente?

Márcio: É preciso começar dizendo que no ano passado a nossa greve foi utilizada pela Diretoria do Sindicato, ligada ao PT e ao PCdoB (minoritário), como campanha eleitoral para Dilma Roussef. Esta política criminosa levou à desmoralização da categoria depois de uma importante derrota, com o desconto de 33 dias da greve. Isso explica a situação que estamos em São Paulo hoje, totalmente desmobilizados num momento em que nacionalmente milhares de professores estão lutando. Em vários estados e municípios, os professores se encontram em greve, algumas inclusive bastante radicalizadas com ocupação de palácios de Governo, como na Paraíba. Em São Paulo, os professores das Etecs e Fatecs também paralisaram. Mas não somente isso. É também política consciente da Chapa 1, atual Diretoria, não mobilizar a categoria em ano de eleições, numa clara separação entre as eleições e a luta, impedindo que os professores de São Paulo também pudessem ser parte desta enorme onda de mobilizações e politização que se expressa na categoria. Foi capaz de cantar vitória diante do humilhante reajuste em 4 parcelas, do governo Alckmin, para que a indignação dos professores não se tornasse força motora de luta e comprometesse a campanha eleitoral da chapa 1. E a política da Chapa 1, que também dirige a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), é deixar estas lutas a sua própria sorte. Por isso também nós temos insistido na necessidade de se convocar imediatamente um encontro nacional de professores para que juntos possamos organizar essas lutas . Como a CNTE tem se recusado a fazer, os sindicatos ligados à CSP-Conlutas e à Intersindical deveriam convocar esse encontro para ao menos organizar os setores opositores à burocracia sindical da CUT e da CTB. Ao mesmo tempo, devemos exigir imediatamente que como parte das eleições a Diretoria coloque de pé uma enorme campanha de fundo de greve para as principais greves de professores no Brasil inteiro.

Rita: Sobre a questão dos 10% do PIB pensamos que essa reivindicação é importante, porém insuficiente. Em primeiro lugar não adianta ter 10% do PIB e esse dinheiro ir parar nos bolsos dos tubarões da educação. Então os 10% devem vir acompanhado da exigência de verbas públicas somente para escola pública, bem como a estatização sem indenização dos grandes monopólios da educação privada para garantir uma educação de qualidade para o conjunto dos filhos da classe trabalhadora. Precisamos também questionar o conteúdo de classe da política educacional do governo do estado e federal. Lutamos pelos 10% para a educação pública, mas esta educação deve estar voltada para o desenvolvimento e a serviço da juventude e da classe trabalhadora. Não adianta ter mais verbas para a educação se as universidades públicas continuam elitizadas através de um filtro social chamado vestibular ou se esse dinheiro vai para as universidades e escolas privadas. Por isso lutamos também pelo fim do vestibular, assim como os vestibulinhos das escolas técnicas estaduais, municipais e federais, em defesa do livre acesso ao ensino técnico e superior.

JPO: Dilma vetou o kit anti-homofobia após ceder à pressão da bancada evangélica e católica e aos setores reacionários ligados à ditadura militar. A chapa 1 se posicionou? Como os professores podem lutar de maneira independente no combate à homofobia?

Márcio: A Chapa 1 não abriu a boca para defender a implementação de políticas de combate à homofobia, assim como se calou em relação ao veto, e isso se deu por sua ligação direta com o governo federal. Vale lembrar que Dilma vetou o kit para salvar seu chefe da casa civil Antônio Palocci dos escândalos de corrupção e manter os votos fisiológicos do PMDB e dos evangélicos e católicos. Pensamos que é preciso colocar uma ampla campanha democrática pela inclusão da educação sexual em todos os níveis de ensino com a liberdade de discussão entre professores e estudantes sobre o livre exercício da sexualidade e em defesa dos direitos dos homossexuais.

JPO: Na I Conferência de Mulheres da Apeoesp e na convenção da Chapa 2 as/os companheiras/os da corrente “Pela Base” lutaram pelo direito ao aborto livre, legal, seguro e gratuito. Por que este programa se expressa apenas nos materiais desta corrente numa categoria onde mais de 70% são mulheres, e a própria Chapa 2 votou contra esse direito democrático histórico da esquerda?

