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Nacional

BRASILIA

Na rota da revolta do vinagre, Brasília vive um dia histórico

12 Jun 2013   |   comentários

Texto escrito no di a18 de junho

Brasília integrou-se às massivas manifestações nacionais e viveu sua segunda-feira histórica.

Neste caso, a mesma imprensa reacionária local, que bateu de frente contra as manifestações no dia do jogo da Copa (Brasil-Japão), dias atrás, foi a mesma que não pôde se furtar de noticiar os eventos históricos de ontem à noite, na terceira manifestação em poucos dias, agora com mais de 12 mil manifestantes marchando para o congresso nacional e finalmente ocupando o gramado em frente, a entrada principal e a “laje” das duas cúpulas do poder legislativo, aqui em Brasília. Segundo esta imprensa local:

“Símbolo do Poder Legislativo, o Congresso Nacional teve a plataforma superior, onde estão as cúpulas da Câmara e do Senado, invadida por manifestantes às 19h20 de ontem, no dia mais tenso dos protestos na capital federal, e que se alastraram por todo o país”. (...) “O repertório dos "homenageados" pelo protesto era imenso. Sobrou para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para a presidente Dilma Rousseff. O atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) — que no início do ano enfrentou protestos para que renunciasse ao cargo —, foi xingado, bem como seu antecessor, José Sarney (PMDB-AP). Os jovens exigiram a saída dos deputados mensaleiros e a renúncia do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Marcos Feliciano (PSC-SP). (Gritavam) `Voto secreto não, eu quero ver a cara do ladrão´. Também eram contra a PEC 37, que tira o poder do Ministério Público de fazer investigações”.

A partir daí os lugares comuns da mídia e da polícia, andam de mãos dadas: minimizar a ação truculenta da polícia, adulterar para menos o número de manifestantes, achar “vândalos” em cada sombra que se move, além da patética tentativa de reduzir essa revolta nacional de mais de 300 mil brasileiros a um protesto “cívico”. O governador do DF, um profissional do oportunismo político – além de corrupto – chegou a falar em movimento comprado, como se uma vaia de mais de 20 mil contra Dilma pudesse ser comprada (aliás, comprar mandatos, esta sim é uma operação que é regra entre os políticos que a multidão revoltada quer precisamente ver fora do poder).

De toda forma, a verdade de ontem é que não há precedentes para essa manifestação.
Evidentemente já ocorreram marchas maiores em Brasília e certamente grupos de centenas já invadiram o congresso nacional (MLST em 2006, índios há poucas semanas, para citar alguns exemplos). Mas o de ontem não se viu antes por aqui: a ocupação das cúpulas do congresso, por parte de fileiras de centenas e centenas, na condição de fração mais avançada de uma marcha de 12 mil que clamavam contra as instituições da burguesia. Além da ocupação da entrada principal e do gramado em frente e da satisfação estampada em cada face por ocupar um dos centros do poder nacional corrupto e de classe.

E, ao lado disso, o pavor de Dilma ali ao lado que, enquanto a juventude ocupava o telhado do congresso (ali pelas 19 horas da noite), tratou de fugir do palácio do Planalto e chamar diretamente o exército para defender o centro do poder executivo; o próprio governador, quando o presidente em exercício da Câmara apelou a ele por mais efetivos policiais no congresso, respondeu reforçando a polícia do ... palácio do Planalto. Toda uma tentativa de dissuadir uma parte da multidão que ameaçava invadir o palácio da Dilma, o que criaria um embaraço ainda mais profundo para o governo. Tem razão um jovem professor de história do segundo grau que ontem declarou eufórico diante do congresso nacional tomado por cidadãos comuns: "É a primeira vez que fazemos isso, tomar o Congresso Nacional".

De nada adiantou, por outro lado, que a contumaz turma do “deixa disso”, na figura dos três senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Paulo Paim (PT-RS) e Inácio Arruda (PCdoB-CE) tentassem dissuadir os manifestantes: foram vaiados como todos os demais políticos e se recolheram à sua insignificância – diante da multidão revoltada -, e saíram resmungando que o movimento não tinha líderes disponíveis para o diálogo.

Nesta quinta-feira às 17 horas está prometida outra marcha em meio a um quadro político onde o governo não encontra um discurso comum para além da postura perplexa e defensiva de todo o alto escalão que agora finalmente considera o movimento “legítimo” enquanto prepara sua polícia para continuar prendendo, provocando e reprimindo o mais elementar direito democrático na primeira oportunidade que puderem. No nosso país, o colapso da educação, saúde, transportes e infraestrutura são parte essencial de um modelo que por mais colorido que seja – pelo crédito lulo-dilmista ao consumo, por bolsa isso ou aquilo – parece estar encontrando seu limite diante de um mundo tomado pelas “primaveras” e “turquias” mundo afora.

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