Rita: Por um lado porque a direção majoritária do sindicato, a chapa 1, nunca foi consequente com a luta pelos diretos democráticos das mulheres e o combate à ideologia burguesa que defende que nosso destino é a maternidade e por isso somos proibidas de exercer livremente nossa sexualidade. No dia internacional da mulher, os materiais da Apeoesp exaltavam um "lado feminino" legitimando essa ideologia, enfraquencendo a organização das professoras para lutarmos por nossos direitos. E como Dilma se colocou de maneira reacionária diante do tema do aborto, é mais um motivo para se calarem, já que defendem com unhas e dentes o governo federal. Ou seja, a CUT-PT/CTB-PCdoB abandonaram a bandeira do direito ao aborto em nome de manter seu governo e as relações espúrias com a burguesia e os setores reacionários e religiosos. Um escândalo, já que uma professora (Bebel) preside a Apeoesp e é candidata à reeleição. E por outro lado as correntes da Chapa 2, principalmente o PSTU, preferiram se abster desse combate democrático com o pretexto de não perder votos d@s professores que hesitam ou não defendem o direito ao aborto, o que significa na prática aceitar sem qualquer oposição classista e combativa a política do governo de transformar todos os direitos democráticos em tabus que não podem ser debatidos. Não esqueçamos que Dilma, o PT e o PCdoB se ajoelharam diante das igrejas e dos reacionários para não perderem votos na última eleição. Travamos uma enorme luta dentro da Oposição, sobretudo com o PSTU, pois os setores combativos e a esquerda não podem ser oposição combativa e classista sem estar na linha de frente da luta pelos direitos democráticos das mulheres e no combate contra toda opressão.

Marcio: Temos que nos unir na luta contra a opressão às mulheres. Está na hora de aprofundarmos este debate nas escolas e combatermos a interferência da Igreja em nossas vidas e na educação. Por isso lutamos por uma educação laica! Pela revogação do Acordo Brasil-Vaticano que aprova o ensino religoso nas escolas! Anticoncepcionais e contraceptivos gratuitos e de qualidade! Aborto legal, livre, seguro e gratuito! Educação sexual nas escolas sob controle as organizações de professores e estudantes, sindicatos e especialistas!

JPO: Qual a opinião da corrente “Pela Base” sobre as greves de policiais? E sobre a polícia nas escolas?

Márcio: Em nossa opinião os policiais não são trabalhadores, uma vez que são instrumento da coerção e repressão estatal para manter a ordem social, isto é, a propriedade privada, a exploração capitalista e a dominação de uma classe parasitária contra os trabalhadores e o povo pobre. O seu papel é a defesa do Estado burguês, ao contrário de nós, professores, que temos como instrumento de trabalho os livros e gizes para educar os filhos da classe trabalhadora na ideia historicamente progressista de acabar com a sociedade de classes. A função social da polícia e dos organismos de repressão é subjugar, oprimir e reprimir os trabalhadores, a juventude trabalhadora e os pobres para que continuem disciplinados e passivos diante da exploração da classe dominante. Por isso, ao contrário dos reformistas e mesmo das correntes de esquerda não apoiamos a greve da polícia e somos completamente contra a presença da mesma na escola. Somos professores classistas e revolucionários que atuam para formar gerações progressistas e preparadas para transformar radicalmente essa sociedade, portanto não podemos reproduzir as ideias nem se submeter às instituições do Estado que deve ser combatido. O modelo de escola em que trabalhamos parecem escolas-prisões, mas é um espaço no qual deveria primar um ambiente de liberdade para que professores, alunos e a comunidade possam desenvolver todas as potencialidades do processo de ensino-aprendizagem, atividades culturais, políticas e sociais. Escola é lugar de educação, conhecimento, política, cultura e arte, ou seja, liberação e não repressão!

JPO: Como vocês pensam em seguir estas discussões após as eleições?

Rita: Nós somos militantes da LER-QI e organizamos uma corrente chamada Professores Pela Base, junto com professores independentes. Nos organizamos com trabalhadores metroviários, da USP, da Sabesp, terceirizadas da limpeza, entre outros, construindo uma corrente classista e combativa que lute pela independência política dos trabalhadores. Nossa participação nestas eleições é também para forjarmos uma ala de professores que lute para além de suas demandas sindicais, que perceba a necessidade de não se organizar apenas nos sindicatos lutando contra a burocracia sindical e pelas suas justas reivindicações, mas de se organizar politicamente ao lado dos trabalhadores de outras categorias e da juventude lutando pela efetivação dos terceirizados, pela educação pública de qualidade para toda a classe trabalhadora, pelos direitos democráticos dos oprimidos e explorados e contra a dominação capitalista parasitária. Consideramos que as eleições são um importante espaço de debate na categoria, e por isso queremos ser parte deste processo para levar nossas idéias ao máximo de professores e abrir todos os debates na esquerda, algo necessário para fortalecer a nossa categoria e dar passos para construir uma corrente sindical-política classista, combativa e revolucionária, pois os governos, com a ajuda dos burocratas sindicais, como temos visto na Europa preparam ataques para que os trabalhadores paguem pela crise econômica enquanto os capitalistas preservam ou aumentam seus lucros.

Artigos relacionados: Movimento Operário









  • Não há comentários para este artigo